Pronta para sair e começar o que planejara na minha agenda, eis que a
chuva e os relâmpagos me prendem dentro de casa. E o pior, faltou energia em
toda a cidade. Caso enfrentasse o mau tempo, nada poderia fazer com os bancos e
estabelecimentos comerciais sem o sistema. Ah, no tempo em que a caixa
registradora podia funcionar manualmente, isso não acontecia. São coisas do
progresso, tecnologia para tudo.
Sem computador e Internet, o que fazer nesta manhã inteirinha? A
cozinheira, depois das devidas tarefas do dia foi para a cozinha pilotar o
fogão. O almoço está garantido.
Minha opção foi organizar o álbum com as fotos tiradas em Paris, nesta
primeira quinzena de maio.
Verdade! Um sonho que jamais me passara pela cabeça nas últimas décadas
aconteceu. Ganhei uma viagem à Cidade Luz sem ter concorrido a nenhum prêmio.
Aconteceu graças à generosidade de um jovem parente ligado a viagens
internacionais. Um amor de pessoa!
Uma semana inteirinha para fazer turismo nesse país de primeiro mundo. De
vez em quando eu perguntava à minha mana – a inspiradora dessa viagem, avó do
nosso “patrocinador”– onde estamos? E ela respondia sorrindo: em Paris. Não lhe pedi um
beliscão de medo da dor. Mas dormia e acordava naquele enlevo: estou aqui na
Europa, hemisfério norte, cruzei a linha do Equador, atravessei o Oceano
Atlântico. Quem diria?!
Para todo o lado eu via belezas: nos edifícios artisticamente
construídos, com desenhos em alto relevo representando flores, cenas históricas
ou mitológicas, sacadas protegidas com grades de ferro primorosamente
esculpidas parecendo finas rendas. E floreiras culminando a decoração, mesmo
nos andares mais altos. Soube que os edifícios antigos continuam não tendo
elevadores, e seus moradores sobem escadas e escadas todo o dia e a qualquer
hora. Por isso são tão esbeltos e elegantes. Não vi ninguém gordo, a não ser em
grupo de turistas.
Nas ruas, árvores com flores estranhas, umas parecendo cachos de uva, mas
brancas ou vermelhas. Canteiros compondo desenhos multicoloridos, do branco ao
rosa, do azul ao roxo, e verdes, muitos verdes nas gramas bem aparadas.
Nunca pensei que a Torre Eiffel fosse tão bonita! Nosso hotel ficava
próximo, e ela nos pareceu uma vizinha extremamente simpática, mudando de tons
conforme as horas do dia. À noite era dourada e emitia raios luminosos que se
estendiam ao longe.
O Arco do Triunfo, visto a qualquer hora, dava sempre aquela impressão de
luta e de vitória consagrando o povo francês. Estivemos lá um dia depois da
celebração do 8 de maio – o fim da 2ª Guerra Mundial.
A Avenida Champs Elisée de calçadas bem largas, uma multidão andando sem
precisar acotovelar-se – havia espaço para todos. Linda de dia e de noite.
Postes de luz bem próximos uns dos outros dando uma claridade dourada. E as ruas
estreitas e tortuosas do Quartier Latin, com seus bistrôs e restaurantes
típicos, apresentando pratos de todos os países exóticos imagináveis,
Paquistão, México, Grécia... Montmartre -
lembrando os artistas, pintores, de teatro, escritores em suas mei´águas
insalubres de antes da fama. E as ruas de lojas famosas, como a Rivoli, que
nossa querida guia nos apresentava. Parece que pelo menos uma amostra de tudo
nos foi apresentado.
Versailles, os castelos, os jardins, as filas infindáveis de turistas,
mas em perfeita ordem.
Não podia faltar o Museu do Louve, é claro! Não deu para gravar os nomes
de tantos pintores cujas obras nos chamaram demais a atenção. A Virgem
amamentando o Menino, por exemplo. Um mimo! Para quem não precisa mais fazer
vestibular nem concursos para cargos, como nós, aposentadas, o bom mesmo era
sentir o clima, sem preocupações de novos conhecimentos. Mas o fato é que eu me
achava mergulhada na História e na cultura francesas. Chegava a ouvir os cascos
dos cavalos das antigas carruagens levando Maria Antonieta – para as festas ou
para o cadafalso. Parecia ver as megeras tricotando diante da guilhotina,
aplaudindo as execuções, que começaram pelos opressores do povo e terminaram
vitimando os próprios revolucionários.
Nossa missa de domingo foi na Catedral Notre Dame. Não poderia ter sido
diferente. A emoção que sentimos participando do mesmo ritual da Igreja
Católica num país tão distante do nosso! Que nos serviu de inspiração para nossa
independência, o heroísmo de Tiradentes, a promulgação de leis protegendo os
Direitos Humanos. E seu lema que deveria ser seguido por todos os povos: “Liberté,
Égalité, Fraternité.”
No avião, de volta, eu ainda perguntei à minha mana querida: De onde
estamos vindo? E ela respondeu emocionada: De Paris!...