terça-feira, 17 de setembro de 2013

PRIMAVERA CHEGANDO





Ao dobrar aquela esquina, o passante recebe em cheio o perfume das frísias do jardim.
Noutro canteiro, os pés baixinhos de azálea, de tão carregados de flores, parecem garotinhas roliças vestidas de prenda com saia de muita armação.  As flores de laranjeira da vizinha renovam nosso gostinho de estar viva.
Os pássaros cantam alegres, e a vida retoma um ritmo de festa no colorido do entardecer.
Já se pode contemplar o céu estrelado sem estremecer de frio. E a lua, que nos últimos dias não tem cessado de surpreender-nos, vem surgido com um acompanhante bem próximo. Parece uma estrela, mas dizem que é o planeta Vênus, ou Marte. Quem sabe?
Novos caminhantes ensaiam seus primeiros passos nas calçadas da vizinhança. Vultinhos, que no inverno eram  bebês envoltos em mantas,  agora já mostram seu sorriso inocente  enquanto se equilibram nas perninhas ainda bamboleantes.
Vovôs e vovós se animam a sair à rua, procurando os bancos do calçadão para uma parada e um bom papo, sem medo de resfriados.
Os jovens já podem namorar à luz das estrelas.
Para apreciar melhor esta primavera que está chegando, é só olhar os canteiros de nossas praças e avenidas cheios de flores, amores perfeitos, bocas de leão, alegrias de jardim, cravinas -  que beleza! A gente fica alegre e sente que a vida renasce, e as tristezas dão uma trégua.
Nossa cidade criou alma nova. O trânsito, o comércio, as pessoas nas ruas têm uma  energia que traz grandes esperanças. De progresso e de paz, frutos da solidariedade, de caminhar de mãos dadas, povo e seus governantes.
É preciso acreditar nos administradores da cidade. Isso está acontecendo. E acreditando, os munícipes têm gosto em colaborar para o bem comum. Respeitando as áreas públicas, os bancos das praças, as calçadas. Para que todos se sintam felizes em ser parte dessa cidade cartão postal no Portal do Pampa. Cheia de belezas e riquezas naturais que aprendemos a honrar e conservar.
Parabéns, caro prefeito Otomar, seus colaboradores, edis e voluntários, que estão mostrando que é possível mudar e levantar nossa auto estima que esteve tão abalada.

Novos tempos, nova vida. Deus seja louvado! 

sábado, 7 de setembro de 2013

EM TORNO DA MESA





Que bom viver em cidade do interior, ter tudo à mão, mais ou menos perto de pontos estratégicos, local de trabalho, escolas, Supermercados, Farmácias, Bancos e Igrejas. Não depender de enormes filas de ônibus! Outra grande vantagem: poder almoçar em casa antes do turno da tarde. Sentar à mesa com os familiares e ter aquelas conversas que só precisam de meias palavras - todos se entendem.  Melhor ainda aos domingos e feriados quando a gente pode ficar mais tempo prolongando a reunião, sem pressa de acabar. Felizmente nesses dias  é a folga da cozinheira, a louça pode esperar na pia sem prejuízos a ninguém.
Nas grandes cidades quantas famílias nem mesa têm. Cada um almoça perto de seu local de trabalho, e quando em casa servem o prato e vão sentar à frente da televisão. Cada um no seu mundo, os diálogos são raros.
Quando estudantes, nas férias as refeições da família ficavam bem animadas, cada um falando de seus estudos e das idéias de como modificar o mundo para melhor. Todos éramos a favor dos pobres e desvalidos. Uma tia se horrorizava e dizia: “Vocês são comunistas”. Não me lembro de nossas propostas, mas do guisadinho feito pela Marcina não consigo esquecer. Era picado na medida certa, muito melhor do que o fazem agora essas máquinas modernas. E que gostinho o dele, com o molho natural, da própria carne, que ela sabia fazer fritando a cebola.
Nos domingos, frango assado era o prato principal, e não sei como naquele tempo ele era suficiente para toda a família, atendendo ao gosto de cada um. Carne clara, carne escura, coxas, peito, até miúdos que eram disputados pacificamente. Eu preferia o fígado.
A salada de maionese da casa dos Dindos não tinha igual. Não descobri o segredo, mas lembro que o frango assado sobrava para o jantar. Era quando o Dindo distribuía as entradas para o cinema e pedia que fôssemos antes deles. Para guardar os lugares. Lá chegando era certo encontramos Maria, João Santos e seus filhos, amigos diletos dos tios. Vizinhos de poltronas, sempre.
No ano que passei nos Gomes –  eu ajudava a filha única deles, minha grande amiga, nos estudos – foi quando saí da minha magreza de então para vários quilos a mais. Pudera! As mulheres da família cozinhavam bem demais. Aos domingos não faltava a massa feita em casa com um molho que jamais alguém conseguiu fazer. Nem nas Casas de Massa em São Paulo encontrei semelhante.
O pai da minha amiga assinava a revista X-9, de contos policiais. Tive pilhas delas à minha disposição. Antes do almoço eu ficava lendo aqueles enredos fascinantes, dos melhores autores de ficção detetivesca da época, enquanto sentia os cheiros das gostosuras que aconteciam lá na cozinha. Até hoje salivo ao lembrá-los. E quando engravidei do meu primogênito, o único desejo que eu tive – fui uma gestante muito comportada – foram aquelas massas da Dona Alice. Mais tarde visitei essa família no Rio de Janeiro, almocei com eles, e a massa já não era feita em casa. Gostosa por causa do molho que era o mesmo, mas lembrei com saudades aquelas tiras perfeitas que elas cortavam com tanta maestria. Somente com a faca. Duvido que os “chefs” de agora consigam essa proeza.
Hoje, aposentada, tenho o luxo de permanecer à mesa enquanto minha fiel doméstica almoça – ela sempre espera que eu termine para depois servir-se- e ali conversamos sobre os assuntos do momento e as tramas das novelas.  Fico sabendo tanta coisa da vida na periferia! Como os “auxiliares de serviços gerais” sobrevivem e conseguem realizar seus sonhos mais urgentes. Famílias que se endividam e caem para sempre no SPC, mas não deixam de comemorar bodas, quinze anos, casamentos de filhos. As mocinhas parecendo top model com as jaquetinhas de couro vegetal ou napa ou coisa parecida. Mas o efeito é o mesmo. Algumas viram garotas de programa. Os rapazes caem nas drogas, fazem parte das gangues, volta e meia a polícia faz blitz por lá. É o jeito de gozar daquilo que os afortunados ganham de graça, já nasceram assim. Mas é lá, também, que se encontram as fiéis acompanhantes de idosos e de doentes, as empregadas domésticas com ótimas referências, os ovos crioulos e o leite puro de tambos bem cuidados. O  técnico sem diploma que conserta eletrodomésticos bem rápido e sem demora. É só dar o grito, e eles aparecem. Benza-os Deus.
Fico pensando na grande verdade: não é só de pão que vive o homem.  Imagino a gostosura do pão e dos peixes que Jesus comia com os apóstolos. Tendo por tempero a sua palavra, o seu olhar de amor, os gestos.
Que refeição bem gostosa foi aquela que Ele preparou para os amigos pescadores, no milagre da grande pescaria. Enquanto eles chegavam de barco às margens, Cristo assava os peixes para mitigar-lhes a fome e o cansaço. Na missa ao ouvir esse Evangelho, fico louca de fome.
Vou agora a um almoço em família – aniversário de um sobrinho querido. Desde já antegozo o prazer do churrasco e acompanhamentos, mas principalmente o reencontro com  familiares e amigos que muita coisa têm a partilhar.

Uma mesa cheia. Sem pressa de levantar. Que bom!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

AMARRANDO AS PONTAS







Passei por tantas fases na vida – bem longa, com a graça de Deus - que preciso seccioná-las para desfrutar plenamente de suas lembranças. E os reencontros com pessoas dessa ou daquela época ajudam no processo.
É verdade que o mundo gira, está sempre rodando, e nós nessa dança, agora cada vez mais frenética, precisamos apegar-nos a alguma coisa mais sólida para não cair.
Meus livros de cabeceira variavam de acordo com minha própria evolução. Li muito Cronin, nos momentos de idealismo e de fé na humanidade. O personagem de Chaves do Reino, um padre de oitenta anos morando na China na maior pobreza, foi um dos heróis mais cotados. E os médicos ingleses que o autor colocava em localidades humildes, sem grandes recursos a não ser a sua capacidade de acertar pela própria cabeça e senso de humanidade. Lembrei-me deles nos episódios de agora focando médicos cubanos vindo para o Brasil. O que pensar disso? Se me perguntarem na rua, nas pesquisas de opinião, nem sei o que dizer. Certo ou errado?  Na Inglaterra dos tempos de Cronin, os recém formados tinham de passar um tempo no interior, em localidades humildes, para depois terem o direito de ir para as cidades maiores. Assim mesmo, submetendo-se a provas teóricas e práticas e aguardando uma vaga. Era o pagamento pelo estudo em universidade pública. Mas nós somos Brasil, e aqui tudo é diferente, os ricos estudando de graça, e os mais pobres tendo de pagar instituições particulares. E os que podem mais estabelecendo-se nos melhores lugares após a formatura, com os clientes  bem colocados na vida.

Mas não era isso que eu queria falar hoje, e sim nos reencontros que acontecem quando a gente menos espera. As redes sociais – virtuais – facilitam muito. Pessoas que saíram de nosso meio para outros destinos, quantos anos se passaram, e agora reaparecem. Pois este ano de 2013, que para muitos pressagia desastres, trouxe-me uma grata surpresa: o reencontro com minha afilhadinha do coração, aquela que na sua tenra idade tive o privilégio de acolher como filha. Imprevistos nos separaram, muitas lágrimas e saudades. Foram anos e anos de procura, e a Internet ajudou e muito a encontrá-la. Agora nos correspondemos seguidamente, por enquanto de maneira virtual, mas com promessa de uma visita no próximo verão. São pedaços de minha vida que se romperam e agora conseguiram recompor-se. Não inteiramente, pois houve muitas mudanças de parte a parte, mas estou-me esforçando para amarrar as pontas que escaparam e fazer um nó bem forte para que não mais se rompam.  Confio em Deus que me ajude.