Como tudo acontece no mundo, os bailes também têm seu prazo de validade
na vida da gente. Cinco, dez anos, não mais do que isso. Depois perdem o
encanto, as músicas são outras, e as circunstâncias também.
As músicas de “meus” tempos eram os tangos, boleros, às vezes alguma
valsa. E o samba e a marchinha nos carnavais. Precisavam acertar os passos, dois p´rá cá, um
prá lá na valsa. No bolero, dois para um lado, dois para o outro. O tango era
mais complicado. Passos para a frente e para trás e uns volteios que só os bem
entendidos conseguiam acertar. Um espetáculo!
Os bailes, então, imperavam como acontecimentos muito importantes. Quando mal surgia a TV – as imagens
distorcidas, branco e preto, precisando sempre de uma correção, não
interessavam os jovens – Internet nem pensar! De mídia, só o rádio é que existia.
Portanto, as ocasiões para encontros de jovens eram raras. Para os mais
tímidos, os namoros resumiam-se em flirt (só de olhares), ao passarem um
pelo outro na rua ou em festas da igreja. Os bailes, sim, podiam aproximar os
namorados que então conversavam e se entendiam para os próximos encontros.
Muitos casamentos foram alinhavados nessas
oportunidades, e muitos casais, mesmo depois das Bodas de Prata
costumavam dançar no aniversário do Clube para lembrar...
A cidade se animava quando um baile era anunciado. Pode-se dizer que os
dançarinos viviam no antes, no agora e no depois. Primeiro, nos preparativos,
as moças providenciando vestidos, enfeites, cuidados com os cabelos, a pele, as
unhas. Os rapazes, menos complicados, precisavam escovar o terno, rever as
condições da camisa, pedir emprestada uma gravata, engraxar os sapatos, um bom
corte de cabelo e não esquecer a brilhantina para domá-lo. Ensaiar um bom
sorriso e pronto.
Clube feericamente iluminado e de portas e janelas abertas, a orquestra
lançando seus primeiros acordes, os participantes iam chegando emocionados ao
salão. Os rapazes costumavam ficar logo na entrada, e as mocinhas com seus pais
ou responsáveis geralmente iam para as mesas previamente reservadas. E o moço
tinha de atravessar o salão para convidar sua escolhida para dançar. Enlaçava o
par pela cintura, e ela colocava uma das mãos no seu ombro, enquanto com a
outra ficavam de mãos dadas. Os pés é que se mexiam, nada de gingados de
cintura e quadris como acontece hoje.
Sempre o número de rapazes era bem menor que o das moças, e o terror
dessas era fazer “crochê” a noite toda, isto é, ficar sem dançar nenhuma marca.
A noite prosseguia cheia de emoções até que a orquestra tocava a música
final, sua característica. Quem estava feliz e realizado pedia mais, e os
músicos atendiam sorrindo a seu desejo.
Dias depois, o assunto ainda era o baile. Namoros iniciados ou interrompidos,
histórias de traições - amigas que tomavam o par de outras - mas geralmente
tudo era alegria ao recordar aquela noite mágica que balançou aquelas vidinhas
pacatas e deixou muitas promessas no ar.