quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

NOSSO PRESENTE DE NATAL



Tudo começou porque um Menino nasceu numa gruta de Belém. Sem enxovalzinho, sem casa, sem teto. Só o calor de sua mãe por agasalho.
Por isso, até hoje, os cristãos parece que enlouquecem nessa época de Natal e saem a comprar e oferecer presentes, tentando resgatar o tempo perdido e todas a carências que habitam nosso mundo.
Mas cedo chegam à triste conclusão de que suas posses não chegam para alegrar tanta criança sem lar, tanto velhinho esquecido dos seus nos asilos, tanto chefe de família sem emprego!
Para muitos chega o desânimo e essa nostalgia bem própria das pessoas tristes, que só pensam em esquecer que é Natal. Para não pensar nas misérias da vida, para esquecer o que foi bom e que passou, não volta mais.
Os mais corajosos, no entanto, sacodem a poeira das lembranças incômodas e procuram promover um ambiente de paz e alegria que esteja a seu alcance. É por isso que as lojas se enchem de mães, de pais, tios, avós, amigos, buscando o presente ideal para seus queridos. É por isso que as estradas se enchem de passageiros em busca de seu destino: seus familiares que permaneceram na sua terra natal. Que emoções nos reencontros!
Dentro das casas, primeiro é o caos. Parece que vem tudo abaixo, mas é apenas o começo, a grande faxina do ano. Aos poucos, a casa vai ficando mais bonita, com os enfeites  guardados todo o  ano e agora expostos junto à árvore e aos arranjos natalinos.
A cozinha é a última peça a ficar pronta, pois de lá vão surgindo, até a última hora, pratos apetitosos para brindar a família e os amigos que confraternizam na festa mais importante do ano.
Mas os presentes, as lembranças e o carinho não são apenas para os mais chegados: cada família em condições de festejar o Natal procura obsequiar outras famílias ou pessoas que não têm a mesma sorte. E da faxina ou das lojas de liquidação vão surgindo roupas, utensílios, brinquedos para doar, acompanhados de palavras amigas, de simpatia, compreensão, estímulo.
O Natal mexe com os sentimentos das pessoas generosas.
Não é apenas materialismo que nos move nessa época. Pois em cada peça comprada vai um pouco do coração de quem a oferece.
Contradizendo os pessimistas, podemos confiar que o aniversário do Menino Jesus não perdeu seu significado. A mensagem ficou: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.”
Sinto que o Natal deste ano tem um  sentimento muito especial: a esperança em dias melhores. Parece que a gente recomeça a  confiar que o mal será punido e o bem estimulado, porque a consciência do povo foi despertada à custa de muitos sofrimentos e desilusões. Nosso presente de Natal, neste ano, é o amor temperado com a esperança.



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

HORTÊNSIAS & IDEAIS






Elas ressurgem a cada ano... pontualmente. E têm longa duração nos meses de calor. São refrescantes! É só chegar perto do canteiro de hortênsias que o frescor te invade causando uma sensação de conforto. As hortênsias servem de moldura às estradas da serra gaúcha. E nos nossos pequenos jardins são muito benvindas para extinguir os últimos traços do inverno.
Hortênsias lembram os grandes eventos da minha escola querida, a João Neves da Fontoura. Últimas provas, vésperas de formaturas, limiar de uma nova etapa que vinha coroar os esforços de anos de estudos e de sonhar com os ideais que nos motivava. Que para a turminha de colegas mais chegadas eram sempre os mesmos: educar com amor, mudar o mundo para melhor praticando o bem e a justiça. “Ser e Não Parecer” foi nosso lema na “formatura” de ginásio. Quando pensávamos já estarmos prontos para enfrentar a vida de adultos.
Na cerimônia de conclusão, um colega se entusiasmou tanto pela vitória que pediu a palavra. Coitado! Foi fácil começar o discurso, mas ele não sabia como terminar e acabou trocando o lema para “Pareçamos e não sejamos”. Foi um vexame
Lembro as hortênsias enfeitando a grande mesa do salão de eventos da escola. Passávamos por lá a caminho das assustadoras provas de finais de ano sonhando com o nosso dia de glória, cada vez mais próximo.
Hoje elas me lembram do inesquecível 18 de julho tão esperado que um dia finalmente chegou. Imortalizado num álbum de fotografias das formandas, do paraninfo Luiz Antonelli e dos professores homenageados. E relembrado por vários anos no encontro anual das colegas como cumprimento da promessa feita nos últimos dias de aulas. Quando nos perguntávamos: o que estaremos fazendo, e onde estaremos, daqui a dez anos? Como se fosse uma vida!
O mundo mudou, não é mais o mesmo. Mas, apesar de tantas transformações a que tenho de adaptar-me, sinto que meus ideais não morreram e que, na medida do possível e de minhas capacidades, consegui manter-me fiel a eles. Continuo sendo e não parecendo. E minha vida profissional e pessoal se regeu sempre pelo signo do amor.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

É HORA DE AGRADECER





A queixa tem sido geral - pelo menos entre as pessoas da minha idade: este ano está passando muito rápido. Folheando as páginas da agenda 2014, quanta coisa já vivemos! Os calores abrasantes dos meses de verão! Se continuassem por muito tempo ainda, não sei se resistiríamos. Depois, o outono. Tão certinho! Chegou na data exata com aquele ar fresquinho gostoso que dava vontade de caminhar,  agir, movimentar o corpo que ficara  bem preguiçoso nos dias de calor. Deu para usar as roupas de meia estação que estavam mofando nos armários.
O inverno com os efeitos do El Nino teve seus dias de luto. Mortes, previstas algumas, outras inesperadas, de acidentes, pessoas jovens... E idosos queridos que a gente não queria nunca que nos deixassem.
Mesmo assim, devemos agradecer pela sua passagem entre nós e a esperança de que um dia nos encontraremos de novo.
Ao mesmo tempo a vida ficou mais rica com o nascimento de novas criaturinhas que vêm alegrar nossos lares. Tanta criancinha linda e saudável, graças a Deus.
Nos campos, o gado engordando, os trigais amadurecendo, o arroz colhido. Nos Supermercados, as gôndolas repletas de produtos agrícolas. Preços subindo, mas não falta nada.
Somos sobreviventes de um ano tumultuado por crises de corrupção que irrompem onde menos se espera. A começar pelas fraudes do leite e de outros alimentos, tudo em nome do maior lucro, ainda que à custa de vidas preciosas. Bendita hora em que voltei ao meu leiteiro particular. Ali não tem erro, o produto é puro e saudável.
Superado nosso espanto com o escândalo do Mensalão – e a prisão dos colarinhos brancos – eis que denúncias escabrosas denigrem a imagem de nosso petróleo que nos deu tanta esperança na escalada de país pré-emergente. A nossa pretensa salvação econômica e social vê seu futuro ameaçado. Os bilhões surrupiados e escondidos em contas no exterior  poderiam salvar milhões da miséria, da doença, dos males sociais.
Mesmo assim, vibramos com os momentos emocionantes da Copa do Mundo. O Brasil brilhando como anfitrião. As belezas naturais encantando turistas do mundo todo. A segurança reforçada que não deixou nada a desejar. Os brasileiros mostrando sua cordialidade e filosofia de bem viver. Pena que o final foi como se um grande balão inflado ao máximo explodisse na nossa cara: quantos gols mesmo? Até me esqueci, ou melhor, varri para baixo do tapete da memória, pois ela merece melhores recordações.
Mas aqui estamos outra vez: com novas esperanças no Dunga e na querida seleção. Quem sabe na próxima Copa?
Nossos corações tiveram mais batalhas a enfrentar: as eleições. Dizer que o povo brasileiro não reage, que a juventude está alienada dos problemas sociais e políticos, que o “gigante dorme em berço esplêndido”? Que nada! Foram campanhas quentes, lances inesperados, revelações de cair o queixo. Parece que um véu caiu e deixou ver muita coisa que está por trás.
Novas graças demos pela consciência do povo brasileiro que acordou. E pretende continuar atento ao que acontece na vida pública, na distribuição da renda, na administração do bem comum. Que não torne a dormir.
Enquanto isso, os ipês floriram nos jardins, nas praças e embelezando a estrada que conduz a nossa cidade. As flores reabriram nos canteiros, os pássaros fizeram seus ninhos, e os beija-flores surgiram novamente anunciando a primavera sempre bem-vinda. E que breve se despede.
Nas praças, os jacarandás anunciam que o verão está próximo.
Cordeirinhos e bezerros povoam nossos campos. É hora de tosquiar as ovelhas.
Timidamente os sinais de Natal se insinuam. E os planos também. Com novas alegrias, pois Maria Eduarda estará conosco alegrando aqueles olhinhos curiosos com as luzes da árvore, os enfeites e figuras do Papai Noel e do Menino Jesus. Seu primeiro Natal deve ficar bem marcado em sua vidinha que ora inicia e que seja muito feliz.
Só esta expectativa já nos deixa plenamente realizados. Demos graças a Deus!



domingo, 16 de novembro de 2014

UM COBERTOR A MAIS







No relógio do celular são cinco e meia da manhã. Agora ele é o meu despertador. Acordei porque senti frio, não muito, mas aquele que pede mais uma coberta. Leve que seja.
Dominando a preguiça, fui buscá-la no baú aos pés da cama. Tão simples assim, e eu demorei a mexer-me, quando o sacrifício foi mínimo diante do benefício conquistado.
Há coisa mais gostosa do que cobrir-se quando o frio acontece? Um cobertorzinho a mais, e sente-se aquela delícia na pele e no corpo todo.
Este mês de novembro tem sido agradável, faz calor à tarde, e à noite é aquele ar fresquinho que faz a gente dormir melhor.
No Dia de Finados, uma das minhas manas telefonou-me do cemitério: “Se vieres agora, por favor, me traz um agasalho, pensei que estava quente, mas estou louca de frio.”
Apressei-me a atendê-la, e o sorriso dela quando a cobri com meu casaco foi plenamente compensador. Que coisa! Foi um pequeno milagre.
Depois que desperto, o sono não volta logo. Mas nesta manhã fresquinha, depois do cobertor a mais, fiquei pensando só coisas agradáveis e deixando-me levar pela sensação de conforto de minha cama, acompanhando os ruídos comuns da madrugada, o cacarejo das galinhas da bendita vizinha que ainda pensa em criá-las no pátio de sua casa. Uma tentação para os ladrões, mas agora eles não se contentam com pouco. Por aqui reina é o abigeato.
Quando os pensamentos se desviam para esse crime e outros piores que dominam nossos dias, acho melhor começar a rezar as orações da manhã e depois buscar dormir de novo.
Hoje é domingo. Poucos compromissos na agenda desta aposentada. Posso ficar à toa
 no computador, pois já deixei o leite ferver sem derramar, como muitas vezes deixo acontecer quando me entretenho com minhas crônicas. Coisas de “escritora”...


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

EFEITOS COLATERAIS






Ainda bem, disseram os familiares. Com a notícia de que não houvera feridos nem perda total do automóvel, todos respiraram aliviados.
Mas a vítima do roubo, quase latrocínio – pois ele estivera todo o tempo do assalto sob a mira de um revólver – ainda não se recuperara de todo. Foram momentos de muito medo que jamais esqueceria. E não foi só. Por pouco não perdera o emprego que não era lá essas coisas, mas, enfim, nesses tempos de crise foi o que conseguira até então. Mas aquela entrevista marcada para um novo, bem mais vantajoso, não pode ser realizada. Passou da hora com toda a confusão. Azar! Outro deve ter ocupado o lugar, havia uma considerável fila de candidatos.
 Mais problemas foram surgindo, além de insônias, pesadelos e tratamento para os nervos. Sem o automóvel, como poderia realizar seu trabalho atual?
A firma em que trabalhava ficava noutro município da região metropolitana, e os horários de ônibus não lhe serviam.
A solução apontada por familiares e amigos foi alugar outro carro até que o seguro lhe restituísse o seu, o que nunca vem inteiro, sempre fica abaixo do que ele tinha antes. Que fazer?
Fazendo as contas no final do episódio, a pobre vítima concluiu que estava pagando para trabalhar. Por culpa dos tais “efeitos colaterais” que na hora da ocorrência ninguém consegue avaliar.
Na vida é assim, nada pode ser previsto exatamente. Por mais meticuloso que seja o programador em sua agenda, fatos independentes de sua vontade vão acontecendo, e o roteiro tem de ser modificado.
Aquela “Azulzinha”, que flagrou o juiz infrator no trânsito, quando iria imaginar que seus próximos dias seriam tão diferentes do planejado?  Os efeitos colaterais estão batendo forte na sua rotina. O que fazer com suas contas de cada mês, mais as adicionais que sempre surgem? Vejo por mim, até o meio do mês consigo saber o que devo pagar: água, luz, telefone, internet... Da segunda metade para o fim do mês vêm as surpresas; conserto de eletrodomésticos, uma torneira que pinga, o chuveiro que queima... Nunca se sabe de onde vem o estrago, e o que a gente pensa que vai economizar lá se vai.
No caso da Azulzinha, os efeitos colaterais ganharam dimensões de tirar seu fôlego. Mexeram com os poderes da nação, ocuparam as redes sociais, deflagraram calorosas discussões sobre a justiça nacional e aqueles que são os responsáveis para que ela seja aplicada devidamente. Será que ela é cega mesmo?





terça-feira, 11 de novembro de 2014

E OS LÍRIOS SE ABRIRAM






Finados. Um dia para ficarmos tristes, cheio de lembranças de um tempo que passou, não volta mais.
Romarias de “sobreviventes” dirigem-se aos cemitérios para homenagear os seus mortos. Mais do que isso: para senti-los próximos e que a vida deles valeu a pena e deixou marcos inesquecíveis entre nós. Acode-nos uma sensação de culpa dos momentos que perdemos de estar com eles ainda em vida. Mas este mundo de hoje é tão tumultuado, e a vida passa rápido demais.
Descobri, com o avançar da idade, que os mortos queridos continuam a viver em nós, no cotidiano, nas lembranças compartilhadas em família, nos gestos que foram sua marca e que não esquecemos.
Desse modo é até possível sorrir quando os recordamos cheios de vida e animação. Descobrir que estamos, inconscientemente até, imitando suas atitudes e seguindo os conselhos tão importantes e oportunos que nos deram.
Assim, é comum acontecer-me nos hábitos diários ouvir a voz daquela tia - que foi uma perfeita dona de casa -  recomendar-me: “Estica bem os lençóis, prende as pontas debaixo do colchão, nada de deixar uma preguinha que seja, que a colcha não  é para esconder o malfeito”.
Sinto meus pais junto de mim nas alegrias e nas aflições. Bem mais nos momentos felizes. Cada gracinha da netinha e novos progressos de meu neto na escola, por exemplo, eu fico louca que eles vejam e se alegrem comigo.
Recordo o abraço carinhoso de tia Duca e seu modo meigo de acolher-me em sua casa. As sugestões tão oportunas de tia Eufrásia em momentos de crise me acalmavam e ajudavam a decidir. O olhar triste de tia Elma com saudade do filho.
O anedotário da família é relembrado alegremente a cada ocasião de reencontros. O tio nervoso que não ficava mais de cinco minutos no mesmo lugar. “Vou ver um amigo”, e lá ia ele dando voltas por toda a cidade, quando vinha visitar-nos.
Quando alguma coisa dá errado, e preciso encontrar de novo o caminho de partida, é do Dindo que me lembro. Porque, se houve personagem mais adequado para servir de inspiração a Kipling, em seu famoso poema “SE”, esse homem foi ele, que nunca desanimava com os insucessos e logo recomeçava outra empreitada. Entre outras máximas, ele deixou esta: “Não adianta chorar depois do leite derramado.”
E muito especialmente, neste dia e em todos os outros, a figura da tia Neusa se faz  sempre presente na minha casa, nos meus pensamentos e saudade, com seu companheirismo e aquele  carinho tão doce que dedicou no cuidado de meus filhos.
Vejo-a cuidando dos lírios do pequeno canteiro aqui de casa e colhendo-os todos os dias de Finados para enfeitar a última morada de seus entes queridos.

E eles reabriram mais uma vez .

sábado, 27 de setembro de 2014

OS VAIVÉNS DA MODA







Vivemos em círculos: a Terra é redonda... Decorridos tantos anos, depois de esquecidas, as modas retornam com força.  Na última semana soube que o frivolité, o tricô circular e a palha de trigo - trabalhos de artesanato do século passado - estão em alta em Caxias do Sul. Graças ao trabalho de incentivo e divulgação de uma caçapavana por lá radicada há várias décadas. Aly Chaves, reconhecida tapeceira, que já exportou seus produtos além das fronteiras do Brasil e enfeitou muitos lares locais - é hoje membro do Conselho Municipal de Cultura daquela cidade. Com grande entusiasmo ela convida senhoras aposentadas, que já largaram as agulhas e demais objetos de seu trabalho artesanal, para voltaram à ativa e exporem suas obras em shoppings e galerias, onde estão fazendo sucesso. Em visita a nossa cidade, ela deixou um convite para a Exposição de Artesanato de Origem Renascimento da Técnica – Curso e Oficina - que foi até dia trinta de setembro na Galeria da Universidade de Caxias do Sul. Sob o patrocínio da Prefeitura de lá!
O público caxiense está encantado com a exposição, e as artesãs mostram-se bem animadas a voltar a essas atividades que já consideravam sem valor.
Pois é, olhando um guardanapo de frivolité a gente fica pensando como é que mãos humanas conseguem chegar àquele efeito tão encantador, mas complicado demais para nós, leigos. Lembro a nossa última frivoliteira -  a dona Euza da Costa,  já falecida -   com sua almofada apropriada para o trabalho e aqueles instrumentos estranhos que pareciam pequenas castanholas:  o resultado era sempre maravilhoso. Ninguém, que eu saiba, herdou sua técnica. Trabalhoso demais, os tempos são outros e as atividades femininas também.
As matronas de velhas épocas faziam questão de ensinar as filhas a tecer, bordar, ocupar-se com tarefas úteis, que serviriam para os baús de enxoval, e assim não ficar à toa, pensando em coisa ruim... A preguiça é a mãe de todos os males, diziam. E as meninas, sonhando com seus príncipes encantados, iam tecendo, tecendo até eles chegarem e as levarem a novas tarefas domésticas nada românticas. Coitadinhas!
No meu tempo de moça as mulheres já trabalhavam fora do lar. Professoras, enfermeiras, bancárias, comerciárias e outras profissões. Assim, os trabalhos de costura, bordados e demais enfeites ornamentais ficavam a cargo de poucas artesãs que entendiam muito bem do assunto. A Brigilda, por exemplo, quem melhor do que ela para confeccionar os buquês e grinaldas de noiva na cidade? Eram verdadeiras obras de arte. Às vezes ela não dava conta das encomendas, ainda mais que seu temperamento era instável, hoje diríamos que ela era bipolar. Diversas vezes as noivas ficaram sem esses adereços que sempre fizeram parte do traje nupcial, e tinham de improvisar de última hora algo parecido. Porque a Brigilda se fechava em casa – sua fortaleza – e ficava dias e dias sem atender ninguém. Temperamento de gênios, o que fazer?!
Hoje nossa cidade está cheia de mulheres talentosas exibindo suas criações que encantam turistas de outras paragens. A cada dia surgem novas técnicas de artesanato que demandam cursos e exposições. De não ficar devendo a rendeiras nordestinas, bordadeiras cearenses nem outras.

A diferença do passado é que elas fazem por prazer e porque têm o dom. Mas, ao contrário de suas ancestrais, esse trabalho não é para impedir que coisas ruins ocupem os pensamentos de jovens inocentes do passado, mas para exorcizar de sua mente de mulheres esclarecidas da atualidade as imagens de uma época de violência, individualismo e desamor que imperam no mundo.  Seu propósito é dar um toque de amor aos lares, onde os diálogos são cada vez mais raros por falta de tempo, nesse ritmo vertiginoso de nossos dias. São mensagens de afeto que calam fundo no coração da gente.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

MADE IN CHINA


Na minha última temporada na praia, alguém me encomendou um chapéu Panamá que fosse dos originais. Procurei dias e dias, na beira do mar, mas os vendedores ambulantes só tinham os “made in China”. Foi quando descobri que os vestidos, saídas de banho e muitos outros produtos também eram de lá. Aos poucos, fui-me informando que as fábricas de tecidos no Brasil pertencem ao passado. Velhos tempos das fábricas Bangu e outra de que não me lembro o nome! Eram pernambucanas, e num certo verão foi aquela avalanche de tecidos de algodão, cada qual mais bonito e fresquinho, que invadiram nossas lojas. Casas Pernambucanas, Casas Buri...  Dava gosto percorrer as prateleiras e escolher dentre aquelas padronagens tão variadas  a  que melhor nos agradasse.
Os romances que eu lia então -  de Pearl Buck e A. J. Cronin - falando de uma China pobre e atrasada –  perderam sua validade. Agora aquele país nos supera na indústria e na economia. Talvez até na educação. Nossas produções são outras. Quem sabe é porque fazer fios não resolve os problemas deste momento que estamos vivendo  - a era da informática.
Vieram-me lembranças de tempos idos, quando mandar fazer um vestido para alguma data especial era um grande acontecimento. Para um baile, aniversário, casamento ou uma viagem de férias... Escolher o tecido, os enfeites, a costureira e o que era muito importante – o feitio. Lembro o primeiro vestido “made” por mim mesma, no primeiro ano de minha vida profissional, de autonomia financeira, fora da casa dos pais.
Na cidadezinha onde eu lecionava foi fácil escolher a “modista”, que era a melhor na opinião geral. O tecido, amarelo, de algodão, ondulado feito favo de mel. Não precisava passar a ferro, uma novidade Bangu. Escolhi uma renda para a pala, e o tom ficou um pouco mais escuro, mas tudo bem, nunca fui perfeccionista nesses assuntos de moda. Diversas vezes, na rua, alguém me dizia que o vestido estava ficando muito bonito. A “mídia” já funcionava... No baile não me faltaram pares. Houve um que me achou um “doce de coco” com aquele vestido. Não perguntei se ele gostava do doce. Com certeza.
Os enxovais das noivas daquela época levavam bom tempo para ficarem prontos. Um ano ou dois. Lençóis e camisolas, toalhas de chá bordados com esmero e uma gama de outros panos que já saíram de moda, como as saias de baixo e as anáguas. As peças de algodão ou de linho, tudo ou quase tudo era buscado nas Casas Pernambucanas. Quando chegou a minha vez – quase fiquei prá titia – já era diferente. Surgiu o tergal que era mais prático, e não precisava de bordados, só um enfeitezinho nas bordas e nas fronhas renda ou bordado inglês, e pronto.
Outros vestidos contaram minha história, como o de seda rosa de um longínquo primeiro do ano cheio de expectativas felizes. E aquele verde claro que prenunciava a primavera que eu sempre recebia com tanta vibração e renovada vontade de viver. Fico feliz de pensar que cumpriram sua missão.
Não tenho inveja da China. Tenho é pena dos chineses, principalmente daquelas operárias de tecelagens ganhando tão pouco e trabalhando demais. Para que seu país e os patrões enriqueçam com a concorrência de preços baixos no mercado internacional. Prefiro nossa vidinha mais folgada, com tempo para curtir o sol, as férias, os amigos. Somos alegres e livres. Um povo que sabe acolher e viver em paz, embora nossa economia deixe a desejar. Nem tudo é perfeito.
Lembro a expressão do vendedor nordestino quando a contragosto me decidi pelo chapéu “made in China”:
- O importante é ser feliz.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

ENGANOS ACONTECEM




Dona Judith era uma vizinha prestativa. Daquelas que sempre alcançavam o tantinho de sal ou de açúcar que faltara na hora do aperto na casa ao lado. Se uma bola caía no seu pátio, ela gentilmente a retornava por cima da cerca, assim como uma galinha extraviada que encontrara causando danos às suas verduras. Diferente de dona Ernestina que, de raiva, devolvia a bola furada e o pobre bicho sem vida.
Ela se interessava pela vida dos vizinhos, e quando alguém adoecia – o que ela ficava sabendo pela presença do auto de praça na frente da casa – sempre chegava para saber notícias.
É preciso esclarecer que em velhos tempos, antes do primeiro Hospital na cidade, os pacientes eram atendidos a domicílio, e era preciso alguém ir buscar o médico, tendo antes  procurado o “chauffeur” ou motorista de praça, para conduzir o doutor. Não havendo telefone particular – era só a Central – alguém tinha que ir à casa do motorista para  chamá-lo. Ainda bem que os endereços eram por demais conhecidos por todos, pois havia apenas o Seu Chico Barata, o seu João Feliciano e o seu Luciano que davam conta do recado.
Certa ocasião, Dona Judith, ao passar pela residência de seu Ataliba, notou um  auto de praça na frente, e dele desembarcando o doutor. Deixou para chegar na volta para não atrapalhar a consulta. Então ficou sabendo que o estado do vizinho não era nada bom. Pneumonia agravada por enfisema pulmonar, e o paciente não estava reagindo bem aos remédios – antes do aparecimento dos antibióticos. Então virou rotina. Todos os dias ela chegava ali para saber como ele passara a noite. As notícias não eram animadoras. Não passa de hoje, disse a empregada. Alarmada, ela aceitou o convite para entrar, desta vez, e falar com a dona da casa. Já era noite, e da sala ela podia ver a mesa da cozinha, onde a sogra do seu Ataliba estava jantando. Pelo cheiro apetitoso, devia ser uma linguiça que a idosa comia com todo o gosto. Que coisa, nesta idade e ainda janta, pensou.
No dia seguinte, a boa vizinha se assustou: na porta da frente da casa do seu Ataliba estavam aqueles estandartes anunciando a morte, como era o costume antes das Casas Funerárias. Coitado, dessa ele não escapou.
Preparada para dar os pêsames, ela entrou e foi direto ao caixão do defunto, que estava com o rosto coberto e rodeado de flores. Abraçou os familiares, procurando palavras de conforto. E como boa religiosa que era, convidou a todos para rezarem um terço pela alma daquele ente querido. A cada mistério da oração ela pedia pelo descanso eterno de seu Ataliba.  Sentia que alguém a cutucava e murmurava alguma coisa, mas ela não entendia o que era.
Terminada a oração, ela procurou a viúva, e como não a via por ali, imaginou que estivesse no quarto, talvez até de cama curtindo a grande perda. Foi procurá-la, e lá chegando levou o maior susto de sua vida: viu o seu Ataliba recostado em travesseiros, bem vivinho, tomando uma sopa fumegante que a esposa lhe dava na boca, com todo o cuidado.
Num instante fez-se luz na cabeça de dona Judith: o defunto era a sogra que ela vira na véspera jantando com tanto apetite.
Pudera! Foi a linguiça...


quinta-feira, 24 de julho de 2014

HERANÇAS PERDIDAS







Toda vez que entro na cidade de ônibus interurbano, chego a dar razão à jornalista que falou mal de Caçapava. Criticou as casas velhas, sem pintura e reparos, muitas em ruínas, e maldisse o “programa de índio” que foi aquele fim de semana que alguém lhe sugeriu que passasse aqui. Mas continuo reprovando sua atitude e considerando-a “persona non grata” em nossas paragens. Só nós é que temos o direito de falar mal de certos aspectos de nossa terra, porque, assim fazendo,  sentimos uma dor que só quem a ama pode sentir.
Se ela procurasse outros bairros, veria quanta casa bonita, jardins, monumentos, coisas de dar orgulho à gente. Mas, não. Ela ficou só na parte velha que para nós tem muita história e importantes recordações.
Entretanto, uma coisa é verdade, temos muitas propriedades que ficaram sem dono, ao desamparo, e as complicações legais não chegam a destinar-lhes os herdeiros de direito. Os processos tramitam anos e anos sem solução. Falta sempre um documento que lhes dê amparo. Os imóveis vão ruindo, e nada pode ser feito.
Dá uma tristeza passar pelo antigo Clube Recreativo, uma verdadeira chaga no centro da cidade. Por pertencer a uma sociedade, cabe aos seus sócios dar-lhes o destino. Mas eles já não existem mais. E os seus descendentes terão o direito de decisão? Seria tão mais simples se houvesse uma lei que o encampasse para o Município, desde que ali se construísse um prédio público, um teatro, biblioteca, escola, o que fosse para o bem comum.
Outros casos são de edifícios que ficaram meio construídos, e com a morte do proprietário ainda não ficou estabelecido quem são os herdeiros. Enquanto isso, ele vai ruindo, servindo de morada de animais indesejados, ratos, raposas...
Pensando nisso, lembrei um episódio de minha fase de estudante em Cachoeira do Sul. Por lá chegou certa vez um sacerdote da Região amazônica. Era um verdadeiro missionário e estava inteiramente dedicado àquele povo ribeirinho. Numa palestra na Escola João Neves ele contou como era a vida na região, os dias que levava de canoa de uma localidade a outra para dar assistência religiosa. Certos lugares eram de tão difícil acesso que os fiéis ficavam anos e anos sem a visita de um padre, e quando isso acontecia, aproveitavam a receber todos os sacramentos de uma vez só.  Numa ocasião, havia uma quantidade enorme de casais que desejavam receber o sacramento do matrimônio. O missionário preparou a cerimônia, deu atendimento material e espiritual aos nubentes e na hora foi uma festa! Mas cada casal tinha os seus padrinhos que também estavam recebendo o sacramento, e o celebrante se perdeu ao unir uns e outros. No fim, era aquela gritaria reclamando: “Padre, o senhor me casou com a minha comadre.” Ou: “Padre, ele é meu padrinho, o meu marido é o Tinoco.” O sacerdote pensou um pouco, coçou a cabeça... Como consultar as autoridades eclesiásticas àquela distância?. Mas foi só um momento, pois logo ele resolveu: mandou o acólito trazer água benta, aspergiu os casais e casou todos de novo com os respectivos cônjuges.
Gostaria de uma solução igual para os nossos casos de heranças perdidas que não levam a lugar nenhum.  

Que possamos encontrar a água benta que desfaça os enganos e coloque tudo a funcionar para o bem geral e o embelezamento de nossa cidade..

terça-feira, 22 de julho de 2014







O SONHO ACABOU


Não cheguei a colocar a bandeirinha do Brasil no meu carro. Quando fui à loja comprar, já estava esgotado o produto. Mas senti-me alegre vê-la tremulando no trânsito, com tanta gente sorridente e esperançosa. Apesar de tudo, foi bom. Há muito os brasileiros não se mostravam tão patriotas, orgulhosos das coisas boas que temos aqui. Ouvi muita gente dizendo que nosso hino é o mais bonito, e a bandeira também. Outros países falam mais em tragédias, sangue derramado, pudera, as guerras continuam por lá. Longe de nós, mas que lástima! Crianças sofrendo, inocentes pagando com a vida, e não chegam nunca a um acordo. Tudo por questão de terras e crenças religiosas. Enquanto aqui nossos pequenos entoavam nosso Hino com todo o orgulho e sua graça especial! Dava vontade de fazer-lhes um mimo bem carinhoso. A infância é para essas alegrias. E para confiar nos adultos e suas capacidades de resolver os problemas. Mas, como dizem os verdadeiros atletas, o importante é competir. Com garbo e com ética.
Nem tudo está perdido. Deu para ver que o povo brasileiro não perdeu a capacidade de empolgar-se, de sentir orgulho de suas raízes. Estamos vivos, e o patriotismo ainda existe.
Para a maioria dos turistas, esta foi a Copa mais alegre e bem realizada.Aeroportos, Segurança nas ruas e estradas, hospedagem e principalmente a simpatia do povo hospitaleiro, tudo funcionou a contento. Agradou à maioria, apesar do pessimismo de muitos. Eles aprenderam conosco que o mais importante é ser feliz, e até agora estamos recebendo o reconhecimento da Alemanha que não esqueceu de socorrer os flagelados das enchentes, bem como as crianças baianas da cidade onde se hospedaram e suas escolas. Que tiveram seus turnos integrais garantidos por um ano. Gosto de pensar apenas nesse lado positivo que dá um novo ânimo na gente. Esquecer por ora as páginas policiais e os escândalos da política.

iHin HHHHHHiHino era o mais bonito9 do mundo, e a bandeira também.

Mas agora vem outro capítulo que nos merece toda a atenção. Em quem votar nas próximas eleições?

sábado, 3 de maio de 2014

O MUNDO É OUTRO



Numa coisa todos com quem tenho falado ultimamente concordam: o tempo está passando ligeiro demais. Não é possível assimilar tudo o que acontece, nem dar conta dos itens da agenda de cada dia. Ficamos sempre frustrados, com aquela sensação de não ter feito nada, ou quase nada.
Enquanto isso, os canais modernos de comunicação estão expedindo notícias a toda hora e para todos os lugares. Novas descobertas – tanto de soluções para os males como o aparecimento de novas doenças incuráveis. Novos crimes valendo-se das tecnologias modernas, os bandidos sempre descobrindo os mecanismos antes da polícia. Guerras intermináveis no Oriente, cada vez mais cruéis, se é possível, e agora nas ruas das grandes cidades nossas.
Lembro a primeira notícia, ao vivo, que tive do computador. Era um mundo de aparelhos que ocupavam uma sala inteira de bom tamanho. Complicadíssimo de lidar. Na época eu estava na Secretaria de Educação do Estado e fui mandada para um curso, lá dentro mesmo, sobre o tema. O instrutor tinha vindo dos Estados Unidos. O que ele explicou, mesmo que tivesse sido em português, eu não poderia ter entendido, nem os meus colegas de aula. E agora, após vários anos de uso dessa tecnologia, não estou nem na terça parte de seus segredos. O pior é que surgem novidades a todo o instante, maneiras diferentes de acesso e outros aplicativos, impossível de acompanhar.
Nesta vertigem do mundo atual, um acontecimento surpreendente: ganhei uma netinha, tão fofa, rosada e rodeada de amor! A vida recomeça, a vovó precisa reciclar-se para saber lidar come ela. O enxoval apresentou novidades nas peças, não mais os manguitos nem as tiras de umbigo, as fraldas laváveis e os cueiros, agora tudo é mais prático. Nada de chupetas, só o leite materno e o calor da mãe, do pai, o seu colo, as atenções de toda a hora, mantendo-a limpinha e aquecida. Tive a glória de acalmar o seu choro, foi só falar mansinho e embalá-la com todo o mimo. Ela me entendeu.
Voltei às agulhas de tricô, agora preciso reaprender a tecer roupinhas de nenê. Tudo é possível, a Internet ficou em segundo plano.
Que bom! Nem tudo mudou, o amor ainda é o melhor canal de comunicação. Deus a abençoe, e a Virgem proteja sues passos. Amém.




domingo, 6 de abril de 2014

FORA DOS EIXOS





Há quem se queixe da rotina. Eu, não. Estabelecer uma programação, realizar as tarefas e poder aperfeiçoá-las pouco a pouco, modificando o que precisa, inovando em alguma coisa para ficar melhor, isso eu entendo. Mas o que muda de repente, sem uma continuidade -  assim como os governos da era atual -  nada tem de positivo. Cada governante que sobe desmancha o que o outro realizou, e assim vai.
Lembro-me dos tempos de estudante, de nosso patriotismo, dos ideais... Quando a gente sonhava com a vinda da estrada de ferro para nossa cidade. Mas já então a desculpa dos governos é que tínhamos muitas serras, seria por demais oneroso. A mesma desculpa para pagarem mal os professores ainda hoje. Somos milhares... E as rodovias chegaram de todos os lados, uma bênção, mas também quantos malefícios, tragédias, estradas precisando constantemente de reparos que não chegam. Cargas pesadas demais que poderiam ir de trem ou de barco e estão acabando com o asfalto.
No meu tempo de estudante,  o orfeão da escola - uma obra de arte da regente Diná Néri, discípula que foi de Vila Lobos - tinha renome, e éramos convidados para cantar em eventos escolares de todo o Estado. Porto Alegre, Uruguaiana, e até Paso de Los Libres, Itaqui, Santa Cruz, Alegrete, Santa Maria e outras. Nossas vozes juvenis cantavam as belezas e riquezas do Brasil, o melhor país do mundo, com a bandeira mais linda e o povo mais feliz. Era o que sentíamos. “Estás vendo aquela enorme cordilheira,/ muito além da Mantiqueira, é Brasil./ Estás vendo aquele ninho de gigantes,/ esses campos verdejantes, é Brasil. /Tem o ouro, tem petróleo, carbonatos, diamantes,/ e tem rios caudalosos e cascatas deslumbrantes,/ tem o ferro, tem cristal, tem madeira tem carvão/ e tudo isso é teu, bandeirante do sertão. Nossos corações pulsavam de orgulho e de esperança.
Hoje, parece que o mundo perdeu o seu eixo. Muita gente está solta sem saber onde apegar-se. Ouvindo certo dia dois jovens conversando sobre política e economia, condenando a tudo e a todos os envolvidos na gerência do país, caí na tentação de perguntar-lhes: E vocês, o que vão fazer para consertar os erros e acertar o rumo? Os coitadinhos se olharam, encabulados, e não souberam o que responder.
Por isso eu continuo acreditando, a rotina é necessária, é um ponto de partida para maiores vôos. Se nas férias escolares, por exemplo, seguissem a rotina de restaurar as salas de aula para no retorno do ano letivo estarem em dia, não seria uma bênção? E se aproveitassem para nomear os professores aprovados em concursos nessa época? Como nos tempos idos, quando não faltava professor.
Dói ver continuamente nos noticiários o estado em que se encontram as escolas do país. São péssimas as condições onde as crianças e jovens deveriam estar recebendo o melhor preparo para a vida moderna, dotada que é de tecnologia de ponta, mas cujos computadores doados aos educandários não resistem às goteiras dos telhados.

O mundo continua girando sem fuso.  E as pessoas se agrupam de acordo com suas expectativas, ou melhor, com seus anseios de melhor qualidade de vida. Os jovens nas baladas, os adultos no trabalho ou à procura dele, os idosos em visitas de solidariedade e conforto, e os criminosos... Esses é que têm o melhor preparo e eficácia. Mas o crime não compensa. Foi o que aprendi e ainda acredito. Tal como nos filmes de água doce, o amor há de vencer e só ele poderá endireitar o mundo. Amém.

sexta-feira, 28 de março de 2014

FUMAÇAS E LEMBRANÇAS







Quando um grupo de jovens me observa com peninha da pobre idosa, rio por dentro porque eu é que fico com peninha deles. “Pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei...”  Vou lembrando quanta coisa vivi, e eles não chegaram a experimentar. Uma viagem de trem “Maria Fumaça”, por exemplo. Era uma aventura! Cheia de peripécias, desconfortos, mas também com muitas surpresas agradáveis, principalmente para os jovens daquela época que podiam conhecer pessoas e até iniciar um romance de amor nas longas horas da travessia. Tudo podia acontecer, até extraviar a bagagem, mas era  bom poder caminhar pelos vagões, almoçar no carro restaurante – quando o dinheiro chegava – comprar revistas e refrigerantes dos funcionários que transitavam pelos corredores.
De Cachoeira do Sul - um dos destinos para os estudantes do segundo grau de Caçapava - até Porto Alegre, eram sete horas de marcha batida, isso se não houvesse algum impedimento. E a fumaça ia entrando pelas janelas e colando-se às nossas roupas. As chegadas às estações desembarcando ou embarcando passageiros, recolocando a água que faltava ou o combustível para a locomotiva... A gente sabia de cor o nome de cada uma, e se não soubesse um funcionário passava de vagão em vagão anunciando.
Mas para a nossa tia que morava em Porto Alegre e veraneava com nossos Dindos em Cachoeira, a viagem de volta não tinha nada de fácil. Fim de verão, fim de férias de estudantes que voltavam a Porto Alegre – era só onde havia Universidades naquela época – os trens chegavam de Santa Maria lotados, e os passageiros do caminho tinham de viajar de pé. Titia que tinha dificuldade de locomoção e bastante idade não podia correr esse risco.
Seu filho vinha buscá-la – ele era ferroviário e tinha passe livre nas suas férias – e ela já o esperava pronta, malas de muita roupa, valises com remédios e frasqueiras cheias de cosméticos, pois era bem vaidosa – enfim, uma bagagem de muito peso!
Nós, as jovens da casa, éramos convocadas para ajudar a carregar os embrulhos até a caminhonete do tio e de desembarcá-los na estação ferroviária.
 Por duas vezes, em que o movimento de passageiros foi muito intenso, o trem  vindo de Santa Maria já chegou superlotado.  Foi só o trabalho de levar a pobre passageira e o filho até a gare, cheios de bagagens, e dar volta para casa. Nossa tia ia murchando, ficando deprimida, pois sempre no final das estadias ela se desentendia com alguém da casa e ficava desconfiada. Chegava bem alegre e tinha a mania de gracejar com uma ou outra das pessoas, geralmente as empregadas, e no final sentia que as incomodara.
A tia que a recebera com carinho e atenções um mês atrás também ia ficando irritada. A rotina se alterava naqueles dias, o almoço tinha de ser servido mais cedo, havia tralhas fora do lugar, e ela não gostava dessa desordem.
Depois dessa tentativa fracassada de embarque, a família se reuniu para deliberar. E a solução encontrada foi que o filho ferroviário fosse até Santa Maria no outro dia e de lá viesse com o lugar já marcado.
Chegando a hora, todos a postos para as devidas funções, chegamos à gare e ficamos à espera do trem. Ele até que não atrasou, e sua permanência na estação, conforme estávamos cansados de saber,  era de apenas três minutos. Dessa vez ele veio com acréscimo de vagões, e os destinados à primeira classe, os da frente, avançaram bastante além da plataforma. Uma nova dificuldade para nossa tia, que teria de dar um passo largo para subir as escadinhas. Tudo bem, a gente dava um jeito. O imprevisto foi que o filho guardador do lugar não aparecia nunca, e os minutos corriam depressa. O trem já dava seu apito de despedia, e nada de aparecer o rapaz. Nossa tensão foi subindo assustadoramente. A tia de Cachoeira não se conteve e começou a gritar em altos brados: Gustavo! Nós, jovens, loucas de vergonha daquela cena! Eis que no último minuto ele aparece numa das janelas de um vagão com os cabelos revoltos de quem se acordara de um belo sono. Os momentos seguintes nem sei como descrever. Todo o mundo corria, ajudava a passageira a embarcar no último vagão – a coitada teria de caminhar bastante até o seu destino – e colocava sua pesada bagagem dentro do trem. Foi uma luta, mas tivemos a satisfação da vitória.
Até que tivéssemos notícias daquela movimentada viagem, e da saúde delicada da tia, passaram-se muitos dias. Telefone era coisa rara, e o Correio, a única via de comunicação possível, andava a passos lerdos. De trem...
Dizer que não invejo os jovens de hoje? Mentira. Claro que gostaria de sentir agora o que eles sentem, esse arroubo nos amores, atirar-se de corpo e alma às novas emoções, sem medir as consequências. O coração envelhece, mas ainda


segunda-feira, 17 de março de 2014

ERRATA

A última frase do texto ficou incompleta. Aqui vai ela, com minhas desculpas:

Até que os casos ficassem resolvidos, nossas sestinhas já eram...

TRAPALHADAS DE DOMINGO







Domingo é dia de ficar só. Não preciso pôr a mesa para o café da manhã. Uso os guardanapos de um joguinho americano, aquento o leite no  microondas, pouca louça para lavar. Depois das arrumações básicas, da casa e pessoais, é tempo de procurar as amigas para o almoço em restaurante. Todas sozinhas como eu. Sem queixumes, pelo contrário, com muita novidade interessante para compartilhar.
Num desses domingos, acabei de fechar janelas e a porta da cozinha, quando a campainha tocou. Fiquei feliz, era uma vizinha me trazendo terra boa para os meus canteiros. Para deixar o saco na garagem,  para lá seguimos em alegre conversa, não sem antes eu ter batido a porta, que não abre por fora sem a chave.
Depois que nos despedimos no portão, é que me dei conta: não pude mais entrar na minha casa. Procurei forçar as janelas, mas qual, nem com o auxílio do rapaz filho da vizinha que veio em meu socorro. A porta da cozinha, nem pensar, além da fechadura comum, ainda tem a de segurança. A garagem estava aberta, e o carro também, mas e as chaves? Os telefones trancados lá dentro, foi um pesadelo. E a minha casa uma fortaleza!
Foram passando vizinhas, e eu pedi o telefone de uma delas. Depois de várias tentativas, acessei minha mana mais caseira que me atendeu logo. Até uma visita que eu teria recebido – uma ex-aluna de passagem pela cidade, que desejava muito me rever – tive de atender do lado de fora.
Enquanto isso, minha mana só não chamou os bombeiros e a Brigada Militar, como costuma fazer quando desconfia de ladrão no pátio ou de um enxame de abelhas ameaçando de cima de uma de suas árvores. Ela já foi picada e criou uma fobia! Pois bem, graças a seus telefonemas, em pouco mais de meia hora surgiram três carros da família em meu socorro. E um deles me levou até minha empregada doméstica que tinha a chave reserva.
Cheguei atrasada  para buscar minha amiga, mas as outras já se encontravam no restaurante à nossa espera. Verdade que o Buffet àquelas alturas estava meio desfalcado e um tanto frio. Lembramos o escritor Carpinejar que se queixou disso em uma de nossas churrascarias. Ficou sendo persona non grata em nossa cidade. Ele e o Gourmet, mas este foi por outro motivo. Somos bairristas!
Em todo o caso, tive momentos felizes com as companheiras rindo do episódio. Depois de deixar minha amiga em casa, chegou a hora da agradável sestinha das  quietas tardes de domingo. Mas durou pouco. Por incrível que pareça, foi a vez dela ficar sem a chave. No momento de pagar a conta do almoço, ela a esqueceu no balcão do restaurante. Coitada, naquela tarde mormacenta teve de caminhar boas quadras até um telefone para pedir socorro.
Fomos a um chaveiro, porque o restaurante já havia fechado, eram quase três da tarde.
Até que os casos ficassem resolvidos, nossas 

domingo, 9 de março de 2014

VOLTANDO À ROTINA







Ainda não organizei as fotos das comemorações de fim de ano e das temporadas nas praias  - tive de mar e de lagoa desta vez - e as aulas já estão recomeçando. Março chegando ao meio. Como sempre, governo após governo, promessas de candidatos esquecidas, as escolas fechadas nos meses de verão continuam sem os devidos reparos. Às vésperas do reinício do ano letivo é que as licitações para as obras necessárias vão sair do papel. E as verbas demoram ainda mais. Que lástima!
Muita coisa já aconteceu até agora! Manifestações de rua, greve nos transportes urbanos e o calorão que deixará marcas na vida da gente. Nunca houve outro verão como este. Pelo menos que alguém ainda vivo tenha experimentado. Dizem que a sensação térmica para nós é mais exagerada por causa das falhas da camada de ozônio. Quem visita os estados centrais ou do nordeste, por exemplo, sente menos o impacto do calor do que aqui.  É o tal mormaço...
            Felizmente o outono já está dando as caras. Um ar fresquinho, céu de um azul bem limpo depois de breves chuvas despedindo-se do verão. É gostoso caminhar num clima assim, o corpo fica mais leve, aquela dorzinha nas costas ou nas pernas diminui ou desaparece. Bom para os aposentados sobreviventes!
            Agora começam as preocupações com os compromissos, IPTU, IPVA, férias de nossas domésticas, prestações de presentes do Natal, que coisa! E o Leão vem aí. Sair à cata de comprovantes de despesas, onde mesmo ficaram? As férias no intervalo fazem a gente esquecer os guardados. Será que foi nesta pasta? Ou naquela gaveta?
            Muitas novidades nos esperam, gente miúda chegando aos novos lares, e as vovós tentando tricotar umas roupinhas para os enxovais. Será que terminam a tempo? Pois não é como antigamente, agora elas se ocupam demais com os notebooks, as redes sociais, as mensagens.
Fico imaginando como será o próximo Natal. Um bebê sorridente e sapeca roubando a cena, e nós todos, pais, avós e tios curtindo encantados! Que bom ter o que esperar. E que seja o melhor possível, sadia, alegre, feliz e muito amorosa a nossa Maria Eduarda. Para melhorar este mundo e refazer nossas esperanças de paz e muito amor para dar e receber.

Enquanto isso, lembrando o calorão que sofremos, a imagem que me marcou foi esta que coloco aqui: eu todinha mergulhada na Lagoa dos Patos, só céu e água. Que gostoso que foi!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

CACOETES E MANIAS

Quando descrevemos o perfil de uma pessoa, nem sempre nosso interlocutor acerta quem seja. Mas se lembramos um cacoete ou mania que ela tem, aí sim, dá o estalo “Ah, já sei quem é: aquele que está sempre assobiando... Ou, aquela senhora que costuma devolver as compras ou trocá-las por outras todas as vezes. Pois é, ao longo da vida a gente vai adquirindo hábitos, manias e cacoetes que vão formar depois o anedotário da família e da comunidade..
Em nossos encontros de irmãs, seguidamente ficamos lembrando as pessoas que já fizeram parte de nossas vidas e que nos acompanham na saudade e em recordações felizes. Seu jeito especial, suas manias, a maneira como souberam conduzir suas vidas. Agora é que compreendemos melhor seus verdadeiros propósitos...
As amigas de nossas mães e tias muitas vezes assistiam juntas às novelas radiofônicas da época anterior à televisão. E nas emoções das cenas elas se embalavam de um lado para o outro, ou para a frente e para trás, como se estivessem numa cadeira de balanço, outras sacudindo o pé, e nem se davam conta. Nós, as meninas é que notávamos o cacoete.
Hoje é a nossa vez de sermos flagradas pelos mais novos. E por nós mesmas, até. Outro dia chamávamos a atenção de uma de nossas manas. Por que tapas a boca com a mão quando falas?  Isso fazia nossa avó quando ria. É que ela não tinha dentes, coitadinha. Não é o teu caso.
Também tenho meus cacoetes ou manias, é claro. Quando alguém me diz “Vamos a tal parte”, eu corro para o banheiro e depois vou tomar água ou vice-versa. Não saio antes disso. Freud explicaria: nossa mãe nos ensinava que assim procedesse antes de sair de casa para não incomodar nas casas alheias. Ficou a mania que não tenho certeza se transmiti aos meus filhos. Meninos se despacham com mais facilidade, é claro.
Uma tia, antes de sair à rua, corria ao banheiro e segurava as calcinhas com muitas seguranças. Medo que o elástico rompesse... O que aconteceu com dona Mimosa, em plena Rua da Praia!
Muitas vezes estou na rua, na igreja, no Banco ou Supermercado e sinto um aperto no braço. Podem saber: é aquela senhora que regula comigo de idade contando uma nova façanha dos seus pimpolhos, filhos ou netos. Aprovação em vestibular, bolsa de estudos no exterior, mestrados ou doutorados, uma vitória merecida, com certeza. Mas nesses momentos eu fico presa, parecem garras me contendo, não posso fazer mais nada. Certo dia eu tinha pressa, e minha salvação é que chegou mais alguém e ela mudou o foco da atenção.







A idade vai chegando e eu adquirindo outras manias. Só há pouco me decidi a colocar cabides atrás da porta do banheiro. Lembranças da infância, quando minha tia da casa bonita nos ralhava por acumular roupas penduradas, em vez de guardá-las nos roupeiros. Preguiça de adolescentes...
A mana Duty herdou outras manias suas, foi a que teve a maior convivência com ela. Por exemplo: gabar o preço ou a qualidade de uma mercadoria, pois ela sabia escolher e gostava do barato, mas que fosse bem bom. Pois hoje eu vou à procura da boa compra anunciada pela mana, e o preço nunca é o mesmo que ela gravou, sempre é maior. Como no caso do peru de Natal. Nossa tia chegou em casa dizendo que encontrara um vendedor com um peru deste tamanhão – ela mostrava abrindo os braços – e por tal preço. O vendedor estava ali, dobrando a esquina. Nossa mãe perguntou: E tu viste o peru? E a tia, encabulada, disse que não.
Seguindo nosso anedotário, quando alguém conta alguma vantagem de negócio, a gente pergunta: “ Tu viste o peru?”
Uma conhecida nossa costuma fazer compras no Supermercado sempre falando com alguém das proximidades. Quando muda de corredor, ou a pessoa é que muda, ela segue no mesmo assunto, mas a pessoa já é outra. Ninguém fica sabendo do fim da conversa, ou do princípio.
São coisas que a gente vai conhecendo ao longo dos dias, e esses cacoetes e manias nos fazem querer com mais afeto as pessoas que os têm. São intimidades só permitidas a quem lhes fica bem próxima no espaço físico e no coração..



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ERRATA: no texto acima, em vez de ler “compactuar”, leia-se “compactar” . Mil desculpas.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

ROSQUINHAS NO PESCOÇO

Há tantas lembranças perdidas, e se assim não fosse, o que seria de nosso cérebro? Até os computadores rejeitam conteúdos demais. Agora mesmo, meu micro avisa que vai compactuar as matérias recebidas. Não cabem...
Pois um dia dei para lembrar das rosquinhas no pescoço. Que não se vêem hoje em dia, e ninguém fala nelas. Minto, um dia destes alguém falou. Isso depois que eu fiquei pensando nelas dias atrás. Acontece muito comigo. Passo tempos sem saber notícias de alguém, e é só pensar nessa pessoa que dentro de vinte e quatro horas alguma notícia vai surgir. Ou ela mesma reaparece depois de um prolongado sumiço.






Foi assim com as rosquinhas no pescoço.
Minha infância sem televisão, computador, celular ou rádio de pilha, teve muito pátio para brincar. Nas tardes quentes a gente se entretinha debaixo de uma árvore com o que houvesse ao redor. Fazíamos comidinha de comadre para as bonecas, que eram enfeitadas com colares fabricados por nós com as flores à mão. Geralmente eram as “maravilhas”, de diversas cores, pois tinham um formato especial para encaixar. Pretendo semeá-las nos meus canteiros.
No fim de uma tarde naquele cenário rústico – os terrenos não eram cimentados – a sujeira da terra ficava impregnada em nossos corpos suados. Mãos, pés, rosto, o corpo todo assimilando aqueles grãos de terra, o banho da tarde era uma necessidade de que nenhuma criança podia fugir. Os mais rebeldes molhavam a cabeça e diziam que estavam limpos, mas a mãe examinava o pescoço e descobria as temidas rosquinhas. Até um algodão embebido em álcool elas passavam para as danadinhas sumirem. O pescoço acabava ficando vermelho. Era o jeito!

Hoje as crianças se entretêm desde cedo com o computador. Não suam e vão limpinhas para o banho do fim do dia. Mais do que conveniente agora -  só por causa do calorão, senão ... Bonecas e carrinhos ficaram de lado, os jogos virtuais são mais atraentes e demandam menos energia. Para conversar com elas é muito difícil, estão sempre on-line, não nos dão atenção. Seu mundo é outro, e elas estão-se criando sem as experiências de outrora, sem as histórias e anedotários da família, sem os diálogos entre irmãos, primos, pais e mães. Será que evoluíram?

domingo, 19 de janeiro de 2014

Á ESPERA DA CARONA






Ver-se livre dos incômodos do ônibus – que até nem são tantos. As paradas que não são as nossas preferidas, os horários, os lugares nem sempre à janela - receber uma carona é uma graça. Ainda mais de um motorista tão correto e pontual que até os vôos internacionais o respeitam. Pois é, essa rica criatura nos levou a Paris, e as viagens saíram todas no horário, não houve extravio de malas, nem outros transtornos.
Pois é, mas há caronas que abalam nossos nervos. Dizem que vamos sair às oito, a gente contata com o parente lá do destino combinando encontrá-lo no almoço, e o motorista só nos aparece horas depois do combinado.  Planos desfeitos. Que fazer?
Lembro horas de pavor na estrada, quando o dono da viagem perdia a calma quando ultrapassavam seu carrinho que nem era lá essas coisas. Mas ele dizia que sim, nenhum o vencia na corrida. Eu me via esmagada por caminhões pesados ou carrões bem potentes. Ainda bem que não aconteceu.
Noutras ocasiões era uma colega que se achava o máximo na direção. A estrada era de terra solta, aquele areial, e a menina não suportava ser ultrapassada. Não adiantavam os rogos da irmã dela que ia junto. Eu nem piava, afinal, eu era uma simples carona...De olhos fechados, prevendo o pior, quando os abria após uma ultrapassagem perigosa, não dava para ver a estrada à frente. Era uma nuvem de poeira que demorava a dissipar-se. E se viesse outro veículo contra nós? Felizmente estamos ilesas, eu e a minha caroneira, que ainda dirige e, que eu saiba, não sofreu nenhum acidente. Só pode ser a proteção de
Deus que nos quer vivendo para fazer algo de bom. Quem sabe?
O mês de janeiro está no meio, e meu tempo de escrever não chega nunca. Por isso, ao sair para as praias, vou deixar este texto, feito às pressas e em busca da inspiração que não chega. É para não deixar em branco meu espaço no blog. Compromisso que assumi comigo mesma. Deus sabe por quê.