terça-feira, 25 de novembro de 2014

É HORA DE AGRADECER





A queixa tem sido geral - pelo menos entre as pessoas da minha idade: este ano está passando muito rápido. Folheando as páginas da agenda 2014, quanta coisa já vivemos! Os calores abrasantes dos meses de verão! Se continuassem por muito tempo ainda, não sei se resistiríamos. Depois, o outono. Tão certinho! Chegou na data exata com aquele ar fresquinho gostoso que dava vontade de caminhar,  agir, movimentar o corpo que ficara  bem preguiçoso nos dias de calor. Deu para usar as roupas de meia estação que estavam mofando nos armários.
O inverno com os efeitos do El Nino teve seus dias de luto. Mortes, previstas algumas, outras inesperadas, de acidentes, pessoas jovens... E idosos queridos que a gente não queria nunca que nos deixassem.
Mesmo assim, devemos agradecer pela sua passagem entre nós e a esperança de que um dia nos encontraremos de novo.
Ao mesmo tempo a vida ficou mais rica com o nascimento de novas criaturinhas que vêm alegrar nossos lares. Tanta criancinha linda e saudável, graças a Deus.
Nos campos, o gado engordando, os trigais amadurecendo, o arroz colhido. Nos Supermercados, as gôndolas repletas de produtos agrícolas. Preços subindo, mas não falta nada.
Somos sobreviventes de um ano tumultuado por crises de corrupção que irrompem onde menos se espera. A começar pelas fraudes do leite e de outros alimentos, tudo em nome do maior lucro, ainda que à custa de vidas preciosas. Bendita hora em que voltei ao meu leiteiro particular. Ali não tem erro, o produto é puro e saudável.
Superado nosso espanto com o escândalo do Mensalão – e a prisão dos colarinhos brancos – eis que denúncias escabrosas denigrem a imagem de nosso petróleo que nos deu tanta esperança na escalada de país pré-emergente. A nossa pretensa salvação econômica e social vê seu futuro ameaçado. Os bilhões surrupiados e escondidos em contas no exterior  poderiam salvar milhões da miséria, da doença, dos males sociais.
Mesmo assim, vibramos com os momentos emocionantes da Copa do Mundo. O Brasil brilhando como anfitrião. As belezas naturais encantando turistas do mundo todo. A segurança reforçada que não deixou nada a desejar. Os brasileiros mostrando sua cordialidade e filosofia de bem viver. Pena que o final foi como se um grande balão inflado ao máximo explodisse na nossa cara: quantos gols mesmo? Até me esqueci, ou melhor, varri para baixo do tapete da memória, pois ela merece melhores recordações.
Mas aqui estamos outra vez: com novas esperanças no Dunga e na querida seleção. Quem sabe na próxima Copa?
Nossos corações tiveram mais batalhas a enfrentar: as eleições. Dizer que o povo brasileiro não reage, que a juventude está alienada dos problemas sociais e políticos, que o “gigante dorme em berço esplêndido”? Que nada! Foram campanhas quentes, lances inesperados, revelações de cair o queixo. Parece que um véu caiu e deixou ver muita coisa que está por trás.
Novas graças demos pela consciência do povo brasileiro que acordou. E pretende continuar atento ao que acontece na vida pública, na distribuição da renda, na administração do bem comum. Que não torne a dormir.
Enquanto isso, os ipês floriram nos jardins, nas praças e embelezando a estrada que conduz a nossa cidade. As flores reabriram nos canteiros, os pássaros fizeram seus ninhos, e os beija-flores surgiram novamente anunciando a primavera sempre bem-vinda. E que breve se despede.
Nas praças, os jacarandás anunciam que o verão está próximo.
Cordeirinhos e bezerros povoam nossos campos. É hora de tosquiar as ovelhas.
Timidamente os sinais de Natal se insinuam. E os planos também. Com novas alegrias, pois Maria Eduarda estará conosco alegrando aqueles olhinhos curiosos com as luzes da árvore, os enfeites e figuras do Papai Noel e do Menino Jesus. Seu primeiro Natal deve ficar bem marcado em sua vidinha que ora inicia e que seja muito feliz.
Só esta expectativa já nos deixa plenamente realizados. Demos graças a Deus!



domingo, 16 de novembro de 2014

UM COBERTOR A MAIS







No relógio do celular são cinco e meia da manhã. Agora ele é o meu despertador. Acordei porque senti frio, não muito, mas aquele que pede mais uma coberta. Leve que seja.
Dominando a preguiça, fui buscá-la no baú aos pés da cama. Tão simples assim, e eu demorei a mexer-me, quando o sacrifício foi mínimo diante do benefício conquistado.
Há coisa mais gostosa do que cobrir-se quando o frio acontece? Um cobertorzinho a mais, e sente-se aquela delícia na pele e no corpo todo.
Este mês de novembro tem sido agradável, faz calor à tarde, e à noite é aquele ar fresquinho que faz a gente dormir melhor.
No Dia de Finados, uma das minhas manas telefonou-me do cemitério: “Se vieres agora, por favor, me traz um agasalho, pensei que estava quente, mas estou louca de frio.”
Apressei-me a atendê-la, e o sorriso dela quando a cobri com meu casaco foi plenamente compensador. Que coisa! Foi um pequeno milagre.
Depois que desperto, o sono não volta logo. Mas nesta manhã fresquinha, depois do cobertor a mais, fiquei pensando só coisas agradáveis e deixando-me levar pela sensação de conforto de minha cama, acompanhando os ruídos comuns da madrugada, o cacarejo das galinhas da bendita vizinha que ainda pensa em criá-las no pátio de sua casa. Uma tentação para os ladrões, mas agora eles não se contentam com pouco. Por aqui reina é o abigeato.
Quando os pensamentos se desviam para esse crime e outros piores que dominam nossos dias, acho melhor começar a rezar as orações da manhã e depois buscar dormir de novo.
Hoje é domingo. Poucos compromissos na agenda desta aposentada. Posso ficar à toa
 no computador, pois já deixei o leite ferver sem derramar, como muitas vezes deixo acontecer quando me entretenho com minhas crônicas. Coisas de “escritora”...


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

EFEITOS COLATERAIS






Ainda bem, disseram os familiares. Com a notícia de que não houvera feridos nem perda total do automóvel, todos respiraram aliviados.
Mas a vítima do roubo, quase latrocínio – pois ele estivera todo o tempo do assalto sob a mira de um revólver – ainda não se recuperara de todo. Foram momentos de muito medo que jamais esqueceria. E não foi só. Por pouco não perdera o emprego que não era lá essas coisas, mas, enfim, nesses tempos de crise foi o que conseguira até então. Mas aquela entrevista marcada para um novo, bem mais vantajoso, não pode ser realizada. Passou da hora com toda a confusão. Azar! Outro deve ter ocupado o lugar, havia uma considerável fila de candidatos.
 Mais problemas foram surgindo, além de insônias, pesadelos e tratamento para os nervos. Sem o automóvel, como poderia realizar seu trabalho atual?
A firma em que trabalhava ficava noutro município da região metropolitana, e os horários de ônibus não lhe serviam.
A solução apontada por familiares e amigos foi alugar outro carro até que o seguro lhe restituísse o seu, o que nunca vem inteiro, sempre fica abaixo do que ele tinha antes. Que fazer?
Fazendo as contas no final do episódio, a pobre vítima concluiu que estava pagando para trabalhar. Por culpa dos tais “efeitos colaterais” que na hora da ocorrência ninguém consegue avaliar.
Na vida é assim, nada pode ser previsto exatamente. Por mais meticuloso que seja o programador em sua agenda, fatos independentes de sua vontade vão acontecendo, e o roteiro tem de ser modificado.
Aquela “Azulzinha”, que flagrou o juiz infrator no trânsito, quando iria imaginar que seus próximos dias seriam tão diferentes do planejado?  Os efeitos colaterais estão batendo forte na sua rotina. O que fazer com suas contas de cada mês, mais as adicionais que sempre surgem? Vejo por mim, até o meio do mês consigo saber o que devo pagar: água, luz, telefone, internet... Da segunda metade para o fim do mês vêm as surpresas; conserto de eletrodomésticos, uma torneira que pinga, o chuveiro que queima... Nunca se sabe de onde vem o estrago, e o que a gente pensa que vai economizar lá se vai.
No caso da Azulzinha, os efeitos colaterais ganharam dimensões de tirar seu fôlego. Mexeram com os poderes da nação, ocuparam as redes sociais, deflagraram calorosas discussões sobre a justiça nacional e aqueles que são os responsáveis para que ela seja aplicada devidamente. Será que ela é cega mesmo?





terça-feira, 11 de novembro de 2014

E OS LÍRIOS SE ABRIRAM






Finados. Um dia para ficarmos tristes, cheio de lembranças de um tempo que passou, não volta mais.
Romarias de “sobreviventes” dirigem-se aos cemitérios para homenagear os seus mortos. Mais do que isso: para senti-los próximos e que a vida deles valeu a pena e deixou marcos inesquecíveis entre nós. Acode-nos uma sensação de culpa dos momentos que perdemos de estar com eles ainda em vida. Mas este mundo de hoje é tão tumultuado, e a vida passa rápido demais.
Descobri, com o avançar da idade, que os mortos queridos continuam a viver em nós, no cotidiano, nas lembranças compartilhadas em família, nos gestos que foram sua marca e que não esquecemos.
Desse modo é até possível sorrir quando os recordamos cheios de vida e animação. Descobrir que estamos, inconscientemente até, imitando suas atitudes e seguindo os conselhos tão importantes e oportunos que nos deram.
Assim, é comum acontecer-me nos hábitos diários ouvir a voz daquela tia - que foi uma perfeita dona de casa -  recomendar-me: “Estica bem os lençóis, prende as pontas debaixo do colchão, nada de deixar uma preguinha que seja, que a colcha não  é para esconder o malfeito”.
Sinto meus pais junto de mim nas alegrias e nas aflições. Bem mais nos momentos felizes. Cada gracinha da netinha e novos progressos de meu neto na escola, por exemplo, eu fico louca que eles vejam e se alegrem comigo.
Recordo o abraço carinhoso de tia Duca e seu modo meigo de acolher-me em sua casa. As sugestões tão oportunas de tia Eufrásia em momentos de crise me acalmavam e ajudavam a decidir. O olhar triste de tia Elma com saudade do filho.
O anedotário da família é relembrado alegremente a cada ocasião de reencontros. O tio nervoso que não ficava mais de cinco minutos no mesmo lugar. “Vou ver um amigo”, e lá ia ele dando voltas por toda a cidade, quando vinha visitar-nos.
Quando alguma coisa dá errado, e preciso encontrar de novo o caminho de partida, é do Dindo que me lembro. Porque, se houve personagem mais adequado para servir de inspiração a Kipling, em seu famoso poema “SE”, esse homem foi ele, que nunca desanimava com os insucessos e logo recomeçava outra empreitada. Entre outras máximas, ele deixou esta: “Não adianta chorar depois do leite derramado.”
E muito especialmente, neste dia e em todos os outros, a figura da tia Neusa se faz  sempre presente na minha casa, nos meus pensamentos e saudade, com seu companheirismo e aquele  carinho tão doce que dedicou no cuidado de meus filhos.
Vejo-a cuidando dos lírios do pequeno canteiro aqui de casa e colhendo-os todos os dias de Finados para enfeitar a última morada de seus entes queridos.

E eles reabriram mais uma vez .