Num dia, estamos no verão, e no outro já é outono. Não só a folhinha do
calendário mudou. Foi o clima. Temperaturas amenas, céu azul bem limpinho, ar
gostoso, morninho, esta estação é festejada por quem sofre demais com o calor.
Como eu.
Fico notando como certos hábitos que faziam parte da vida da gente foram
sendo substituídos bem ligeirinho por outros. Sem nem sentirmos, ou quase. A
hora de acordar, de tomar banho, de sair de casa, de voltar. Dependem muito da
estação que estamos vivendo. Os trajetos, antes percorridos, agora são outros. E
as ocupações também. Onde encontrar os afiadores de facas e tesouras que antes
passavam pelas ruas tocando suas buzinas para chamar as donas de casa? Hoje
está difícil preparar as carnes para os bifes e guisadinhos.
Nos supermercados, nos bancos, até na igreja, nossos conhecidos estão
ficando mais raros. Há muita gente nova na cidade. Geralmente jovens. Devem ser estudantes da
Unipampa que chegam de longínquos estados do país. Passamos por eles, nos corredores
das mercadorias, como zumbis. Poucos nos percebem. Alguns, mais gentis, nos
oferecem o lugar na fila dos caixas. Devem pensar: coitadinhas das velhinhas.
Nas agendas de endereços, os nomes vão sendo substituídos rapidamente. Dá
uma tristeza pensar que tantas pessoas queridas não atenderão mais aos nossos
telefonemas nem estarão lá para receber nossas visitas. Essas estão saindo de
moda.
Mas, deixando a tristeza de lado, há coisas boas surgindo. Novas
amizades, novidades no mundo da tecnologia
que nos aproximam dos familiares distantes fisicamente. Agora podemos situá-los
onde quer que estejam no momento e conversar com eles na telinha do computador,
do i-phone ou sei lá que outros mecanismos inteligentes que estão cada vez mais
aperfeiçoados. O fato é que nossos hábitos que pareciam tão arraigados estão-se
modificando da noite para o dia.
Não é o caso dos seres irracionais, certamente. Esses obedecem aos
instintos, que não mudam. Assim parece.
Exemplo disso foi o que uma vizinha me contou certa vez. Quando menina,
sua família morando na zona rural, houve um eclipse bastante comentado na época.
Ela lembra que o céu foi escurecendo, escurecendo e na hora do almoço estava
noite cerrada. As galinhas procuraram seus poleiros e lá ficaram quietinhas até
o sol aparecer de novo. Foi quando o galo se pôs a cantar a plenos pulmões,
como era seu costume a cada amanhecer. Fiquei-me perguntando: será que elas
puseram ovo duas vezes naquele dia?
A vida é um rio que corre sem voltar para trás. Novos momentos, novas paisagens,
constantes adaptações. Não dá para nadar contra a correnteza. O importante é
descobrir suas belezas: o amor, a união, a paz.