quinta-feira, 26 de março de 2015

MUDANDO HÁBITOS






Num dia, estamos no verão, e no outro já é outono. Não só a folhinha do calendário mudou. Foi o clima. Temperaturas amenas, céu azul bem limpinho, ar gostoso, morninho, esta estação é festejada por quem sofre demais com o calor. Como eu.
Fico notando como certos hábitos que faziam parte da vida da gente foram sendo substituídos bem ligeirinho por outros. Sem nem sentirmos, ou quase. A hora de acordar, de tomar banho, de sair de casa, de voltar. Dependem muito da estação que estamos vivendo. Os trajetos, antes percorridos, agora são outros. E as ocupações também. Onde encontrar os afiadores de facas e tesouras que antes passavam pelas ruas tocando suas buzinas para chamar as donas de casa? Hoje está difícil preparar as carnes para os bifes e guisadinhos.
Nos supermercados, nos bancos, até na igreja, nossos conhecidos estão ficando mais raros. Há muita gente nova na cidade.  Geralmente jovens. Devem ser estudantes da Unipampa que chegam de longínquos estados do país. Passamos por eles, nos corredores das mercadorias, como zumbis. Poucos nos percebem. Alguns, mais gentis, nos oferecem o lugar na fila dos caixas. Devem pensar: coitadinhas das velhinhas.
Nas agendas de endereços, os nomes vão sendo substituídos rapidamente. Dá uma tristeza pensar que tantas pessoas queridas não atenderão mais aos nossos telefonemas nem estarão lá para receber nossas visitas. Essas estão saindo de moda.
Mas, deixando a tristeza de lado, há coisas boas surgindo. Novas amizades, novidades  no mundo da tecnologia que nos aproximam dos familiares distantes fisicamente. Agora podemos situá-los onde quer que estejam no momento e conversar com eles na telinha do computador, do i-phone ou sei lá que outros mecanismos inteligentes que estão cada vez mais aperfeiçoados. O fato é que nossos hábitos que pareciam tão arraigados estão-se modificando da noite para o dia.
Não é o caso dos seres irracionais, certamente. Esses obedecem aos instintos, que não mudam. Assim parece.
Exemplo disso foi o que uma vizinha me contou certa vez. Quando menina, sua família morando na zona rural, houve um eclipse bastante comentado na época. Ela lembra que o céu foi escurecendo, escurecendo e na hora do almoço estava noite cerrada. As galinhas procuraram seus poleiros e lá ficaram quietinhas até o sol aparecer de novo. Foi quando o galo se pôs a cantar a plenos pulmões, como era seu costume a cada amanhecer. Fiquei-me perguntando: será que elas puseram ovo duas vezes naquele dia?

A vida é um rio que corre sem voltar para trás. Novos momentos, novas paisagens, constantes adaptações. Não dá para nadar contra a correnteza. O importante é descobrir suas belezas: o amor, a união, a paz.

quinta-feira, 19 de março de 2015

A PRAGUINHA DA TIA DOTY





Ela é mesmo uma praguinha. Chega de mansinho, vai-se insinuando, e quando a gente menos espera, já tomou conta do nosso cotidiano. É a Maria Edu arda, essa fofinha que chegou  à nossa família para minha maior alegria.
Por que esse apelido? Vendo minha tristeza por não conviver com meu neto querido, depois da separação dos pais, minha mana Doty, a meiguice em pessoa, me consolava  –“Ainda vais ter uma netinha bem carinhosa perto de ti.” Eu não esperava, mas essa praga vinda de alma tão boa não podia falhar.
Ela vai fazer um aninho agora em abril, se Deus quiser. Neste ano que passou quantas histórias já contou com suas gracinhas, seu desenvolvimento saudável, próprio de um serzinho muito querido, que foi esperado com tanto carinho e tratado com todos os cuidados.
A Praguinha da Vó Doty promete...
Na minha casa, que ela visita mensalmente desde que o rigor do inverno acabou, ela já tem seus cantinhos prediletos.
Chegando ao meu quarto, pede logo com o olhar e os gestos que alguém ligue a TV. É para ver a Peppa, a porquinha que conquistou a criançada desta nova “fornada”. No tempo do João Vítor, dezesseis anos atrás, eram os Teletubes... Cada turminha com seus ídolos da época.
E quando vai ao quarto dos pais onde está seu bercinho, ela insiste que liguem o computador.  E fica apontando para o pano de fundo – sua foto no meu colo – na maior emoção, entre risos e lágrimas. O que será que ela pensa? O que ela sente? Que guriazinha!
Desde que chega a um novo ambiente, vai olhando para todos os lados e fixa com firmeza as pessoas ao redor. Depois, olhando nos olhos da gente, ela sorri, não digo mostrando todos os dentes, porque só tem dois, mas com uma alegria contagiante que dá vontade de abraçá-la e beijá-la até dizer chega. É um amor!
O porteiro do prédio de seus avós, em Novo Hamburgo,  profetizou sua vocação: vai ser juíza, porque analisa tudo muito bem. Quem sabe?
Maria Edu arda já está na escolinha. Como é seu natural, chegou lá sorrindo e olhando tudo com muita atenção. Teve uns momentos de chorinho, mas logo se conformou. Agora ela é da casa, como diz sua professora.
Gosta de brincar com suas bonequinhas, o coelhinho da Mônica e outros brinquedos. No entanto, parece entreter-se mais com as embalagens de Omoprazol que eu juntei numa cestinha forrada de pano com muito jeito pela Lígia, minha funcionária. Ela e a Santinha, a acompanhante da noite, aguardam suas visitas com muita satisfação. É queridinha das duas a quem brinda com aquele olhar e aquele sorriso que a fazem tão atraente.
Obrigada, Doty, por essa praguinha que me rogaste com tanta vontade de me ver feliz.
Rogo a Deus que a preserve com todo o seu viço. Para que tenha uma vida muito feliz e abençoada, rodeada de seus amores que a adoram. Amém.


domingo, 1 de março de 2015

TE AMO BRASIL





Amigos me mandam e-mails incríveis de paisagens e cidades do 1º Mundo. Tudo tão certinho! Construções antigas, mas bem conservadas, mostrando os dons artísticos de seus idealizadores. E também seu senso de ordem e respeito ao bem estar dos outros. Ruas limpas, calçamento sem falhas, folhagens nas jarreiras, janelas com floreiras e cortinas esvoaçantes. Nada por terminar, tudo pronto para ser usufruído com prazer. Imagino um piano tocando na tranquilidade de um entardecer de inverno. Uma lareira aquecendo o ambiente que acolhe os moradores chegando do trabalho, da escola, das compras... O cheiro gostoso das panelas no fogão.
Engarrafamentos de trânsito na saída do trabalho, nem pensar. Cachorros soltos nas ruas, lixos espalhando-se nas calçadas, entulhos aguardando dias e dias a sua retirada, filas intermináveis nas paradas de ônibus ou metrô, coisas que para nós são o nosso dia a dia, parece que lá não tem.
E eu que sonhava tudo isso para o Brasil, quando na escola estudava as riquezas sem fim da nossa pátria. O país do futuro...”Tem o ouro, tem petróleo, carbonatos, diamantes, e tem rios caudalosos e cascatas deslumbrantes”... Nosso coro orfeônico cantava sob a batuta da Diná Néri, e nós acreditávamos em tudo aquilo. Que nossas reservas florestais jamais acabariam. Que a força das águas e as reservas de carvão e outros fósseis garantiriam para sempre a energia. Que os trens se aprimorariam até chegarem à altura dos trens-bala do primeiro mundo. Que a borracha, o café, o cacau, o açúcar e outras culturas serviriam de lastro à nossa economia. Que haveria dirigentes honestos e competentes para lidar com a coisa pública e administrar corretamente nossas riquezas.
Quando a televisão mostra as queimadas das florestas, eu mudo de canal. É demais pra mim.
Lembro que eu sonhava com a estrada de ferro chegando a Caçapava.   Diziam que era o nosso relevo que impedia - muitas serras para contornar ou cavar túneis. Mas para as estradas de rodagem isso não foi problema.
Cheguei a fazer a travessia do Guaíba para ir a Porto Alegre. Uma viagem tão gostosa e limpa, sem a poeira das estradas daquela época.
Os trens de carga transportavam nossos produtos. E a navegação fluvial também foi uma esperança. Entretanto, ferrovias ficaram inacabadas, trilhos de trens e de bondes urbanos foram arrancados em nome do progresso. E as rodovias estão chegando ao máximo de sua trafegabilidade. Acidentes todos os dias. Centenas e milhares em perdas de vida. E o petróleo imperando. Gerando conflitos e mesmo guerras sem fim em seu nome. E aqui entre nós, deu no que deu. Caíram as máscaras dos grandes líderes de nossa economia. Bolsos recheados para os mandantes, panela vazia para os que com seu trabalho produzem as riquezas. E a falta de água até na maior metrópole do país! E a consequente crise de energia. Quem vai pagar o prejuízo?
“Eta, mundo velho sem porteira”, como diria um personagem de Érico Veríssimo. Por onde começar a corrigir esses erros?
Enquanto isso, o número de motoristas bêbados ao volante não para de crescer. E vítimas inocentes acontecem com frequência. Dá para pensar: adianta andar certo? Claro que sim. Se cada um fizesse a sua parte como o passarinho no incêndio da floresta, o bom exemplo ajudaria e muito.
Revendo aquelas imagens bonitas dos países de 1º Mundo, e comparando com o desmazelo em que nos encontramos aqui, ainda assim continuo a sentir que jamais gostaria de morar em outro lugar. Pois, diante da atual face do país tão mal vista no mundo, por sua violência, corrupção, alto risco nos empreendimentos e tanta coisa errada, eu ainda sou de opinião de que ele é o melhor país do mundo, onde a gente se sente mais feliz e solidária. Com vontade de ajudar, de pôr band-aid em suas feridas, de confortá-lo dos golpes de seus algozes.
Brasil, terra dos meus amores, dos meus sonhos e esperanças, eu te amo. Ontem, hoje e sempre.