quarta-feira, 9 de março de 2016

O FELIZ REENCONTRO




Há anos procuro, nos sebos, livros preciosos que fui perdendo ao longo da vida. A falta que me fazem! Parecem pessoas queridas que não vejo mais, nem tenho notícias.
Neste verão escaldante tive a satisfação de encontrar um e outro, bem amarelinhos, mas inteiros, esperando por mim nos balaios das livrarias de usados.
O último deles, perdi a esperança de reencontrá-lo, mas depois os mais jovens da família me ensinaram a  procurá-lo  na Internet. E reiniciei sua busca.
Naquele calorão abafado de Porto Alegre, aproveitei a última manhã passada lá para tentar novamente. Nos sebos da Rua da Praia, mocinhas gentis me atenderam prontamente dirigindo-se logo ao computador. Nem elas tinham esperança de encontrar o livro “O Manto de Cristo” que eu tanto desejava. Elas me olhavam como a uma sobrevivente de um mundo que não conheceram. De pessoas piedosas que não abandonaram sua fé e ainda  se interessam pela história sagrada. Hoje os assuntos de livros são bem outros. O mundo também.
Até que uma atendente me indicou um sebo na Rua da Ladeira, ali perto.
Acontece que dobrei na esquina anterior e passei pelos portões da Caldas Júnior, onde me achei em casa. Afinal, há quantos anos sou assinante do Correio do Povo, o “jornal do homem sério” como meu pai repetia. Assim, atrevi-me a perguntar ao porteiro ali empertigado o endereço que desejava. Ele foi bem amável e me indicou uma rua paralela, mas que eu podia seguir por ali mesmo e dobrar à esquerda. Como a outra, esta também era uma ladeira que eu fui subindo com certo esforço. Parecia que o ar me faltava, mas eu pensei que minha missão era importante e que eu chegaria ao final. Não deu outra, foi um alívio dobrar a esquina e seguir no plano até chegar à esquina e começar a descer – que bom que agora era só descida – até encontrar a referida livraria. Dois atendentes, senhores de meia idade, entenderam logo meu pedido. Um deles dirigiu-se ao balaio de livros usados e facilmente encontrou o livro que por muitos anos eu procurava. Tive vontade de fazer um brinde com champanhe, tal a importância da ocasião, mas contentei-me com água mineral na primeira lanchonete que encontrei. Que sede que eu sentia!
Voltando pelo mesmo caminho, passei novamente pelos portões da Caldas Júnior onde o porteiro e outro senhor de cabelos brancos, bem apessoado, me perguntaram se eu encontrara o endereço. Agradecida, mostrei-lhes a sacola com o precioso livro. E a impressão que me ficou é que a cidade grande ainda tem remédio. Não é só de assaltantes, bandidos e pessoas mal intencionadas. Sobram almas boas que se solidarizam com seus semelhantes e estão dispostas a ajudar a quem precisa.

A manhã me pareceu mais suave, e o dia transcorreu com uma nova alegria a entreter-me o coração. Pensei na minha irmã que há tempos me pede este livro que começara a ler, e alguém o levou não sei pra onde. Agora retornou e deve enternecer outros corações com a história de Cristo em sua passagem sobre a terra, como humano igual a nós e sujeito às mesmas dores e desilusões. Desta vez, ao emprestá-lo, vou tomar nota para quem e fazer a devida cobrança se demorar a voltar.  Não vou deixá-lo sumir de novo. 

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