Há dias eu me queixava da falta de atenção e cordialidade dos jovens com
os mais velhos. Para eles somos página lida e relida, folha morta, “já era”...
Não temos mais utilidade. Até do novo Papa, tão bem aceito no mundo todo, ouvi
comentários de adolescentes :” um velho”!
Hoje a notícia da morte de Celestino Goulart não teve maiores comentários
na mídia caçapavana. E ele foi, por décadas, a pessoa mais influente da terra.
Depois de Prefeito, foi Deputado, Diretor Presidente da Caixa Econômica
Estadual, membro da diretoria do Tribunal de Contas e outras coisas mais.
Quanta gente ele empregou na Caixa e outras repartições! Quantas famílias lhe
devem o futuro – que agora chegou – de seus filhos bem educados e empregados!
Mas as gerações mais novas não o conheceram, ele se afastara de tudo, estava
doente. Caíra no esquecimento.
Mas, diante de minhas queixas, como diria minha mãe repetindo um velho
ditado: eu chorava de barriga cheia.
Verdade seja dita: não tenho do que reclamar. Até hoje reencontro antigos
alunos e colegas que me dedicam momentos de conversa amável, que me rendem
motivos de gratidão. É tão bom estar vivo! E alguém se lembrar da gente, do que
representamos em suas vidas.
Temos muitos privilégios nessa fase que já passou da terceira idade. Nos
Bancos, a senha especial para idosos nos encaminha para um guichê só nosso.
É comum nas filas de Supermercado darem-nos o lugar – se nossa cesta não
está muito cheia.
Pessoas que não vemos há tempos vêm nos abraçar admiradas de nosso bom
humor e estado de saúde. Algumas até já nos consideravam mortas, eu acho. Que
satisfação ver que ainda nos reconhecem. Sinal de que não estamos tão
acabados...
Minha mãe tinha razão: temos razões de sobra para valorizar tudo o que
temos e somos neste mundo de Deus. Se ainda estamos vivos é porque ainda temos
alguma coisa para fazer, uma missão a cumprir. Faltando-nos as forças, pelo
menos nosso exemplo deve servir
para termos a sensação de que ainda
somos úteis aos nossos semelhantes.
Em barriga cheia não cabem queixumes.