No momento em que eu tirava o carro da garagem, meu filho mais velho
telefonou: “Mãe, estás onde?” Saindo.
“Fica em casa descansando.” Mas com um dia bonito desses!
Se ficasse, teria mil coisas para fazer, agora que iniciei a arrumação de
papéis, cartas antigas, cartões. Quem se interessará por isso depois de mim?
Vou esperar os dias de chuva para essa tarefa.
Mas o celular nos alcança em qualquer parte, não há como fugir ou deixar
de prestar contas. E diante da preocupação de meu filho por meu bem estar, uma
imagem muito bonita me veio à lembrança: ele devia ter pouco menos de três
anos, e o maninho era nenê. Estávamos no quarto, o caçula dormindo no berço, eu
sentada à escrivaninha corrigindo lições de alunos, com o primogênito no colo.
Era uma das maneiras que eu encontrava de conciliar minhas duas missões –
maternidade e magistério. E o maiorzinho entendia bem disso, pois aproveitava
todos os momentos de minhas disponibilidades para receber o carinho e atenções
merecidas.
Foi numa dessas que ele me disse:
-Mãe, cando eu quecê, vou istudá,
tabalhá, compá arroz, fejão, e tu vai ficá em casa bem feliz dicansando.
Hoje ele já estudou, conquistou seu lugar no mundo do trabalho, tem sua
família, mas não deixou de cumprir aquelas promessas. Graças a ele tenho todos os
anos meu veraneio garantido na praia, em seu apartamento inteiramente à minha
disposição. É só agendar durante o ano. E no planejamento de suas residências
(ele mudou algumas vezes) ele sempre teve a preocupação de destinar-me um
quarto com todo o conforto possível. Recentemente me presenteou de aniversário
um carro novo para substituir o fuquinha que começava a dar-me trabalho.
Meu caçula não planejou meu futuro. Seu temperamento é de viver o
presente com toda a intensidade. Sendo assim, cuida que eu esteja em dia com as
novidades eletrônicas e outras descobertas modernas. Por sua inspiração foi que
me iniciei na Informática, na TV a cabo e agora neste blog, para compartilhar
com meus semelhantes de meus estados de espírito e lembranças. A TV que me deu
de aniversário tem canais em HD que me oferecem imagens de alta fidelidade. Um
duplo prazer – de contemplá-las e de saber que foi um presente de amor e muito
carinho.
A imagem que me vem neste instante é daquele menininho de olhos azuis
esperando-me no portão de casa com um ramalhete de flores na mão. Mas eu tinha de pagar por elas – era o
pedágio para passar. E outro inconveniente: elas tinham sido colhidas do meu
jardim com os talos muito curtos, não dando para pô-las em vaso. Murchavam
logo, coitadinhas! E ele era tão novinho! Na idade da inocência.
São momentos muito ternos que me fazem pensar que a
vida vale a pena ser vivi
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