A MULHER DE ONTEM, DE HOJE E O CRICRI
Quem vê um grupo de senhoras conversando, pensa logo que estão espalhando
fofocas da cidade. Ou sobre o eterno cricri: crianças e criadas.
Não sou feminista fanática, mas não suporto injustiças. Pois até o
conceito de empregada doméstica sofreu mudanças. Agora são diaristas ou de meio
turno. Também acontece de duas patroas terem a mesma, uma de manhã e outra de
tarde. Aí, sim, sobra conversa sobre o tema.
Assim sendo, pertencendo a diversos grupos femininos, venho percebendo
que os assuntos de minhas companheiras são muito variados e vêm sofrendo grande
evolução. Jovens mães, por exemplo, falam de mamadeiras, papinhas e babás, mas
também de regimes para voltar à antiga forma física. Mães de crianças na escola
discutem sobre métodos de educação, o que esperam das professoras e se devem ou
não castigar seus pequenos. E as que atingiram a idade da “loba” preocupam-se
com receitas de beleza e métodos de sedução dos maridos... seus ou das outras.
As vovós gostam de contar sucessos dos netos e de mostrar suas fotos.
Também apreciam passar receitas culinárias e receber outras tantas, nas
reuniões de amigas. Mas os assuntos se estendem a outros itens, como viagens de
recreio, estações de água, promoções das lojas e as últimas novidades da moda.
Tudo dentro dos orçamentos e da criatividade de quem já viveu muitas décadas e
conseguiu vencer sucessivas crises domésticas e financeiras.
Pois é, nos Supermercados é possível observar as diferenças. As mais
experientes vão às prateleiras certas, atrás dos itens mais necessários. Não se
deixam seduzir pelas novidades. Mais vale sua experiência e os meios conhecidos
de conseguir os melhores resultados na economia do lar com os menores preços.
Isso não as impede de conversar, pelos corredores, com várias conhecidas, saber
notícias de terceiras e contar outras tantas novidades, o que lhes faz um
grande bem. Estas, se não foram amigas no passado, no tempo da rivalidade dos
amores ou do emprego, agora se tornam aliadas a favor da paz e da economia.
As mais novas beijam-se efusivamente, não sem antes lançar olhares
avaliativos sobre a outra, o que ela está
vestindo e a expressão que apresenta. É preciso medir as palavras, são rivais
no mercado de trabalho, nos relacionamentos, na vida social. Não dá para
confiar muito. Empresárias, socialites, donas de casa, mulheres bem casadas,
outras não, os assuntos se dividem conforme a ocasião. Tudo aparentemente bem
civilizado.
Não é o que acontece na periferia. Lá, mães de crianças que brincam na
rua e se desentendem armam barracos. Às vezes até a Polícia tem de intervir.
Mas outro dia aconteceu algo inesperado. Uma criança sofreu grave
acidente, e a mãe não estava em casa, só os irmãos e uma velha avó, que se
desesperou. Pois a vizinha antes injuriada tomou as providências necessárias.
Levou o pequeno ao pronto atendimento, e ele foi salvo. Naquela quadra, os
moradores assistiram a uma bela cena de reconciliação. As mamães se abraçaram
emocionadas, e a paz se restabeleceu na redondeza.
Por isso eu acho que vivemos dentro de bolhas hermeticamente fechadas.
Cada grupo separado com suas características e relacionamentos. Dependendo de
classe, educação, laços de família. Existem mulheres heroínas e existem as
vilãs em todas os grupos. Mas continua a pulsar em cada uma aquela centelha de
amor que nos torna mães de verdade ou “adotadas”, e por mais distintas as
circunstâncias que nos separam, sempre haverá esse ponto de união entre todas.
Somos mães, somos avós, amamos.