Minha amiga pergunta lá do Rio qual a melhor época para aceitar nosso
convite para visitar-nos. Ela tem medo
do inverno dos pampas, estando já aclimatada há mais de trinta anos na
ensolarada Copacabana.
Fico só a imaginar o que a coitada enfrentaria se chegasse aqui neste
momento, com o frio que está fazendo, a chuva de dias e dias, e essa umidade
que adere às roupas, aos cabelos e até a alma da gente.
Por outro lado, não conheço outra estação que mais aproxime as pessoas
debaixo do mesmo teto. Tempo bom para agradáveis conversas ao pé do fogo, ou
para uma refeição quentinha reunindo todos os familiares na mesma hora – o que
não acontece no verão.
É tão agradável, nesse clima frio, chegar em casa como quem entra num
refúgio e sentir desde a porta da rua
que o ruim ficou lá fora. O calor da acolhida derrete qualquer gelo. “ Querido,
tira os sapatos molhados. Toma este chimarrão quentinho e vem te aquecer perto
do fogo”.
Também é uma delícia quando se podeficar ao sol chupando uma suculenta
laranja da terra. Dessas que a gente sente o cheiro desde o ato de descascar e
logo vem água à boca. Mas tem que ser das nossas para causar essa sensação.
Laranjas personalizadas, que se sabe de onde vêm: é da chácara de Fulano ou da
fazenda de Beltrano. As outras, que vêm de longe para os Supermercados, só para
sucos, pois não merecem a honraria da “lagarteada” ao sol.
Os invernos das últimas décadas deram-nos presentes valiosos – frutos do
avanço da tecnologia moderna: o edredon que acaba com todo o frio da cama,
fazendo-nos sentir como se estivéssemos nas nuvens. Grau dez para seus
criadores e lançadores. O lençol térmico, para os mais friorentos, não há pé
frio que resista. E o controle remoto, que maravilha! Poder assistir aos
programas de televisão bem abafadinho na cama e não precisar levantar para
mudar de canal, baixar ou aumentar o volume, ligar ou desligar o aparelho!
Tudo isso custa dinheiro, mas vale a pena juntar no verão e noutras
estações para curtir um inverno de primeiro. Ao contrário dos jovens, que
passam o ano sonhando com o abrasante verão das praias... Não é de admirar,
eles têm seu calor próprio, conseguem até namorar debaixo das marquises,
enquanto a chuva e o frio castigam os demais, mal amados.
Mas, voltando à minha amiga do Rio, melhor será esperar a primavera, que
ressuscita todo o verde das folhagens que parece estar morto. Que traz de volta
as flores, as borboletas, os passarinhos. E também os ventos e as enchentes,
verdade seja dita.
Em todo o caso, há um colorido novo na primavera, que convida a renascer
das cinzas.
Entretanto, é preciso antes ter passado pelos rigores do inverno para
entender toda a mensagem. Quem chega atrasado, é como assistir a um filme pela
metade.
Mas minha amiga é muito sensível. Ela vai entender.
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