domingo, 8 de julho de 2012

DELÍCIAS DO INVERNO







Minha amiga pergunta lá do Rio qual a melhor época para aceitar nosso convite para  visitar-nos. Ela tem medo do inverno dos pampas, estando já aclimatada há mais de trinta anos na ensolarada Copacabana.
Fico só a imaginar o que a coitada enfrentaria se chegasse aqui neste momento, com o frio que está fazendo, a chuva de dias e dias, e essa umidade que adere às roupas, aos cabelos e até a alma da gente.
Por outro lado, não conheço outra estação que mais aproxime as pessoas debaixo do mesmo teto. Tempo bom para agradáveis conversas ao pé do fogo, ou para uma refeição quentinha reunindo todos os familiares na mesma hora – o que não acontece no verão.
É tão agradável, nesse clima frio, chegar em casa como quem entra num refúgio e  sentir desde a porta da rua que o ruim ficou lá fora. O calor da acolhida derrete qualquer gelo. “ Querido, tira os sapatos molhados. Toma este chimarrão quentinho e vem te aquecer perto do fogo”.
Também é uma delícia quando se podeficar ao sol chupando uma suculenta laranja da terra. Dessas que a gente sente o cheiro desde o ato de descascar e logo vem água à boca. Mas tem que ser das nossas para causar essa sensação. Laranjas personalizadas, que se sabe de onde vêm: é da chácara de Fulano ou da fazenda de Beltrano. As outras, que vêm de longe para os Supermercados, só para sucos, pois não merecem a honraria da “lagarteada” ao sol.
Os invernos das últimas décadas deram-nos presentes valiosos – frutos do avanço da tecnologia moderna: o edredon que acaba com todo o frio da cama, fazendo-nos sentir como se estivéssemos nas nuvens. Grau dez para seus criadores e lançadores. O lençol térmico, para os mais friorentos, não há pé frio que resista. E o controle remoto, que maravilha! Poder assistir aos programas de televisão bem abafadinho na cama e não precisar levantar para mudar de canal, baixar ou aumentar o volume, ligar ou desligar o aparelho!
Tudo isso custa dinheiro, mas vale a pena juntar no verão e noutras estações para curtir um inverno de primeiro. Ao contrário dos jovens, que passam o ano sonhando com o abrasante verão das praias... Não é de admirar, eles têm seu calor próprio, conseguem até namorar debaixo das marquises, enquanto a chuva e o frio castigam os demais, mal amados.
Mas, voltando à minha amiga do Rio, melhor será esperar a primavera, que ressuscita todo o verde das folhagens que parece estar morto. Que traz de volta as flores, as borboletas, os passarinhos. E também os ventos e as enchentes, verdade seja dita.
Em todo o caso, há um colorido novo na primavera, que convida a renascer das cinzas.
Entretanto, é preciso antes ter passado pelos rigores do inverno para entender toda a mensagem. Quem chega atrasado, é como assistir a um filme pela metade.
Mas minha amiga é muito sensível. Ela vai entender.

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