sábado, 27 de julho de 2013

NOVAS ESPERANÇAS





Este ano, de 2013, não cessa de surpreender-nos. Cada mês, cada semana, novidades acontecem. Coisas que a gente nem imaginava. Umas boas, outras trágicas, como o incêndio da Boate Kiss. Mas tudo isso ficou em segundo plano nestes últimos dias. A vinda do Papa para a Jornada Mundial da Juventude abalou o país. De vibração, comoção, solidariedade, beleza. Foi como S. Francisco estivesse entre nós. Com o seu amor aos pobres, aos desvalidos e injustiçados. Ou o próprio carisma de Jesus Cristo se expressasse por ele nas várias aparições oficiais e espontâneas. Um chefe poderoso dispensando privilégios e confortos, desejando estar em contato direto com o povo, acariciando criancinhas. Dando esperanças a este povo tão machucado pelos desmandos dos governantes, esquecido em seus anseios mais básicos, saúde, segurança, educação. E como um pai amoroso aprovou as manifestações de rua e criticou a “pacificação” das favelas. Adorei o incentivo e suas palavras: “ A grandeza de  uma nação só pode ser medida a partir de como ela trata seus pobres, como ela soluciona a questão das favelas.”
Confesso que revigorei minha fé na Igreja Católica. Senti-me orgulhosa de estar sob o comando de um chefe tão espetacular na sua simplicidade, pureza de intenções e piedade. Que mostrou estar em casa onde quer que o roteiro do evento o tenha levado. No Rio, na Aparecida, pelas ruas, nos altares. Foi um raio de sol que brilhou sobre nós aquecendo-nos a alma e nos aproximando mais dos irmãos. Que exemplos maravilhosos de solidariedade esta Jornada nos trouxe. A Juventude tem-nos surpreendido. Nada de alienados como os mais velhos os julgávamos até há pouco. Os jovens estão conscientes da realidade, dispostos à luta pelas transformações que se fazem necessárias em nosso país. Podemos agora gozar mais tranquilos nossas aposentadorias, apenas rezar e dar-lhes a força de nosso carinho e compreensão. Pois em suas mãos está o futuro do Brasil. Mais justo, mais humano, mais próspero e feliz.
Outra novidade que nos tirou da cama sem queixas foi a neve em Caçapava do Sul. Começando na madrugada fria que não nos impediu de apreciá-la e tirar belas fotos. Ficamos famosos nos noticiários, jornais, revistas e TV. Parece que há trinta anos não acontecia. Minha irmã da Rua 7 se queixa da falta dos passarinhos na árvore da calçada. Eles faziam uma alegre algazarra nos finais de tarde ao se recolherem aos ninhos. Parece que foram buscar plagas mais quentes. Mas eles voltam, para desgosto dos carros ali estacionados. A sujeira dos capôs não sai com pouca água, é preciso esfregar...
Tudo isso nos trouxe umas férias inesperadas das tristes notícias. Foi um intervalo valioso em que pudemos apreciar melhor a vida e acreditar que o bem ainda existe e pode vencer o mal. Nossa situação política, econômica e moral é alarmante, mas, como disse o nosso querido Papa, temos que ter esperanças. Deus é pai. Não estamos sós.                   

sábado, 13 de julho de 2013

A SOGRA DO WALCYR

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 Em nome do bom senso, é difícil acreditar que haja sogras como a personagem do Walcyr na novela Amor à Vida. Uma megera! Convidada, a contragosto do genro, para morar com a filha na casa da família, ela não esquece as velhas implicâncias com ele. E continua a hostilizá-lo, pedir-lhe satisfações e colocar espiões à sua volta para flagrá-lo em mais uma infidelidade conjugal. Até no    seu ambiente de trabalho, o Hospital que ele dirige.
Pois eu conheci alguém que parece ter sido a inspiração para essa figura. Era a Dona Mimosa, que de mimosa não tinha nada. Viúva pobre, criou a filha única como uma princesinha bem vestida (a mãe era exímia costureira), e preparou-a desde cedo para um  casamento de sucesso. A mocinha era meiga e bem bonitinha, e com os truques da mãe – estar no lugar certo na hora certa e agir certo – conseguiu um bom partido. Ele era diretor de importante instituição pública do Estado. Pois a sogra metia o bedelho até na repartição, convidando para o chá da tarde as secretárias mais influentes e delas extraindo os segredos que lhe interessavam. Daí a uma rede de intrigas e fofocas foi um passo. Pode-se dizer que ela foi a responsável por muitas decisões oficiais do pobre genro...
Um dia destes, recordando essa personagem intrigante, minha mana lembrou uma de suas façanhas. Nossa tia era amiga desde jovem da filha dela e continuavam seu relacionamento visitando-se com frequência, na casa de uma, na capital, ou da outra, no interior. Numa ocasião, Dona Mimosa se queixava de que titia estava demorando a aparecer por lá. E descobriu que o motivo foram nossas doenças de criança que fizeram nossa Dinda vir em socorro da mãe atribulada. Pois a velhinha, enciumada com essa preferência, escreveu uma violenta carta que ficou na história. Em certo trecho dizia assim: “Ondina, quando te juntas com a tua mana e a filharada dela, é como construíres uma arca de Noé só para vocês. O resto do mundo pode soçobrar que nem estás ligando.” Ficamos encantadas com a expressão “soçobrar” que a velhinha empregou. Ela conhecia o poder das palavras e usava as expressões lidas nos romances da época, cheio de palavras pomposas!
Hoje somos as fontes mais antigas para essas heranças históricas. Quando procuramos alguém para confirmar nossas lembranças, não a encontramos mais. Somos sobreviventes de um mundo que ficou para trás. Como no filme Farherneit, do livro de mesmo nome, história de uma sociedade do futuro que proibia livros e leituras, e os rebeldes – escondidos em florestas -  decoravam as obras famosas, passando-as oralmente aos mais novos que tinham de também de decorá-las, porque os livros  eram incendiados em grandes fogueiras pelas brigadas do governo.
Tal como eles, mas sem a mesma pressão e sofrimento, pelo contrário, quando hoje nos reunimos em aniversários, casamentos e até mortes, os assuntos remontam a décadas atrás. E as lembranças se reacendem e se complementam. É quando uma das manas chega divertida dizendo: Trago hoje “novidades” antigas. O bom é que os mais novos se interessam, ficam ouvindo e depois passarão adiante. Assim, a tradição oral não vai morrer.
Por isso achei interessante registrar esse episódio da sogra e ao mesmo tempo confirmar que a arte imita a vida. E a inspiração se encontra em toda a parte...


sexta-feira, 5 de julho de 2013

NA RETAGUARDA









Este ano de dois mil e treze será lembrado como o da explosão do povo brasileiro, que cansou de ser bonzinho. Quando a gente – nós, os inativos – pensava que a juventude estava alienada, que pra eles tudo bem desde que não lhe faltassem os prazeres, eis que a turba se levanta através das redes sociais e faz aquele barulho! Capaz de fazer tremer os escalões superiores que mandavam e desmandavam sem ouvir suas reivindicações. Bem feito! E nós, na retaguarda, de mãos atadas, sem poder de barganha – quem vai atrás dos pedidos de aposentados que não fazem o país parar com greves? - vimos o milagre acontecer. Alguém pensou como nós, alguém sentiu como nós e com a força da juventude foi à luta. Que bom, nós que descríamos do poder da Internet, achando que só servia para distanciar os jovens dos diálogos com os mais velhos, agora descobrimos sua importância. Não foi preciso comícios, não foi preciso debates preliminares em locais anunciados previamente, pois quando chegou a hora, todos estavam avisados e compareceram.
As ruas e praças das grandes cidades, e até de pequenas, tornaram-se campo de batalha, onde se digladiam manifestantes contra policiais que, diga-se a bem da verdade, não desejam ferir ninguém. Mas, na confusão, quem pode garantir. E os maus elementos se infiltram, e as depredações e saques acontecem. Diz um analista político que, se não houvesse violência, o governo não reagiria tão rápido para conceder vantagens e voltar atrás em medidas desfavoráveis ao povo.
O fato é que a rotina foi abalada, nunca sabemos o que vem depois. Tememos pelos filhos, parentes e amigos que se encontram nesse burburinho, tendo que sair para o trabalho e não sabendo por qual caminho voltar. As notícias que a gente lê primeiro nos jornais mudaram de página. Em vez de Polícia, passou para Política e Economia. Pode ser que ali tenha havido as soluções esperadas.
Resta-nos rezar e esperar. Mas, acima de tudo, cabe-nos demonstrar o nosso amor e compreensão, pois somos os responsáveis pelo clima da família, pelo aconchego que faz a vida valer a pena. Ela deve ser preservada. É a salvação do mundo.

Estamos na retaguarda, mas quem diz que não é uma posição importante?