sábado, 13 de julho de 2013

A SOGRA DO WALCYR

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 Em nome do bom senso, é difícil acreditar que haja sogras como a personagem do Walcyr na novela Amor à Vida. Uma megera! Convidada, a contragosto do genro, para morar com a filha na casa da família, ela não esquece as velhas implicâncias com ele. E continua a hostilizá-lo, pedir-lhe satisfações e colocar espiões à sua volta para flagrá-lo em mais uma infidelidade conjugal. Até no    seu ambiente de trabalho, o Hospital que ele dirige.
Pois eu conheci alguém que parece ter sido a inspiração para essa figura. Era a Dona Mimosa, que de mimosa não tinha nada. Viúva pobre, criou a filha única como uma princesinha bem vestida (a mãe era exímia costureira), e preparou-a desde cedo para um  casamento de sucesso. A mocinha era meiga e bem bonitinha, e com os truques da mãe – estar no lugar certo na hora certa e agir certo – conseguiu um bom partido. Ele era diretor de importante instituição pública do Estado. Pois a sogra metia o bedelho até na repartição, convidando para o chá da tarde as secretárias mais influentes e delas extraindo os segredos que lhe interessavam. Daí a uma rede de intrigas e fofocas foi um passo. Pode-se dizer que ela foi a responsável por muitas decisões oficiais do pobre genro...
Um dia destes, recordando essa personagem intrigante, minha mana lembrou uma de suas façanhas. Nossa tia era amiga desde jovem da filha dela e continuavam seu relacionamento visitando-se com frequência, na casa de uma, na capital, ou da outra, no interior. Numa ocasião, Dona Mimosa se queixava de que titia estava demorando a aparecer por lá. E descobriu que o motivo foram nossas doenças de criança que fizeram nossa Dinda vir em socorro da mãe atribulada. Pois a velhinha, enciumada com essa preferência, escreveu uma violenta carta que ficou na história. Em certo trecho dizia assim: “Ondina, quando te juntas com a tua mana e a filharada dela, é como construíres uma arca de Noé só para vocês. O resto do mundo pode soçobrar que nem estás ligando.” Ficamos encantadas com a expressão “soçobrar” que a velhinha empregou. Ela conhecia o poder das palavras e usava as expressões lidas nos romances da época, cheio de palavras pomposas!
Hoje somos as fontes mais antigas para essas heranças históricas. Quando procuramos alguém para confirmar nossas lembranças, não a encontramos mais. Somos sobreviventes de um mundo que ficou para trás. Como no filme Farherneit, do livro de mesmo nome, história de uma sociedade do futuro que proibia livros e leituras, e os rebeldes – escondidos em florestas -  decoravam as obras famosas, passando-as oralmente aos mais novos que tinham de também de decorá-las, porque os livros  eram incendiados em grandes fogueiras pelas brigadas do governo.
Tal como eles, mas sem a mesma pressão e sofrimento, pelo contrário, quando hoje nos reunimos em aniversários, casamentos e até mortes, os assuntos remontam a décadas atrás. E as lembranças se reacendem e se complementam. É quando uma das manas chega divertida dizendo: Trago hoje “novidades” antigas. O bom é que os mais novos se interessam, ficam ouvindo e depois passarão adiante. Assim, a tradição oral não vai morrer.
Por isso achei interessante registrar esse episódio da sogra e ao mesmo tempo confirmar que a arte imita a vida. E a inspiração se encontra em toda a parte...


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