Minha ex-colega estava indignada. Ninguém mais me conhece, dizia. Precisando de um documento em uma repartição,
a mocinha atendente nem a olhou, estava ocupada ao telefone. Assunto oficial?
Que nada! Era um bate papo com uma amiga sobre os programas do próximo fim de
semana. A visitante declinou o nome, na esperança de que ele fosse conhecido
por seus trabalhos prestados na profissão, mas não funcionou. Pediu para falar
com a chefe, e a resposta é que ela se
encontrava em reunião.
Vou esperar, disse, e recebeu o olhar gelado da mocinha que
retrucou: Vai demorar. Espero assim mesmo. Uma verdadeira luta entre duas
gerações.
Comentando o caso, chegamos às mesmas conclusões. Não somos mais ninguém
se não estamos na ativa. Esquecem logo nosso trabalho, a influência que tivemos
nos acontecimentos da cidade, no nosso ramo de trabalho e afins. Nos velórios
de pessoas idosas que tiveram papel importante em nossa comunidade, que foram membros
importantes de clubes sociais e beneficentes, até gerentes de estabelecimentos,
diretores ou professores de escolas, só os familiares e poucos amigos da mesma
idade se fazem presentes. Poucas coroas de homenagens, ninguém representando o
setor de trabalho onde aquela pessoa deu tanto de si aos outros.
Nos noticiários, há relatos impressionantes de idosos que são maltratados
por familiares ou acompanhantes contratados para cuidá-los. E os coitados, sem
condições de reagir, passam fome, privações e torturas, depois de terem sido o
esteio de sua família e contribuído para a vida da comunidade.
No trânsito, então, é um horror. Os idosos que ainda têm o privilégio de
carteira de habilitação, não são poupados pelos demais motoristas que se
impacientam de esperar que eles coloquem o carro numa vaga apertada, nas ruas principais.
Vão logo gritando: sai do meio da rua, velha (ou velho). Quando, nas mesmas
circunstâncias, outros mais novos bloqueiam a passagem para ficar de fila
dupla, conversar com outro motorista que esteja passando ou cometendo outras
infrações. Ninguém lhes diz: Jovem, te manda.
Mas um outro sol começa a brilhar
neste mundo de Deus. O novo Papa escolheu ser Francisco, o protetor dos pobres,
fracos, humildes. Ele começou muito bem seu pontificado enaltecendo o papel do
idoso: ele é a referência, o guardião das relíquias do passado, da História da
Humanidade, das experiências humanas que vão embasar novas conquistas, novos
inventos e saberes. É preciso ouvi-lo, respeitá-lo, aprender com ele. Que bom,
ainda temos alguma serventia!
Mas algo mais deve ser feito. Pois não há uma lei contra o preconceito
racial? Ninguém pode chamar nossos afro-brasileiros de negros. Leva
cadeia. Que tal outra lei contra o
preconceito de idade. Chamar alguém de “velho” de maneira pejorativa deve ser crime também.
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