Neste último domingo fui conhecer o Parque da Fonte do Mato. Não sei se é
o mesmo projeto da administração do inesquecível prefeito Dr. Alcides Saldanha.
Mas, finalmente o sonho dos caçapavanos da Era da Pipa e do Noca está sendo realizado.
Gostei. Aquelas trilhas com pontezinhas artesanais e bancos rústicos, mas
confortáveis, de longe em longe, são espaços que encantam o olhar dos
visitantes. Mais adiante, uma
arquibancada que promete acomodar futuros espectadores para eventos variados,
principalmente musicais, eu espero.
Até ali, no entanto, pensei estar apreciando algo completamente novo, mas
ao ver a antiga casinha lá na frente, que foi um marco na paisagem, pois sempre
aparecia em fotografias antigas, eu me senti em casa. E a bica despejando
água sem parar, formando um riacho a perder de vista, com um murmúrio que
parece aquietar a alma da gente! Ah, meu Deus! Senti-me no céu.
Sentei-me e, confortavelmente, fiquei recordando domingos de outrora,
quando o passeio preferido da minha família era a ida à Fonte do Mato.
Íamos à frente de meus pais, pelo meio da Rua 7, e eles atrás, de braço, naquele
diálogo de eternos namorados que os acompanhou até a morte. Nós com nossos
canecos para beber a água pura “in loco”, numa algazarra e cantoria de crianças
felizes.
Lembro do mato que cercava a fonte. Era cerrado e cheiroso. Algumas
flores que chamávamos de marrequinhas – acho que era sua forma – com elas
fazíamos colares e pulseiras. A tarde passava tranquila, e nossas vozes
ressoavam à distância. Mamãe repartia o lanche, um bolo ou pão batido. Tento,
hoje, fazer um igual, mas perdi a receita.
Meu pensamento não para, e agora é a figura de siá Ernestina que me
acode. Seu sorriso bonito, o bambolear das cadeiras, equilibrando na cabeça a
trouxa de roupa lavada, passada e perfumada, de volta para as freguesas. Ah!, os
amaciantes industrializados de agora não têm o mesmo poder!
Vejo-a e a outras lavadeiras - nunca aos domingos - esfregando e batendo
roupas nas pedras ao redor; ouço suas conversas, às vezes algumas discussões. Por
espaço, ciumeiras, brigas dos filhos. Siá Ernestina não se envolvia. Era uma
dama. Abandonada pelo marido, criou os quatro filhos com a força de suas mãos e
o respeito das patroas. Avó do lendário futebolista Caçapava, teve outro filho
que também brilhou nesse esporte, o Tinga.
Neste domingo, tive a ventura de viver em três dimensões: apreciando o
Parque de agora, prevendo o bem que ele trará no futuro, e lembrando um passado
feliz que está sempre presente em meu coração.
Anna Zoé Cavalheiro
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