quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Varrendo as Folhas de Outono


É uma estação bonita, apesar da melancolia das calçadas cheias de folhas amarelas lembrando a vida que passou.
Vê-se a tristeza da mulher solitária, com a eterna vassoura, varrendo em vão as lembranças -  porque  elas voltam. Enquanto enxuga lágrimas furtivas que teimam em molhar seu rosto, o ar deslocado pelos veículos que passam devolvem à sua calçada aquelas mesmas folhas que ela há pouco expulsara.
Mas é outra a intenção daquele senhor de muitos invernos: colocá-las no lixo? Não! Elas devem retornar aos canteiros de folhagens e servirem de adubo a novas florações. É preciso pensar nas futuras primaveras, quando haverá outros jovens sonhando, outros seres se amando, outros bebês despertando para a vida.
Feliz dele que semeou amor e justiça e agora crê na bondade. Na vida que nunca morre, porque alguém há de vivê-la. Nos sonhos de justiça e liberdade que outros tornarão a sonhar. Na realidade a ser construída dia a dia pensando nos que virão depois de nós.
Esta brisa que entra pela janela, nas quietas horas da sesta de domingo, mais uma vez me faz indagar: onde ficava o Passinho da Aldeia de minha meninice, com seus cheiros de mato, borboletas voando, o murmúrio suave das águas empurrando barquinhos de papel cheios de sonhos e, por que não confessá-lo agora? Um bocado de medo da vida que corria à nossa frente?
Este ar que entra no quarto é como um hálito de criança – tão puro e refrescante! E me leva a crer que o lembrado Passinho da Aldeia está  exatamente sob a minha atual morada. Daí esta floração espontânea nos pequenos canteiros de tão pouca terra. Daí, quem sabe, a visitação constante de borboletas que perderam seu antigo “habitat” e beija-flores que sempre encontram alguma flor de cálice profundo onde mergulham seus sôfregos biquinhos.
O redemoinho das folhas que caem nas calçadas traz ecos do passado com apelos ao futuro.
É a mensagem do outono, e só poderá compreendê-la quem já viveu as estações anteriores. Mas principalmente aqueles que chegaram ao inverno sem jogar as folhas fora, convivendo com elas como um tributo à vida que não acaba, apenas toma outras formas. Renascendo a cada instante em outro verde, em outra flor.

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