Dizem que o número 13 é de azar. Não concordo, mesmo porque nasci num dia
treze e me considero afortunada na vida. Não pelo que tenho, mas até por isso,
porém mais pelo que sinto, este gostinho de viver cada dia como um privilégio e
de poder conviver com quem quero bem.
Mas este ano, já no início, demonstrou ser cruel. A tragédia de Santa
Maria suplantou o horror do Holocausto, porque aconteceu aqui, com gente como a
gente, conhecidos, parentes de parentes nossos, jovens sonhadores bem sucedidos
no vestibular, festejando a vida. Depois, a morte de minha amiga Elsa - que
falta ela me faz! Foi seu relógio biológico, preciso entender e aceitar, são
coisas que têm de acontecer. E agora meu primo Vicente que na nossa juventude
adorava ouvir-me contar comédias a que eu assistia no velho cinema da cidade. Hoje ele era um cidadão digno, profissional
de respeito na firma a que serviu por mais de meio século. Mas sempre com
aquele sorriso amigo de quem adora ajudar a quem precisasse de algum favor.
Gente fina, marido, pai, avô, irmão, primo e amigo inesquecível.
Hoje tive um momento emocionante. Foi o último dia que meu leiteiro fez
sua entrega. Ele vai-se aposentar, tratar da saúde que está precisando de
cuidados. Fiquei triste! Uma pessoa adorável, zeloso no trato das vacas e no
atendimento a sua freguesia. Um leite puro, limpo, que só fez bem a minha
família. Por cerca de trinta e cinco anos ele deixou o litro na porta da nossa
cozinha. Silencioso, discreto. No fim do mês era difícil pagá-lo, porque ele
saía logo, apressado. Sua vida não tem sido fácil. Levanta às quatro horas da
manhã para tratar das vacas, e à noite, por vários anos, teve de buscar uma
filha na Faculdade porque era perigoso deixá-la voltar sozinha. Ela já sofrera
um assalto, felizmente frustrado pelo motorista do ônibus de onde desembarcara
pouco antes. Ele desconfiou do homem que desceu em seguida atrás dela. Não deu
outra. Foi a salvação da moça. Felizmente ela já está formada, casada, e meu
leiteiro tem essa preocupação a menos, agora que todos os outros filhos também
já estão bem encaminhados. Graças a seu trabalho e amor de pai.
Nesta manhã, abri cedo o portão para não perder a chegada dele. E no
instante em que me despedi, confesso que chorei, naquele abraço que significou
muito, o grande apreço que lhe voto e o desejo que ele seja muito feliz na
aposentadoria. Que possa tratar da saúde e desfrutar de momentos deliciosos
junto a seus familiares e amigos. Ele merece. Mas preciso contabilizar na minha
agenda mais esta perda que vai mudar minha velha rotina.
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