segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

AS VOVÓS E OS BOTÕES






Considero-me privilegiada. Vivo em dois mundos. Sou do tempo do Repórter Esso com as notícias da 2ª Guerra Mundial, do Rei da Voz Francisco Carlos, da capital da república no Rio de Janeiro, das Rainhas do Rádio Emilinha Borba e Marlene e agora vou festejar o centenário de Lupicínio Rodrigues, que considero  ainda novo, um guri.
Atravessei muitas fases em que as modas eram outras e agora são imitadas de forma estilizada. Rui Spohr se refere às tendências dos anos 50, 60, 70, como se fossem muito antigas – mas com todo o respeito – e eu acho que elas parecem ter acontecido ainda ontem...
Quando me olho no espelho, fico comparando meus sinais de idade com os de minhas tias faceiras que não se descuidavam dos cremes. Peles muito boas, bem claras e protegidas do sol. Elas se horrorizavam quando nos viam de volta da praia bem escurinhas. Tinham razão, ainda mais se considerarmos as deficiências da camada de ozônio de agora. E dizer que em criança fiz aplicações de ultravioleta para curar minha anemia.
Neste verão escaldante do mês de dezembro, fico imaginando como as coitadas suportavam o calor da estação com as roupas que usavam. Nada de bermudas e camisetas, nem calças jeans. Shortinhos e vestidinhos, nem pensar. Eles  tapavam  os joelhos, com mangas até quase a metade do braço e decote  - só nos vestidos de festa.
Mas o que mais me causa admiração eram os mantôs pretos, de seda pesada que as tias e avós daquela época usavam. Eram abotoados de cima abaixo com botões forrados do mesmo tecido, e as alcinhas para fechá-los tinham um acabamento perfeito. Que trabalheira para vestir ou despir!
Tudo, porém, tem suas compensações, e a gente acostuma logo com os novos hábitos.
O mundo girou, girou, as maquininhas surgiram, e ninguém escapa de sua tecnologia. Nem os menos letrados, pois para receberem a aposentadoria têm sua senha e devem apertar os botões.
Enquanto me familiarizo com a TV de alta fidelidade, os skipes e novos aplicativos do computador – já apertei botões errados, e só os filhos, netos ou sobrinhos me tiraram dos apuros – vou bendizendo certas inovações que nos vêm dando uma vida mais confortável. Ventiladores, ar condicionado, batedeiras e liquidificadores, como é que nossas avós viviam sem eles? Sem celular, ficando dias e dias esperando notícias dos filhos! Agora é só clicar e já sabemos onde estão e o que fazem. Cada dia mais aperfeiçoados e inteligentes.
As vovós de agora deixaram o cesto de costura de lado e se ocupam com o Notebook.  Os botões são outros, mas a satisfação de conectar-se com o mundo, a vida, as pessoas queridas é mil vezes maior.
Um Feliz Ano Novo com tudo o que temos direito. Deus nos abençoe.



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