Há tantas lembranças perdidas, e se assim não fosse, o que seria de nosso
cérebro? Até os computadores rejeitam conteúdos demais. Agora mesmo, meu micro
avisa que vai compactuar as matérias recebidas. Não cabem...
Pois um dia dei para lembrar das rosquinhas no pescoço. Que não se vêem
hoje em dia, e ninguém fala nelas. Minto, um dia destes alguém falou. Isso
depois que eu fiquei pensando nelas dias atrás. Acontece muito comigo. Passo
tempos sem saber notícias de alguém, e é só pensar nessa pessoa que dentro de
vinte e quatro horas alguma notícia vai surgir. Ou ela mesma reaparece depois
de um prolongado sumiço.
Foi assim com as rosquinhas no pescoço.
Minha infância sem televisão, computador, celular ou rádio de pilha, teve
muito pátio para brincar. Nas tardes quentes a gente se entretinha debaixo de
uma árvore com o que houvesse ao redor. Fazíamos comidinha de comadre para as
bonecas, que eram enfeitadas com colares fabricados por nós com as flores à
mão. Geralmente eram as “maravilhas”, de diversas cores, pois tinham um formato
especial para encaixar. Pretendo semeá-las nos meus canteiros.
No fim de uma tarde naquele cenário rústico – os terrenos não eram
cimentados – a sujeira da terra ficava impregnada em nossos corpos suados.
Mãos, pés, rosto, o corpo todo assimilando aqueles grãos de terra, o banho da
tarde era uma necessidade de que nenhuma criança podia fugir. Os mais rebeldes
molhavam a cabeça e diziam que estavam limpos, mas a mãe examinava o pescoço e
descobria as temidas rosquinhas. Até um algodão embebido em álcool elas
passavam para as danadinhas sumirem. O pescoço acabava ficando vermelho. Era o
jeito!
Hoje as crianças se entretêm desde cedo com o computador. Não suam e vão
limpinhas para o banho do fim do dia. Mais do que conveniente agora - só por causa do calorão, senão ... Bonecas e
carrinhos ficaram de lado, os jogos virtuais são mais atraentes e demandam
menos energia. Para conversar com elas é muito difícil, estão sempre on-line,
não nos dão atenção. Seu mundo é outro, e elas estão-se criando sem as
experiências de outrora, sem as histórias e anedotários da família, sem os
diálogos entre irmãos, primos, pais e mães. Será que evoluíram?
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