Amigos me mandam e-mails incríveis de paisagens e cidades do 1º Mundo.
Tudo tão certinho! Construções antigas, mas bem conservadas, mostrando os dons
artísticos de seus idealizadores. E também seu senso de ordem e respeito ao bem
estar dos outros. Ruas limpas, calçamento sem falhas, folhagens nas jarreiras,
janelas com floreiras e cortinas esvoaçantes. Nada por terminar, tudo pronto
para ser usufruído com prazer. Imagino um piano tocando na tranquilidade de um
entardecer de inverno. Uma lareira aquecendo o ambiente que acolhe os moradores
chegando do trabalho, da escola, das compras... O cheiro gostoso das panelas no
fogão.
Engarrafamentos de trânsito na saída do trabalho, nem pensar. Cachorros
soltos nas ruas, lixos espalhando-se nas calçadas, entulhos aguardando dias e
dias a sua retirada, filas intermináveis nas paradas de ônibus ou metrô, coisas
que para nós são o nosso dia a dia, parece que lá não tem.
E eu que sonhava tudo isso para o Brasil, quando na escola estudava as
riquezas sem fim da nossa pátria. O país do futuro...”Tem o ouro, tem petróleo,
carbonatos, diamantes, e tem rios caudalosos e cascatas deslumbrantes”... Nosso
coro orfeônico cantava sob a batuta da Diná Néri, e nós acreditávamos em tudo
aquilo. Que nossas reservas florestais jamais acabariam. Que a força das águas
e as reservas de carvão e outros fósseis garantiriam para sempre a energia. Que
os trens se aprimorariam até chegarem à altura dos trens-bala do primeiro
mundo. Que a borracha, o café, o cacau, o açúcar e outras culturas serviriam de
lastro à nossa economia. Que haveria dirigentes honestos e competentes para
lidar com a coisa pública e administrar corretamente nossas riquezas.
Quando a televisão mostra as queimadas das florestas, eu mudo de canal. É
demais pra mim.
Lembro que eu sonhava com a estrada de ferro chegando a Caçapava. Diziam que era o nosso relevo que impedia - muitas
serras para contornar ou cavar túneis. Mas para as estradas de rodagem isso não
foi problema.
Cheguei a fazer a travessia do Guaíba para ir a Porto Alegre. Uma viagem
tão gostosa e limpa, sem a poeira das estradas daquela época.
Os trens de carga transportavam nossos produtos. E a navegação fluvial
também foi uma esperança. Entretanto, ferrovias ficaram inacabadas, trilhos de
trens e de bondes urbanos foram arrancados em nome do progresso. E as rodovias
estão chegando ao máximo de sua trafegabilidade. Acidentes todos os dias.
Centenas e milhares em perdas de vida. E o petróleo imperando. Gerando
conflitos e mesmo guerras sem fim em seu nome. E aqui entre nós, deu no que
deu. Caíram as máscaras dos grandes líderes de nossa economia. Bolsos recheados
para os mandantes, panela vazia para os que com seu trabalho produzem as
riquezas. E a falta de água até na maior metrópole do país! E a consequente
crise de energia. Quem vai pagar o prejuízo?
“Eta, mundo velho sem porteira”, como diria um personagem de Érico
Veríssimo. Por onde começar a corrigir esses erros?
Enquanto isso, o número de motoristas bêbados ao volante não para de
crescer. E vítimas inocentes acontecem com frequência. Dá para pensar: adianta
andar certo? Claro que sim. Se cada um fizesse a sua parte como o passarinho no
incêndio da floresta, o bom exemplo ajudaria e muito.
Revendo aquelas imagens bonitas dos países de 1º Mundo, e comparando com
o desmazelo em que nos encontramos aqui, ainda assim continuo a sentir que
jamais gostaria de morar em outro lugar. Pois, diante da atual face do país tão
mal vista no mundo, por sua violência, corrupção, alto risco nos
empreendimentos e tanta coisa errada, eu ainda sou de opinião de que ele é o
melhor país do mundo, onde a gente se sente mais feliz e solidária. Com vontade
de ajudar, de pôr band-aid em suas
feridas, de confortá-lo dos golpes de seus algozes.
Brasil, terra dos meus amores, dos meus sonhos e esperanças, eu te amo.
Ontem, hoje e sempre.
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