quinta-feira, 9 de abril de 2015

CAMINHAR É PRECISO






Foi uma grande surpresa. Na primeira semana do Estacionamento Zona Azul Brasil, era um prazer transitar pelas ruas centrais bem limpas e espaçosas. E estacionar, então! Havia vagas a perder de vista. Dava para escolher a mais conveniente. Onde foram parar os carros da cidade?
Mas a alegria durou pouco. O crédito pré-pago, que parecia ter longa duração, foi logo acabando e exigindo nova recarga. Fazendo as contas, para quem precisa ir ao centro seguidamente, o gasto não é pouco. Mais um compromisso a saldar cada mês. Juntando aos demais, aumento nas contas de energia e na inflação, dólar subindo, bem como o preço dos combustíveis... É preciso cada família fazer uma avaliação criteriosa dos gastos para saber se os salários aguentam. No dia a dia a dona de casa tem de calcular o que é mais econômico: coser o bolo no fogão a gás ou no elétrico? Aquecer o leite para o café da manhã no microondas ou no fogão?
E as caminhadas pelo centro da cidade não são poucas.
Quando chega a hora dos pagamentos das contas de praxe em banco, telefone, carnê de domésticas, água e luz, é aquela maratona para saber quem as recebe. As agências bancárias mandam para as lotéricas. Estas aceitam alguns cartões, outros não, e a gente tem de fazer uma peregrinação penosa, deixando o carro lá longe para não aumentar a despesa.
Confesso que há muito tempo não caminhava tanto. Quando o arzinho da manhã tem a cara de outono, tudo bem, dá para suportar. Mas nos calores abafados dos últimos dias foi um calvário.
Certa manhã, ou melhor, já em ponto de meio dia, voltei ao local onde estacionara o carro – na frente da Matriz. Esbaforida, suada, com o estômago roncando de fome, coitada de mim, pensei. Pois encontrei uma amiga num estacionamento Azul. Ela me disse: hoje não estão cobrando. Falhou o sistema. Saiu do ar. Por que eu não soube antes?!
Mas em todos os contratempos, sobra alguma coisa de bom. É divertido encontrar conhecidos que se queixam das mesmas coisas. Da distância em que deixaram os carros para não pagar estacionamento. Da preocupação em ativar a memória a lembrar onde estacionaram para fugir dos gastos extras.
Foi assim que encontrei pessoas que nem lembrava mais. Saíram de meu convívio, viveram suas vidas, seus trabalhos – fora do meu alcance. Mas agora nos reencontramos no mesmo empenho de aprender as novas regras da vida urbana, que estão sempre mudando. Para melhor, espero. Pois é preciso nunca esquecer que o sol nasceu para todos, e não podemos ocupar por muito tempo espaços que vão interferir no direito de outro ali também ficar.
Com educação, gentileza, tolerância, tornaremos nossos novos hábitos agradáveis e proporcionaremos outras fontes de trabalho para as gentis azuizinhas que não cansam de colocar aqueles papeizinhos amarelos nos parabrisas de nossos carros.
Elas que não percam as esperanças. No inverno, em dias chuvosos ou muito frios, esqueceremos a economia e usaremos os espaços do estacionamento pago. Se Deus quiser.


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