Foi uma grande surpresa. Na primeira semana do Estacionamento Zona Azul
Brasil, era um prazer transitar pelas ruas centrais bem limpas e espaçosas. E
estacionar, então! Havia vagas a perder de vista. Dava para escolher a mais conveniente.
Onde foram parar os carros da cidade?
Mas a alegria durou pouco. O crédito pré-pago, que parecia ter longa
duração, foi logo acabando e exigindo nova recarga. Fazendo as contas, para
quem precisa ir ao centro seguidamente, o gasto não é pouco. Mais um
compromisso a saldar cada mês. Juntando aos demais, aumento nas contas de
energia e na inflação, dólar subindo, bem como o preço dos combustíveis... É
preciso cada família fazer uma avaliação criteriosa dos gastos para saber se os
salários aguentam. No dia a dia a dona de casa tem de calcular o que é mais
econômico: coser o bolo no fogão a gás ou no elétrico? Aquecer o leite para o
café da manhã no microondas ou no fogão?
E as caminhadas pelo centro da cidade não são poucas.
Quando chega a hora dos pagamentos das contas de praxe em banco,
telefone, carnê de domésticas, água e luz, é aquela maratona para saber quem as
recebe. As agências bancárias mandam para as lotéricas. Estas aceitam alguns
cartões, outros não, e a gente tem de fazer uma peregrinação penosa, deixando o
carro lá longe para não aumentar a despesa.
Confesso que há muito tempo não caminhava tanto. Quando o arzinho da
manhã tem a cara de outono, tudo bem, dá para suportar. Mas nos calores
abafados dos últimos dias foi um calvário.
Certa manhã, ou melhor, já em ponto de meio dia, voltei ao local onde
estacionara o carro – na frente da Matriz. Esbaforida, suada, com o estômago
roncando de fome, coitada de mim, pensei. Pois encontrei uma amiga num
estacionamento Azul. Ela me disse: hoje não estão cobrando. Falhou o sistema.
Saiu do ar. Por que eu não soube antes?!
Mas em todos os contratempos, sobra alguma coisa de bom. É divertido
encontrar conhecidos que se queixam das mesmas coisas. Da distância em que
deixaram os carros para não pagar estacionamento. Da preocupação em ativar a
memória a lembrar onde estacionaram para fugir dos gastos extras.
Foi assim que encontrei pessoas que nem lembrava mais. Saíram de meu
convívio, viveram suas vidas, seus trabalhos – fora do meu alcance. Mas agora nos
reencontramos no mesmo empenho de aprender as novas regras da vida urbana, que
estão sempre mudando. Para melhor, espero. Pois é preciso nunca esquecer que o
sol nasceu para todos, e não podemos ocupar por muito tempo espaços que vão
interferir no direito de outro ali também ficar.
Com educação, gentileza, tolerância, tornaremos nossos novos hábitos
agradáveis e proporcionaremos outras fontes de trabalho para as gentis
azuizinhas que não cansam de colocar aqueles papeizinhos amarelos nos
parabrisas de nossos carros.
Elas que não percam as esperanças. No inverno, em dias chuvosos ou muito
frios, esqueceremos a economia e usaremos os espaços do estacionamento pago. Se
Deus quiser.
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