sábado, 2 de junho de 2012

TAMBORES NA ALDEIA GLOBAL

Não ouço mais o canto dos galos nas novas madrugadas. Agora o que me acorda é o som do caminhão do lixo fazendo a coleta e o ruído dos jornais sendo jogados pela fresta da janela. Mas antes que eu possa apanhá-los, o rádio me dá as primeiras notícias do dia. Antônio Carlos Macedo e outros locutores da Gaúcha são os primeiros a pôr-me a par do que vai pelo mundo. Recordo a voz bonita de José Aldair, agora aposentado. De olhos ainda fechados, fico sabendo do panorama político nacional e mundial, da previsão do tempo com Cleo Kuhn e condições do trânsito na região metropolitana, por Saraiva Jr. O doloroso de ouvir são os acidentes e mortes violentas. Depois da crônica de Túlio Milman e do Correspondente Ipiranga, é hora de levantar. Na mesa do café, ponho-me a ler os jornais. Mas das notícias já sei as mais importantes, e os editoriais e crônicas dos colunistas, deixo para saborear à noite, na hora da novela das nove. Se o capítulo me interessa, restam-me os intervalos. Meu humor, ao sair de casa, vai depender em muito do que os “tambores da aldeia global” me comunicarem. A morte de um menino atropelado ao sair da Catequese foi demais. Pensei em meu netinho que agora é adolescente e não precisa sair de mão com ninguém. Agora é que vem o perigo. Fiquei louca de pena dos pais daquele garoto. E devia ter uma vovó que, de coração sangrando, ainda tem a missão de enxugar as lágrimas dos filhos. E tantos adolescentes assassinados nesta última madrugada. Dezesseis, dezessete anos, no vigor da vida. Na rua, nas filas dos bancos e nos supermercados, vou encontrando gente de carne e osso. Que eu posso abraçar, ouvir, conversar. Ontem vi uma colega do primário. Naquele tempo, tão distante, os galos cantavam, e sua mensagem era respondida de pátio em pátio até os confins da cidade. Mas atualmente há coisas melhores. Pelo menos, mais fáceis. Não é preciso esperar que a lenha se transforme em fogo para aquecer o leite do café da manhã. Nem tirar água do poço para tomar banho. Se esqueço de alguma encomenda para o almoço, minha empregada me alcança no celular. Cartões de banco substituem dinheiro e cheques. Difícil é ensinar alguns idosos a guardar as senhas e acessar os devidos botões. Em contrapartida, o peso das misérias humanas se abate mais fortemente sobre todos nós. Ao vivo e a cores, de todos os cantos do mundo pela mídia inclemente. Por isso, à noite, depois de ler os bons cronistas, eu quero mesmo é conviver com meus amigos virtuais: Seinfeld e seus amigos de seriado; Paul e Jamie de “Mad about you”; os detetives e os promotores de “Law & Order” que eu tenho o prazer de reencontrar sempre nos mesmos horários. Às terças é “Tapas e Beijos”; às quintas a “Grande Família” que revelam o talento de nossos artistas nacionais. Sejam daqui ou estrangeiros, o que importa é a carga de humor que transmitem, ajudando a gente a levar a vida. Apesar de tudo e por tudo.

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