Ah, exclusividade! Palavra mágica da propaganda comercial. Produtos
exclusivos, atendimento exclusivo, todo o mundo quer para si. Mas, não sendo
possível, aí vêm a pirataria, as clonagens, e as gatinhas dos morros e
periferias ficam tão na moda como as “patricinhas”. As fitas e discos são
ouvidos com o mesmo enlevo das originais. Claro que para o bom conhecedor, a
distância é grande, mas...
A democracia manda que cada um aguarde sua vez na fila, e os “furões”
sempre acham uma maneira de passar alguém para trás. Antes, eram os cartões de
assessores de assessores de autoridades que abriam as portas. Agora,
felizmente, já não se vêem muito desses procedimentos, pelo menos tão
explícitos.
Entretanto, como é bom a gente ser reconhecida numa multidão, convidada
para passar à frente e ter aquela atenção especial, com exclusividade! Até que
chegue alguém mais importante e te deixem novamente à espera, com a cara no
chão. É bom proceder como Cristo ensinou: coloca-te no último lugar, para que
sejas convidado a subir para mais perto do anfitrião. Do contrário, podem
pedir-te que dês um passo atrás para deixar passar alguém mais importante do
que tu. Seria muito humilhante.
Este mundo está cheio demais, dizem os entendidos. E por isso nos tratam
como massa, atribuindo-nos apenas um número. Aliás, sem esse número, o do CPF,
não somos ninguém, mais.
Mas para alguém muito querido ainda somos uma pessoa especial, única no
mundo, tratada por isso com toda a exclusividade. É para nossa mãe.
Agora as mães geralmente têm um filho só. Mas no meu tempo de infância as
famílias eram numerosas, de seis, cinco, oito, dez irmãos, e a mãe achava
sempre um espaço para tratar cada filho com atenção especial. Sabia seu prato
predileto, e todos eram brindados em dias certos, como o do aniversário ou do
início de suas férias, ou a despedida para nova jornada de estudos fora de casa
com seu prato preferido. Até agora lembro o guisado com farofa e rodelas de ovo
que me deliciava.
Mas o melhor mesmo era quando eu adoecia, o que acontecia seguidamente
antes de extrair as amígdalas. Aí eu tinha minha mãe todinha para mim, contando
estórias, fazendo-me bonecas novas de pano e vestidinhos para as antigas. E mamãe
sabia brincar, inventar novos enredos, como festas de casamentos e batizados.
Quando ela saía de perto para atender aos demais, eu ficava esperando ansiosa.
E ela voltava com um mingau de maisena polvilhado de canela ou uma banana
esmagada, com açúcar. Era tão bom que faltava a vontade de ficar boa, de voltar
a levantar cedo para a escola, deixar a cama quentinha e, principalmente,
aquele carinho exclusivo.
Agora não tem graça adoecer. Por isso é que tenho mais saúde.
Exclusividade gratuita só existe mesmo no amor de mãe,
que distingue a respiração irregular do nenê febril no meio da noite. Que pelo
tom de voz ao telefone percebe que o filho está com problemas. Que pressente o
momento certo e a palavra certa para dizer e agir nos momentos incertos. Só
mãe, mesmo, sabe usar de exclusividade com sabedoria e muito amor.
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