O ambiente no Banco não era dos mais animadores. Só dois caixas
atendendo, um aos idosos e o outro aos demais, inclusive donos de empresas com
seu chumaço de docs. Não davam nenhuma esperança de atenderem a tempo. Ainda
mais que chegava a hora do almoço de um dos funcionários – hora sagrada para
ele, os usuários que se danem. Mas nem tudo está perdido, agora que há bancadas
confortáveis nas agências, e a conversa entre os aposentados rola solta.
Minha vizinha de assento, por uma graça especial - Deus seja louvado
- é a Ruth, minha contemporânea,
protagonista e relicário das mesmas lembranças do passado. Passamos, então, momentos
bem agradáveis recordando como era a vida na nossa juventude e idade adulta –
agora somos octogenárias privilegiadas de boa saúde e memória.
Ficamos ali relembrando como a vida mudou vertiginosamente nas últimas
décadas. E concluímos que nenhuma outra geração, na história da humanidade,
passou por transformações tão rápidas e arrasadoras como a nossa. Ficamos imaginando
o que diriam nossos pais, se ressuscitassem, dos novos engenhos, caixas
eletrônicos, cartões magnéticos, senhas... Sem falar na televisão digital, nos
iphones, celulares, Facebooks ... No seu tempo, já era uma graça assistir a
novelas em preto e branco no aconchego do lar.
Os meios de transporte eram outros. As estradas sem asfalto, os
motoristas pondo correntes nos pneus para enfrentar os atoleiros. Às vezes era
preciso atravessar campos alheios, abrindo porteiras ou cortando arames para
seguir em frente. Com
a permissão dos proprietários, claro, e até com a ajuda de suas juntas de bois
para desatolar os veículos! Depois, era
esperar a barca no Passo Seringa, do rio S. Lourenço, para chegar a Cachoeira.
De lá, se precisavam ir a Porto Alegre, tomar o trem e fazer sete horas de
viagem, se não houvesse atraso...
Em casa, o serviço era bem rudimentar. Fogão a lenha, chuveiro de lata,
nada de água encanada. A talha era o utensílio de honra, entronizada numa
banqueta colocada na cozinha. E a chegada do pipeiro era saudada com vivas pela
criançada da casa, louca de sede à espera da água potável. Porque a do poço das
casas era salobra, não dava para o consumo. Fogão a gás, nem pensar. E o tempo
que o leite demorava a ferver no fogão a lenha deixava todos com fome, no
aguardo. Em compensação, a manteiga, o queijo, as ambrosias e arroz de leite
tinham sabor especial, que deixou saudades. Os doces de abóbora levavam uma
tarde inteira no fogo, mas que delícia!
Batedeiras, liquidificadores, coisas inimagináveis nos anos quarenta. Mas
as merengadas parece que tinham mais sustância, não desandavam como agora.
Olhando na papeleta da senha, deu para ver o início da espera na agência
bancária, até chegar ao guichê: cinquenta e cinco minutos. Não há uma lei,
ordem, ou qualquer coisa assim estabelecendo o limite de vinte minutos de
espera? Quem vai atrás?!
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