sexta-feira, 14 de setembro de 2012

UMA GERAÇÃO ESPECIAL






O ambiente no Banco não era dos mais animadores. Só dois caixas atendendo, um aos idosos e o outro aos demais, inclusive donos de empresas com seu chumaço de docs. Não davam nenhuma esperança de atenderem a tempo. Ainda mais que chegava a hora do almoço de um dos funcionários – hora sagrada para ele, os usuários que se danem. Mas nem tudo está perdido, agora que há bancadas confortáveis nas agências, e a conversa entre os aposentados rola solta.
Minha vizinha de assento, por uma graça especial - Deus seja louvado -  é a Ruth, minha contemporânea, protagonista e relicário das mesmas lembranças do passado. Passamos, então, momentos bem agradáveis recordando como era a vida na nossa juventude e idade adulta – agora somos octogenárias privilegiadas de boa saúde e memória.
Ficamos ali relembrando como a vida mudou vertiginosamente nas últimas décadas. E concluímos que nenhuma outra geração, na história da humanidade, passou por transformações tão rápidas e arrasadoras como a nossa. Ficamos imaginando o que diriam nossos pais, se ressuscitassem, dos novos engenhos, caixas eletrônicos, cartões magnéticos, senhas... Sem falar na televisão digital, nos iphones, celulares,  Facebooks  ... No seu tempo, já era uma graça assistir a novelas em preto e branco no aconchego do lar.
Os meios de transporte eram outros. As estradas sem asfalto, os motoristas pondo correntes nos pneus para enfrentar os atoleiros. Às vezes era preciso atravessar campos alheios, abrindo porteiras ou cortando arames para seguir em frente. Com a permissão dos proprietários, claro, e até com a ajuda de suas juntas de bois para desatolar os veículos!  Depois, era esperar a barca no Passo Seringa, do rio S. Lourenço, para chegar a Cachoeira. De lá, se precisavam ir a Porto Alegre, tomar o trem e fazer sete horas de viagem, se não houvesse atraso...
Em casa, o serviço era bem rudimentar. Fogão a lenha, chuveiro de lata, nada de água encanada. A talha era o utensílio de honra, entronizada numa banqueta colocada na cozinha. E a chegada do pipeiro era saudada com vivas pela criançada da casa, louca de sede à espera da água potável. Porque a do poço das casas era salobra, não dava para o consumo. Fogão a gás, nem pensar. E o tempo que o leite demorava a ferver no fogão a lenha deixava todos com fome, no aguardo. Em compensação, a manteiga, o queijo, as ambrosias e arroz de leite tinham sabor especial, que deixou saudades. Os doces de abóbora levavam uma tarde inteira no fogo, mas que delícia!
Batedeiras, liquidificadores, coisas inimagináveis nos anos quarenta. Mas as merengadas parece que tinham mais sustância, não desandavam como agora.
Olhando na papeleta da senha, deu para ver o início da espera na agência bancária, até chegar ao guichê: cinquenta e cinco minutos. Não há uma lei, ordem, ou qualquer coisa assim estabelecendo o limite de vinte minutos de espera? Quem vai atrás?!
Mas a manhã não foi perdida. É sempre um lucro encontrar pessoas queridas que nos falam e ouvem sem pressa. Ainda mais quando se pode viver, na lembrança, tantos anos passados, mas não esquecidos. 

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