terça-feira, 18 de setembro de 2012

UMA PROFISSÃO DO PASSADO








Há tanta coisa mudando todo o dia que muitas vezes não percebemos o que deixou de existir. Assim as profissões, o que era necessário no passado agora é obsoleto, já tem substituto.
Recordei certo dia a nossa lavadeira de um tempo que já vai longe. Aquela figura simpática, trouxa à cabeça, que da Fonte do Mato, seu local de trabalho, já evoluíra para a profissional moradora das chácaras vizinhas, e agora desapareceu de um todo.
Cada semana, menos quando chovia, ela vinha com seu sorriso e sua prosa. Ninguém igual para contar casos de todo o dia com jeito tão pitoresco! Na linguagem de pessoa simples, mas que muito aprendeu e tem o que ensinar na escola da vida.
Quando ela mandou dizer que não ia mais trabalhar, foi um choque para nossa família. As águas geladas do arroio, o vento frio, o sol escasso do inverno demorando a secar as roupas – tudo muito desgastante para sua saúde, agora que a idade vai avançando.
Pobres de nós que contávamos com seu trabalho feito com tanto capricho.
O remédio foi apelar para as máquinas lavadoras. Porém elas jamais poderiam substituir a contento a nossa lavadeira de tantos anos.
Quantos momentos de nossas vidas passamos juntas. Vimos seus filhos criarem-se enquanto criamos os nossos. Os pijaminhas de pelúcia com desenhos de ursinhos foram dando lugar aos abrigos de jovens atletas. E ela sempre firme no seu posto. Depois chegaram seus netos. Batizados, festinhas de aniversários, quinze anos... Doenças. As receitas caseiras. Os chás de ervas miraculosas que ela trazia lá da chácara.
Que máquina lavadora terá a pretensão de tomar seu lugar? Aquelas mãos fortes que sabiam esfregar, torcer, pendurar a roupa na cerca ou deixá-la corar ao sol? Que máquina poderá acrescentar ao serviço aquele cheirinho de mato que ficava nas roupas? De pasto bem verde, onde as vaquinhas leiteiras da sua família desfilavam com seus terneirinhos? Que fazia pensar em água limpa correndo entre pedras, sombreada de longe em longe por árvores nativas. Vassoura vermelha, cambarás, aroeiras. Que se transformavam em lenha, depois em brasas para os ferros de passar. Por esse meio entravam em nossos lares, purificando o ambiente cada vez mais artificial de nossos dias.
Ficamos sentindo saudades. Do serviço bem feito, da presença amiga de toda a semana em nossa casa, trazendo a doce nostalgia dos campos, das matas, do céu aberto.
Enquanto isso, outras profissões estão surgindo, como a de passadeira, por exemplo. Afinal, a máquina não faz tudo como as nossas antigas lavadeiras

Nenhum comentário:

Postar um comentário