Há tanta coisa mudando todo o dia que muitas vezes não percebemos o que
deixou de existir. Assim as profissões, o que era necessário no passado agora é
obsoleto, já tem substituto.
Recordei certo dia a nossa lavadeira de um tempo que já vai longe. Aquela
figura simpática, trouxa à cabeça, que da Fonte do Mato, seu local de trabalho,
já evoluíra para a profissional moradora das chácaras vizinhas, e agora
desapareceu de um todo.
Cada semana, menos quando chovia, ela vinha com seu sorriso e sua prosa.
Ninguém igual para contar casos de todo o dia com jeito tão pitoresco! Na
linguagem de pessoa simples, mas que muito aprendeu e tem o que ensinar na
escola da vida.
Quando ela mandou dizer que não ia mais trabalhar, foi um choque para nossa
família. As águas geladas do arroio, o vento frio, o sol escasso do inverno
demorando a secar as roupas – tudo muito desgastante para sua saúde, agora que
a idade vai avançando.
Pobres de nós que contávamos com seu trabalho feito com tanto capricho.
O remédio foi apelar para as máquinas lavadoras. Porém elas jamais poderiam
substituir a contento a nossa lavadeira de tantos anos.
Quantos momentos de nossas vidas passamos juntas. Vimos seus filhos
criarem-se enquanto criamos os nossos. Os pijaminhas de pelúcia com desenhos de
ursinhos foram dando lugar aos abrigos de jovens atletas. E ela sempre firme no
seu posto. Depois chegaram seus netos. Batizados, festinhas de aniversários,
quinze anos... Doenças. As receitas caseiras. Os chás de ervas miraculosas que
ela trazia lá da chácara.
Que máquina lavadora terá a pretensão de tomar seu lugar? Aquelas mãos
fortes que sabiam esfregar, torcer, pendurar a roupa na cerca ou deixá-la corar
ao sol? Que máquina poderá acrescentar ao serviço aquele cheirinho de mato que
ficava nas roupas? De pasto bem verde, onde as vaquinhas leiteiras da sua
família desfilavam com seus terneirinhos? Que fazia pensar em água limpa
correndo entre pedras, sombreada de longe em longe por árvores nativas.
Vassoura vermelha, cambarás, aroeiras. Que se transformavam em lenha, depois em
brasas para os ferros de passar. Por esse meio entravam em nossos lares,
purificando o ambiente cada vez mais artificial de nossos dias.
Ficamos sentindo saudades. Do serviço bem feito, da presença amiga de
toda a semana em nossa casa, trazendo a doce nostalgia dos campos, das matas,
do céu aberto.
Enquanto isso, outras profissões estão surgindo, como
a de passadeira, por exemplo. Afinal, a máquina não faz tudo como as nossas
antigas lavadeiras
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