Existirá clima mais melancólico do que os ares dos últimos dias de verão?
Fazem-me lembrar a música que cantávamos em verões longínquos, passados no
sítio de nosso Dindo querido. Quando ficávamos admirando o pôr do sol, e uma
tristeza sem motivo pairava entre nós, tão jovens na época e tão inocentes da
vida que haveríamos de viver!
A música chamava-se “Derradeira
rosa de verão”, e eu então pensava naquela flor solitária assistindo as outras
murcharem uma a uma... Coitadinha, pagava bem caro o privilégio de sua
sobrevida.
Muitas rosas derradeiras murcharam desde então, mas nas longas tardes de
agora nosso lazer é ocupar as mãos com trabalhos de agulha e trocar notícias de
nossos filhos, netos e amigos. Nada de nostalgia. A vida segue para frente.
Cada dia é uma existência e temos de vivê-la com plenitude e gratidão,
procurando legar algo de valor para os jovens, como o nosso exemplo, caráter,
atitudes. Ficamos tristes ao pensar que tantas vidas jovens em Santa Maria partiram para sempre, sem concretizar seus
sonhos de amor, profissão, ideais.
Enquanto esperamos a chuva cair e terminar com a seca, o prazer é olhar
os pequenos canteiros de nossos exíguos quintais apresentando o fruto de nosso
trabalho: de algumas sementes jogadas ao léu, brotam pés de abóbora e melões
extrapolando os limites e estendendo-se pelas lajotas. O pé de chuchu está
subindo, subindo e já se enroscou na roseira que definha dia a dia. Ela já deu
sua última rosa deste verão.
Fico pensando no milagre da vida: o
grão da mostarda que se transforma em árvore frondosa. Esta parábola eu
pretendo que alguém me explique. Conheço a mostarda verdura, mas existe a
mostarda árvore?
Quando vejo um lavrador apanhando um punhado de terra de sua messe,
olhando-a com todo o carinho, parece-me que ele está mimando uma criança muito
amada. Sei que ele vai tratá-la como ela merece, e isso me comove muito.
Por isso, eu que nunca fui de carnaval, bati palmas para a escola campeã
deste ano, no Rio de Janeiro – a Vila Isabel do inesquecível Noel Rosa - que
homenageou a Agricultura. E os cariocas ficaram boquiabertos com a criatividade
dos idealizadores que valorizaram a boa terra nossa e tudo que nela, plantando,
dá.
A chuva vai cair, e nossos campos e lavouras vão mostrar do que são
capazes. É só esperar.
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