sábado, 16 de fevereiro de 2013

DERRADEIRA ROSA







Existirá clima mais melancólico do que os ares dos últimos dias de verão? Fazem-me lembrar a música que cantávamos em verões longínquos, passados no sítio de nosso Dindo querido. Quando ficávamos admirando o pôr do sol, e uma tristeza sem motivo pairava entre nós, tão jovens na época e tão inocentes da vida que haveríamos de viver!
 A música chamava-se “Derradeira rosa de verão”, e eu então pensava naquela flor solitária assistindo as outras murcharem uma a uma... Coitadinha, pagava bem caro o privilégio de sua sobrevida.
Muitas rosas derradeiras murcharam desde então, mas nas longas tardes de agora nosso lazer é ocupar as mãos com trabalhos de agulha e trocar notícias de nossos filhos, netos e amigos. Nada de nostalgia. A vida segue para frente. Cada dia é uma existência e temos de vivê-la com plenitude e gratidão, procurando legar algo de valor para os jovens, como o nosso exemplo, caráter, atitudes. Ficamos tristes ao pensar que tantas vidas jovens em Santa Maria  partiram para sempre, sem concretizar seus sonhos de amor, profissão, ideais.
Enquanto esperamos a chuva cair e terminar com a seca, o prazer é olhar os pequenos canteiros de nossos exíguos quintais apresentando o fruto de nosso trabalho: de algumas sementes jogadas ao léu, brotam pés de abóbora e melões extrapolando os limites e estendendo-se pelas lajotas. O pé de chuchu está subindo, subindo e já se enroscou na roseira que definha dia a dia. Ela já deu sua última rosa deste verão.
 Fico pensando no milagre da vida: o grão da mostarda que se transforma em árvore frondosa. Esta parábola eu pretendo que alguém me explique. Conheço a mostarda verdura, mas existe a mostarda árvore?
Quando vejo um lavrador apanhando um punhado de terra de sua messe, olhando-a com todo o carinho, parece-me que ele está mimando uma criança muito amada. Sei que ele vai tratá-la como ela merece, e isso me comove muito.
Por isso, eu que nunca fui de carnaval, bati palmas para a escola campeã deste ano, no Rio de Janeiro – a Vila Isabel do inesquecível Noel Rosa - que homenageou a Agricultura. E os cariocas ficaram boquiabertos com a criatividade dos idealizadores que valorizaram a boa terra nossa e tudo que nela, plantando, dá.
A chuva vai cair, e nossos campos e lavouras vão mostrar do que são capazes. É só esperar.

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