Chegou o dia da colheita no pequeno canteiro de meu pátio. O primeiro
melão, bem amarelinho, foi logo preparado num prato com tampa, direto para a
geladeira. Uma delícia na hora do lanche!
Os outros dois ficaram programados para serem colhidos nos dias
seguintes, quando estariam madurinhos da silva.
A vontade que tive foi de compartilhar com os familiares do prazer de
comê-lo. Filhos ausentes, o convite foi para as manas que adoraram a fruta
mergulhada naquela calda açucarada.
Foi quando lembrei um episódio do anedotário da família. Éramos gurias, e
na hora da sesta dos grandes, ficávamos conversando baixinho e contendo o riso,
porque sempre o assunto era engraçado.
Numa tarde do início do verão, o pessegueiro do pátio começava a
apresentar seus frutos, uma coisa de louco de tão grandes, suculentos e
gostosos. Tinham larga fama entre a vizinhança. Soubemos mais tarde que os
garotos pulavam o muro para furtá-los. O primeiro, papai fazia questão de
apanhá-lo quase maduro e o reservava no guarda louça da cozinha até que ele
chegasse ao ponto.
Nossa mana mais gulosa não via essa hora e tinha vontade de devorá-lo inteirinho. Foi quando ela inventou essa estória
tragicômica que nos fez rir muito. O começo era igual: o pai de família que
desejava repartir o primeiro pêssego da temporada com a esposa e os filhos. Mas
a heroína da história, com seu apetite maior que o dos manos, não se conformava
de esperar o dia seguinte para só comer um pedacinho. E ficava ali olhando e
cobiçando a fruta. Seu desejo foi crescendo, crescendo e ficando insuportável.
Enquanto seus irmãos se entretinham com seus brinquedos, ela só pensava
naquilo.
Chegou a noite, e a menina gulosa não conseguia dormir. Ficava só
imaginando como seria o gostinho do pêssego. Chegou a um ponto que ela não
suportou: levantou-se e foi pé por pé até a cozinha. Abriu a porta do guarda
louça, pegou a fruta, e foi o quanto conseguiu descascá-la, porque o desejo foi
sempre aumentando. E era uma vez o primeiro pêssego daquele verão.
Satisfeito o louco desejo, a menina começou a apavorar-se. O que diria à
família? Com que cara iria enfrentá-los quando chegasse a hora da partilha? Um grande desespero tomou conta da coitada.
Pensava em fugir, mas ir prá onde?
E assim, ficou ali na cozinha, as mãos na cabeça, resolvendo o que fazer.
Quando o sol foi surgindo, as primeiras claridades invadindo as
dependências da casa, os primeiros movimentos dos familiares fazendo-se ouvir,
a menina chegou ao cúmulo da aflição.
Foi quando achou a resposta: abriu a porta da cozinha e foi para o galpão
no fundo do pátio. E ali se enforcou.
Já pensaram? Histórias como essa nos faziam rir até as lágrimas! Ah,
juventude, quem dera hoje...
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