Toda vez que entro na cidade de ônibus interurbano,
chego a dar razão à jornalista que falou mal de Caçapava. Criticou as casas
velhas, sem pintura e reparos, muitas em ruínas, e maldisse o “programa de
índio” que foi aquele fim de semana que alguém lhe sugeriu que passasse aqui. Mas
continuo reprovando sua atitude e considerando-a “persona non grata” em nossas
paragens. Só nós é que temos o direito de falar mal de certos aspectos de nossa
terra, porque, assim fazendo, sentimos
uma dor que só quem a ama pode sentir.
Se ela procurasse outros bairros, veria quanta casa
bonita, jardins, monumentos, coisas de dar orgulho à gente. Mas, não. Ela ficou
só na parte velha que para nós tem muita história e importantes recordações.
Entretanto, uma coisa é verdade, temos muitas
propriedades que ficaram sem dono, ao desamparo, e as complicações legais não
chegam a destinar-lhes os herdeiros de direito. Os processos tramitam anos e
anos sem solução. Falta sempre um documento que lhes dê amparo. Os imóveis vão
ruindo, e nada pode ser feito.
Dá uma tristeza passar pelo antigo Clube Recreativo,
uma verdadeira chaga no centro da cidade. Por pertencer a uma sociedade, cabe
aos seus sócios dar-lhes o destino. Mas eles já não existem mais. E os seus
descendentes terão o direito de decisão? Seria tão mais simples se houvesse uma
lei que o encampasse para o Município, desde que ali se construísse um prédio
público, um teatro, biblioteca, escola, o que fosse para o bem comum.
Outros casos são de edifícios que ficaram meio
construídos, e com a morte do proprietário ainda não ficou estabelecido quem
são os herdeiros. Enquanto isso, ele vai ruindo, servindo de morada de animais
indesejados, ratos, raposas...
Pensando nisso, lembrei um episódio de minha fase de
estudante em Cachoeira do Sul. Por lá chegou certa vez um sacerdote da Região
amazônica. Era um verdadeiro missionário e estava inteiramente dedicado àquele
povo ribeirinho. Numa palestra na Escola João Neves ele contou como era a vida
na região, os dias que levava de canoa de uma localidade a outra para dar
assistência religiosa. Certos lugares eram de tão difícil acesso que os fiéis
ficavam anos e anos sem a visita de um padre, e quando isso acontecia,
aproveitavam a receber todos os sacramentos de uma vez só. Numa ocasião, havia uma quantidade enorme de
casais que desejavam receber o sacramento do matrimônio. O missionário preparou
a cerimônia, deu atendimento material e espiritual aos nubentes e na hora foi
uma festa! Mas cada casal tinha os seus padrinhos que também estavam recebendo
o sacramento, e o celebrante se perdeu ao unir uns e outros. No fim, era aquela
gritaria reclamando: “Padre, o senhor me casou com a minha comadre.” Ou:
“Padre, ele é meu padrinho, o meu marido é o Tinoco.” O sacerdote pensou um pouco,
coçou a cabeça... Como consultar as autoridades eclesiásticas àquela distância?.
Mas foi só um momento, pois logo ele resolveu: mandou o acólito trazer água
benta, aspergiu os casais e casou todos de novo com os respectivos cônjuges.
Gostaria de uma solução igual para os nossos casos de
heranças perdidas que não levam a lugar nenhum.
Que possamos encontrar a água benta que desfaça os
enganos e coloque tudo a funcionar para o bem geral e o embelezamento de nossa
cidade..
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