Na minha última temporada na praia, alguém me encomendou um chapéu Panamá
que fosse dos originais. Procurei dias e dias, na beira do mar, mas os
vendedores ambulantes só tinham os “made
in China”. Foi quando descobri que os vestidos, saídas de banho e muitos
outros produtos também eram de lá. Aos poucos, fui-me informando que as
fábricas de tecidos no Brasil pertencem ao passado. Velhos tempos das fábricas
Bangu e outra de que não me lembro o nome! Eram pernambucanas, e num certo
verão foi aquela avalanche de tecidos de algodão, cada qual mais bonito e
fresquinho, que invadiram nossas lojas. Casas Pernambucanas, Casas Buri... Dava gosto percorrer as prateleiras e escolher
dentre aquelas padronagens tão variadas a que
melhor nos agradasse.
Os romances que eu lia então - de
Pearl Buck e A. J. Cronin - falando de uma China pobre e atrasada – perderam sua validade. Agora aquele país nos
supera na indústria e na economia. Talvez até na educação. Nossas produções são
outras. Quem sabe é porque fazer fios não resolve os problemas deste momento que
estamos vivendo - a era da informática.
Vieram-me lembranças de tempos idos, quando mandar fazer um vestido para
alguma data especial era um grande acontecimento. Para um baile, aniversário,
casamento ou uma viagem de férias... Escolher o tecido, os enfeites, a
costureira e o que era muito importante – o feitio. Lembro o primeiro vestido “made” por mim mesma, no primeiro ano de
minha vida profissional, de autonomia financeira, fora da casa dos pais.
Na cidadezinha onde eu lecionava foi fácil escolher a “modista”, que era
a melhor na opinião geral. O tecido, amarelo, de algodão, ondulado feito favo
de mel. Não precisava passar a ferro, uma novidade Bangu. Escolhi uma renda
para a pala, e o tom ficou um pouco mais escuro, mas tudo bem, nunca fui
perfeccionista nesses assuntos de moda. Diversas vezes, na rua, alguém me dizia
que o vestido estava ficando muito bonito. A “mídia” já funcionava... No baile
não me faltaram pares. Houve um que me achou um “doce de coco” com aquele
vestido. Não perguntei se ele gostava do doce. Com certeza.
Os enxovais das noivas daquela época levavam bom tempo para ficarem
prontos. Um ano ou dois. Lençóis e camisolas, toalhas de chá bordados com
esmero e uma gama de outros panos que já saíram de moda, como as saias de baixo
e as anáguas. As peças de algodão ou de linho, tudo ou quase tudo era buscado nas
Casas Pernambucanas. Quando chegou a minha vez – quase fiquei prá titia – já
era diferente. Surgiu o tergal que era mais prático, e não precisava de
bordados, só um enfeitezinho nas bordas e nas fronhas renda ou bordado inglês,
e pronto.
Outros vestidos contaram minha história, como o de seda rosa de um
longínquo primeiro do ano cheio de expectativas felizes. E aquele verde claro
que prenunciava a primavera que eu sempre recebia com tanta vibração e renovada
vontade de viver. Fico feliz de pensar que cumpriram sua missão.
Não tenho inveja da China. Tenho é pena dos chineses, principalmente
daquelas operárias de tecelagens ganhando tão pouco e trabalhando demais. Para
que seu país e os patrões enriqueçam com a concorrência de preços baixos no
mercado internacional. Prefiro nossa vidinha mais folgada, com tempo para
curtir o sol, as férias, os amigos. Somos alegres e livres. Um povo que sabe
acolher e viver em paz, embora nossa economia deixe a desejar. Nem tudo é
perfeito.
Lembro a expressão do vendedor nordestino quando a contragosto me decidi
pelo chapéu “made in China”:
- O importante é ser feliz.
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