Vivemos em círculos: a Terra é redonda... Decorridos tantos anos, depois
de esquecidas, as modas retornam com força.
Na última semana soube que o frivolité, o tricô circular e a palha de
trigo - trabalhos de artesanato do século passado - estão em alta em Caxias do
Sul. Graças ao trabalho de incentivo e divulgação de uma caçapavana por lá
radicada há várias décadas. Aly Chaves, reconhecida tapeceira, que já exportou
seus produtos além das fronteiras do Brasil e enfeitou muitos lares locais - é
hoje membro do Conselho Municipal de Cultura daquela cidade. Com grande
entusiasmo ela convida senhoras aposentadas, que já largaram as agulhas e
demais objetos de seu trabalho artesanal, para voltaram à ativa e exporem suas
obras em shoppings e galerias, onde estão fazendo sucesso. Em visita a nossa
cidade, ela deixou um convite para a Exposição de Artesanato de Origem Renascimento
da Técnica – Curso e Oficina - que foi até dia trinta de setembro na Galeria da
Universidade de Caxias do Sul. Sob o patrocínio da Prefeitura de lá!
O público caxiense está encantado com a exposição, e as artesãs
mostram-se bem animadas a voltar a essas atividades que já consideravam sem
valor.
Pois é, olhando um guardanapo de frivolité a gente fica pensando como é
que mãos humanas conseguem chegar àquele efeito tão encantador, mas complicado
demais para nós, leigos. Lembro a nossa última frivoliteira - a dona Euza da Costa, já falecida - com sua
almofada apropriada para o trabalho e aqueles instrumentos estranhos que pareciam
pequenas castanholas: o resultado era
sempre maravilhoso. Ninguém, que eu saiba, herdou sua técnica. Trabalhoso
demais, os tempos são outros e as atividades femininas também.
As matronas de velhas épocas faziam questão de ensinar as filhas a tecer,
bordar, ocupar-se com tarefas úteis, que serviriam para os baús de enxoval, e
assim não ficar à toa, pensando em coisa ruim... A preguiça é a mãe de todos os
males, diziam. E as meninas, sonhando com seus príncipes encantados, iam
tecendo, tecendo até eles chegarem e as levarem a novas tarefas domésticas nada
românticas. Coitadinhas!
No meu tempo de moça as mulheres já trabalhavam fora do lar. Professoras,
enfermeiras, bancárias, comerciárias e outras profissões. Assim, os trabalhos
de costura, bordados e demais enfeites ornamentais ficavam a cargo de poucas
artesãs que entendiam muito bem do assunto. A Brigilda, por exemplo, quem
melhor do que ela para confeccionar os buquês e grinaldas de noiva na cidade?
Eram verdadeiras obras de arte. Às vezes ela não dava conta das encomendas,
ainda mais que seu temperamento era instável, hoje diríamos que ela era bipolar.
Diversas vezes as noivas ficaram sem esses adereços que sempre fizeram parte do
traje nupcial, e tinham de improvisar de última hora algo parecido. Porque a
Brigilda se fechava em casa – sua fortaleza – e ficava dias e dias sem atender
ninguém. Temperamento de gênios, o que fazer?!
Hoje nossa cidade está cheia de mulheres talentosas exibindo suas
criações que encantam turistas de outras paragens. A cada dia surgem novas
técnicas de artesanato que demandam cursos e exposições. De não ficar devendo a
rendeiras nordestinas, bordadeiras cearenses nem outras.
A diferença do passado é que elas fazem por prazer e porque têm o dom. Mas,
ao contrário de suas ancestrais, esse trabalho não é para impedir que coisas
ruins ocupem os pensamentos de jovens inocentes do passado, mas para exorcizar
de sua mente de mulheres esclarecidas da atualidade as imagens de uma época de
violência, individualismo e desamor que imperam no mundo. Seu propósito é dar um toque de amor aos
lares, onde os diálogos são cada vez mais raros por falta de tempo, nesse ritmo
vertiginoso de nossos dias. São mensagens de afeto que calam fundo no coração
da gente.
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