Ainda bem, disseram os familiares. Com a notícia de que não houvera
feridos nem perda total do automóvel, todos respiraram aliviados.
Mas a vítima do roubo, quase latrocínio – pois ele estivera todo o tempo
do assalto sob a mira de um revólver – ainda não se recuperara de todo. Foram
momentos de muito medo que jamais esqueceria. E não foi só. Por pouco não
perdera o emprego que não era lá essas coisas, mas, enfim, nesses tempos de
crise foi o que conseguira até então. Mas aquela entrevista marcada para um
novo, bem mais vantajoso, não pode ser realizada. Passou da hora com toda a
confusão. Azar! Outro deve ter ocupado o lugar, havia uma considerável fila de
candidatos.
Mais problemas foram surgindo,
além de insônias, pesadelos e tratamento para os nervos. Sem o automóvel, como
poderia realizar seu trabalho atual?
A firma em que trabalhava ficava noutro município da região
metropolitana, e os horários de ônibus não lhe serviam.
A solução apontada por familiares e amigos foi alugar outro carro até que
o seguro lhe restituísse o seu, o que nunca vem inteiro, sempre fica abaixo do
que ele tinha antes. Que fazer?
Fazendo as contas no final do episódio, a pobre vítima concluiu que
estava pagando para trabalhar. Por culpa dos tais “efeitos colaterais” que na
hora da ocorrência ninguém consegue avaliar.
Na vida é assim, nada pode ser previsto exatamente. Por mais meticuloso
que seja o programador em sua agenda, fatos independentes de sua vontade vão
acontecendo, e o roteiro tem de ser modificado.
Aquela “Azulzinha”, que flagrou o juiz infrator no trânsito, quando iria
imaginar que seus próximos dias seriam tão diferentes do planejado? Os efeitos colaterais estão batendo forte na
sua rotina. O que fazer com suas contas de cada mês, mais as adicionais que
sempre surgem? Vejo por mim, até o meio do mês consigo saber o que devo pagar:
água, luz, telefone, internet... Da segunda metade para o fim do mês vêm as
surpresas; conserto de eletrodomésticos, uma torneira que pinga, o chuveiro que
queima... Nunca se sabe de onde vem o estrago, e o que a gente pensa que vai
economizar lá se vai.
No caso da Azulzinha, os efeitos colaterais ganharam dimensões de tirar
seu fôlego. Mexeram com os poderes da nação, ocuparam as redes sociais,
deflagraram calorosas discussões sobre a justiça nacional e aqueles que são os
responsáveis para que ela seja aplicada devidamente. Será que ela é cega mesmo?
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