segunda-feira, 17 de agosto de 2015

EM ESTADO DE GRAÇA



O concerto da OSPA neste último domingo deixou-nos em estado de graça, provando que somos mais do que um corpo que necessita de pão. Nosso espírito embebeu-se da beleza da música erudita sob a batuta de um exímio maestro e executada por profissionais de elite. Foi o presente de aniversário de nossa querida Matriz nos seus 200 anos de fundação – 15 de agosto de 1815.
A igreja esteve lotada, e o comportamento do público mostrou mais uma vez que somos um povo que aprecia a cultura e sabe reverenciá-la. Embalados pela valsa “O Lago dos Cisnes” ou vibrando com ritmos violentos de batalhas e tragédias passionais, os presentes corresponderam plenamente ao brilhante desempenho da Orquestra.      
A cidade viveu dias e noites inesquecíveis na comemoração da data. Uma novena que reviveu os anos de fundação e construção deste inigualável templo barroco-colonial uniu fiéis e conterrâneos na devoção à Padroeira e na rememoração do passado desta Paróquia que nos dignifica e enternece . Não é toda cidade de interior que possui uma igreja tão magnífica como a nossa. Idealizada por religiosos de vocação e construída pedra sobre pedra com os recursos precários da época, e muitas vezes interrompida por circunstâncias adversas, nossa  Matriz é hoje um  cartão postal da cidade  bastante visitado e admirado pelos forasteiros. É o ponto mais alto avistado na chegada à cidade, e ao contemplá-lo lembro sempre de agradecer por reencontrar tudo nos seus devidos lugares, e a querida Padroeira Nossa Senhora da Assunção velando por nós.
Nas noites, as homilias lembravam pessoas que foram parte da história desta igreja. Os sacerdotes, as religiosas do Colégio SS. Nome de Jesus e do Hospital. E também as devotas presentes em seus ritos, atuantes nas Associações Religiosas, que zelavam pela ornamentação dos altares, cuidando das alfaias e vestes litúrgicas...Cada presente à novena deve tê-las sentido  ali perto, recebendo “in memoriam” esta homenagem tão merecida. Foram momentos de plena comunhão, todos vivendo as mesmas emoções. No coro, músicos e cantores entoando hinos que ecoavam pelas abóbadas e inspiravam a devoção, lembraram os corais de outrora, quando tocavam órgão e algumas vezes  se ouvia um violino.
No tempo em que o padre falava do púlpito, suas mãos se apoiavam na toalha rendada e bordada com esmero, e eu ficava admirando aquela brancura,- como era bem engomada,- o trabalho que devia dar às zeladoras.
Elas partiram, hoje são anjos que velam por nós, com certeza. Mas antes da última noite da novena, tive a graça de ver outras seguidoras, igualmente dedicadas, preparando as brasas e essências para o incenso. Num trabalho humilde e ignorado, mas que dá um realce à devoção. Outras se ocupavam de colocar nos devidos lugares os objetos rituais, acender velas, pôr água nas jarras e outras tarefas. Todas se ajudando mutuamente, numa alegria contagiante de quem aguarda uma bela festa.
E os músicos partiram contentes com os aplausos, apenas algumas queixas do frio e do vento da noite bem caçapavana.
Mas disso já se queixara D. Pedro II de sua visita à Caçapava. “Não deviam ter construído aqui a cidade. Mal resguardada dos ventos.”
Mas Caçapava é uma cidade profundamente protegida. Nem enchentes, nem tufões, só as bênçãos da Padroeira a protegê-la de todos os mal

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