O concerto da OSPA neste último domingo deixou-nos em estado de graça,
provando que somos mais do que um corpo que necessita de pão. Nosso espírito
embebeu-se da beleza da música erudita sob a batuta de um exímio maestro e
executada por profissionais de elite. Foi o presente de aniversário de nossa
querida Matriz nos seus 200 anos de fundação – 15 de agosto de 1815.
A igreja esteve lotada, e o comportamento do público mostrou mais uma vez
que somos um povo que aprecia a cultura e sabe reverenciá-la. Embalados pela
valsa “O Lago dos Cisnes” ou vibrando com ritmos violentos de batalhas e tragédias
passionais, os presentes corresponderam plenamente ao brilhante desempenho da
Orquestra.
A cidade viveu dias e noites inesquecíveis na comemoração da data. Uma
novena que reviveu os anos de fundação e construção deste inigualável templo
barroco-colonial uniu fiéis e conterrâneos na devoção à Padroeira e na
rememoração do passado desta Paróquia que nos dignifica e enternece . Não é
toda cidade de interior que possui uma igreja tão magnífica como a nossa.
Idealizada por religiosos de vocação e construída pedra sobre pedra com os
recursos precários da época, e muitas vezes interrompida por circunstâncias
adversas, nossa Matriz é hoje um cartão postal da cidade bastante visitado e admirado pelos forasteiros.
É o ponto mais alto avistado na chegada à cidade, e ao contemplá-lo lembro
sempre de agradecer por reencontrar tudo nos seus devidos lugares, e a querida
Padroeira Nossa Senhora da Assunção velando por nós.
Nas noites, as homilias lembravam pessoas que foram parte da história desta
igreja. Os sacerdotes, as religiosas do Colégio SS. Nome de Jesus e do
Hospital. E também as devotas presentes em seus ritos, atuantes nas Associações
Religiosas, que zelavam pela ornamentação dos altares, cuidando das alfaias e
vestes litúrgicas...Cada presente à novena deve tê-las sentido ali perto, recebendo “in memoriam” esta
homenagem tão merecida. Foram momentos de plena comunhão, todos vivendo as
mesmas emoções. No coro, músicos e cantores entoando hinos que ecoavam pelas abóbadas
e inspiravam a devoção, lembraram os corais de outrora, quando tocavam órgão e
algumas vezes se ouvia um violino.
No tempo em que o padre falava do púlpito, suas mãos se apoiavam na
toalha rendada e bordada com esmero, e eu ficava admirando aquela brancura,-
como era bem engomada,- o trabalho que devia dar às zeladoras.
Elas partiram, hoje são anjos que velam por nós, com certeza. Mas antes
da última noite da novena, tive a graça de ver outras seguidoras, igualmente
dedicadas, preparando as brasas e essências para o incenso. Num trabalho
humilde e ignorado, mas que dá um realce à devoção. Outras se ocupavam de
colocar nos devidos lugares os objetos rituais, acender velas, pôr água nas
jarras e outras tarefas. Todas se ajudando mutuamente, numa alegria contagiante
de quem aguarda uma bela festa.
E os músicos partiram contentes com os aplausos, apenas algumas queixas
do frio e do vento da noite bem caçapavana.
Mas disso já se queixara D. Pedro II de sua visita à Caçapava. “Não
deviam ter construído aqui a cidade. Mal resguardada dos ventos.”
Mas Caçapava é uma cidade profundamente protegida. Nem
enchentes, nem tufões, só as bênçãos da Padroeira a protegê-la de todos os mal
Nenhum comentário:
Postar um comentário