Duvido que outro Estado do Brasil cultue tanto um mês como nós o fazemos
com setembro. É o mês alvissareiro de novos dias, mais claros, luminosos,
alegres, cheios de festas. Só quem vive os invernos gaúchos, o frio, noites
longas e dias que logo se acabam, pode
apreciar as mudanças que ocorrem nesta época. Acordamos mais cedo com o canto
dos pássaros, e pelas frestas das janelas podemos ver a claridade que o sol vai
espalhando. Antes de pôr os pés fora da cama, já sentimos a urgência do que nos
espera. Tanta coisa por fazer! Arejar a casa, deixar a “luz do céu entrar”,
tirar o mofo das roupas, das paredes... E sair, porque o colorido das ruas e
aquele ar morninho nos chamam para o convívio dos irmãos.
Aquelas árvores que pareciam mortas há pouco já ostentam novas folhas.
Com uma luminosidade própria, um verde transparente que só este comecinho de
Primavera consegue exibir. É a mesma translucidez que percebo no olhar puro
olhar do adolescente que espera muito da vida.
Os passarinhos parece que enlouquecem de tanta alegria. Logo aos
primeiros alvores saem dos ninhos e fazem uma enorme algazarra junto a nossas
janelas.
De vez em quando são os quero-queros que passam em bandos ruidosos em
busca de espaços mais amplos nas nossas coxilhas.
Mas ainda não se ouvem os cascos de cavalos desfilando pelas ruas. Tal
como aconteceu na Semana da Pátria, a ausência dos tambores, do bando alegre de
estudantes mostrando a pujança de nossa juventude – nossa esperança de futuro –
foi uma nota triste no cenário gaúcho.
Entretanto, temos razões para animar-nos. Nosso Estado, este coração
pulsante na pontinha sul do mapa do Brasil, é o berço de gente brava que não se
entrega diante das adversidades. Nossos campos verdejantes, vales, coxilhas –
agora recebendo o toque de arte das geadas -, o gado pastando tranquilamente,
de fazer inveja aos apressados e angustiados humanos; as culturas de grãos e
outras crescendo sem desfazer as expectativas mais otimistas; e este céu tão
azul que inspira nossos poetas e cantadores, tudo isso nos enche de orgulho e
alegria.
Por isso, aviem-se, cultores de nossas tradições. Botas e bombachas,
vestidos de prenda e saias de armação, arreios e esporas: fora já do armário! É
hora de festejar o Rio Grande, esta terra “onde tudo que se planta cresce. E o
que mais floresce é o amor.”
Quem suportou os longos anos da Guerra Farroupilha sem perder sua
dignidade e bravura, não é agora que vai entregar-se às crises do país que
parecem insuperáveis.
A alma gaúcha renasce a cada mês de setembro. E continuaremos sendo o celeiro do Brasil,
com nosso trabalho, nossos sonhos, nosso empenho
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