terça-feira, 3 de abril de 2012

CÉUS DE ABRIL


A vida humana tem muito a ver com as estações. Acho que me demorei demais tentando “sentir” a primavera, mas já era outono, e eu não percebia.
Por isso agora, quando olho este céu azul dos dias de abril, a emoção me toma de mansinho, e as recordações também. Ora me vejo acompanhada pelas antigas colegas de Ginásio, procurando a pose mais bonita para uma foto no cenário do “Chateau-d´Eau” da Praça de Matriz em Cachoeira. Ora me encontro mais longe no tempo, “lagarteando” ao sol depois do meio dia, ao saborear as primeiras laranjas do ano. Seu caldo adocicado me escorre pela manga comprida. Lembro-me ainda daquele desconforto que um pouco de água e sabão resolveriam, mas na minha preguiça de criança eu protelava.
E era sempre em abril e o céu sempre azul.
Eu me vejo, bem adiante, de livros e cadernos sob o braço a caminho da escola e de meus primeiros alunos. Os livros passando logo de mãos, pois as crianças disputavam o privilégio de carregá-los.
Contra o céu limpo, tão azul, aquela crianças nos seus tapapós bem branquinhos pareciam borboletas esvoaçantes a meu redor. Eu sorria feliz, a vida era bela como os dias de abril.
Um pouco além no tempo, são os carrinhos de meus bebês que dirijo cuidadosamente pelas calçadas, nas manhãs claras de abril. Sem o vento inquietante da primavera, perigo para seus ouvidinhos sensíveis. Sem o sol escaldante do verão. Clima ideal. Tempo de amor e de esperanças.
Mais tarde, eles mais crescidos, merendeira recheada de ovinhos de Páscoa, ou fantasiados de índios, vejo-os a caminho do Jardim da Infância, depois às primeiras letras, ao mundo da ciência e do conhecimento. Aprendendo a viver e a conviver.
A vida passa, o tempo voa. O céu de abril é o mesmo. Nós é que mudamos.
Nossas crianças de ontem estão adultos. Procurando ensinar-nos que aqueles velhos esquemas, nosso legado, não servem mais. Neste mundo de corrupção que abala até os mais idealistas. De violência que nos rouba vidas jovens, que contemplaram conosco o mesmo céu de abril. É preciso outra postura. Cercar-nos de grades nas casas, temer os estranhos, os telefonemas anônimos ameaçando sequestros. A violência.
Hoje nossos pequenos de ontem procuram novos caminhos, outras profissões. O mercado de trabalho evoluiu muito, e nossos ideais parece que não os atraem. É preciso agora produzir mais, competir, ser o melhor no seu ofício para garantir o emprego e o “status” conquistado a duras penas.
Mas os céus de abril ainda emocionam os corações enamorados que trocam juras de amor eterno, dando-nos a certeza de que alguma coisa não mudou no mundo e não mudará jamais: a ventura de amar e ser amado.

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