O forasteiro transita tranquilamente em nossa cidade. Longe dos engarrafamentos da
capital gaúcha onde mora, respira aliviado. Cedo da tarde terá cumprido suas
tarefas de representante comercial, e à noite já estará em casa, depois de enfrentar
as agruras da estrada e o não menos caótico trânsito da cidade grande.
Fica admirando a calma da manhã, transeuntes passando sem pressa, lojas e
estabelecimentos de portas abertas funcionando normalmente.
De repente, aquele susto. Veículos em disparada congestionando as ruas e
avenidas. Não dá para o pedestre atravessar assim no mais. É preciso muita
cautela.
Não só carros, automóveis, caminhonetes, caminhões nesta corrida. Há
também uma avalanche de motos - pilotadas em geral por graciosas mocinhas, balconistas,
secretárias, comerciárias... Parecem uns besourinhos coloridos zumbindo na paisagem
clara da manhã.
Por fim, as bicicletas. É a vez dos operários com suas sacolas a tiracolo
fechando aquele desfile apressado.
Eis que, assim como começou, aquele movimento barulhento teve fim. As
ruas ficaram desertas, os estabelecimentos fecharam as portas. Um que outro
transeunte carregando viandas nas calçadas. Depois, o silêncio.
Passando pelas casas em direção ao
restaurante, o forasteiro foi sentindo um cheiro bom de comida caseira. E o
apetite foi aumentando.
Saciada a fome, agora era a
curiosidade que o espicaçava. Por que aquela correria desenfreada - todos ao mesmo tempo?
- É a hora do almoço, disseram-lhe os garçons que o atenderam. Todos que
trabalham em dois turnos têm esse privilégio. Vão correndo para suas casas.
Almoçam e ainda lhes sobra um tempinho
para um cochilo.
Que inveja lhe deu! Na cidade grande, o representante comercial mal tem tempo
para um lanche quando consegue um espaço entre as andanças e atividades. E
aqui!... Ficou imaginando as famílias reunidas em torno da mesa. A toalha
estendida, os pratos servidos, a prosa. A mãe comandando. Ela é que entende do
que cada um gosta ou desgosta. Se ela também trabalha fora, então em vez de
toalha usa joguinhos americanos na mesa. É mais prático, não precisa lavar todo
o dia.
Havendo crianças em casa, é hora de levá-los à escola. Alguém se dispõe.
Com sorte, na volta, ainda lhe sobrará uns minutos para uma sestinha.
Nas cidades menores, ganha-se menos. Mas é nelas que a gente vive e sente
que está vivendo. E curtindo...
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