Percorrendo os corredores do Supermercado, aquela dona de casa, há pouco
aposentada do Serviço Público, sente prazer ao verificar nas prateleiras que
nada falta de sua listinha de compras. Diferente de outros países, onde produtos
essenciais não são encontrados nas gôndolas, devido a guerras, crises políticas
e econômicas, nós, aqui, apesar de tanto rolo, ainda encontramos o que comprar.
Por isso ela dá graças e prossegue o seu caminho. Vai lembrando outros tempos
em que era só apanhar do próprio pátio as verduras e frutas para a família.
Agora, vem tudo embalado e etiquetado de outros centros do país, encarecendo os
produtos conforme a distância e os custos de produção e do transporte. E não
esquecer a tal Bolsa de Valores!
Em dado momento a compradora se surpreende: laranjas de umbigo
importadas! Por um preço lá nas alturas. Imagine! Antes a gente apanhava do pé
e eram muito mais gostosas. Tudo muda, que fazer? Agora o remédio é adotar
outras frutas da época e menos caras.
Prosseguindo, ela chega aos hortigranjeiros e se admira do preço dos
tomates, das batatas, da cebola. Que horror! São essenciais para a comida. Como
deixar de comprá-los?
Nesse instante ela observa um homem alto, mulato, franzino, vestido com
um terno que já foi azul, agora é desbotado e fica bem folgado nele. Tem um ar
triste e abatido. Deve ser um desempregado, ela pensa. Sua cesta tem poucos
itens, e as sacolas parecem bem leves.
Em dado momento a senhora nota que o indivíduo fica trocando os produtos,
devolvendo cebola, tomate e conservando só as batatas. Mais baratas, ela pensa.
Mas como cozinhar sem cebola? Ela lembra que uma colega sua, para variar, às
vezes usava farinha de trigo e achava bom. Mas a farinha também está cara para
o pobre comprador.
Encontrando colegas e amigas pelos corredores, sua atenção foi desviada
daquele personagem. Novidades trocadas entre elas, muitos sorrisos e abraços.
Quando finalmente chegou ao caixa, notou que o desconhecido estava na
outra fila. Então, teve uma inspiração: comprou cebolas e tomates a mais,
pagou-os e quando passou pelo homem deixou cair essa compra em sua sacola. Ele
não notou e já ia saindo. Mas o empacotador interpretou a cena de modo
diferente e foi atrás do coitado. Achando-se muito esperto, arrancou os produtos
da sacola do mulato e com ar vitorioso, devolveu-os á presumida dona.
Esta nunca vai esquecer o olhar queixoso que aquele homem lhe dirigiu.
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