quinta-feira, 29 de setembro de 2016

PRECONCEITO






Percorrendo os corredores do Supermercado, aquela dona de casa, há pouco aposentada do Serviço Público, sente prazer ao verificar nas prateleiras que nada falta de sua listinha de compras. Diferente de outros países, onde produtos essenciais não são encontrados nas gôndolas, devido a guerras, crises políticas e econômicas, nós, aqui, apesar de tanto rolo, ainda encontramos o que comprar. Por isso ela dá graças e prossegue o seu caminho. Vai lembrando outros tempos em que era só apanhar do próprio pátio as verduras e frutas para a família. Agora, vem tudo embalado e etiquetado de outros centros do país, encarecendo os produtos conforme a distância e os custos de produção e do transporte. E não esquecer a tal Bolsa de Valores!
Em dado momento a compradora se surpreende: laranjas de umbigo importadas! Por um preço lá nas alturas. Imagine! Antes a gente apanhava do pé e eram muito mais gostosas. Tudo muda, que fazer? Agora o remédio é adotar outras frutas da época e menos caras.
Prosseguindo, ela chega aos hortigranjeiros e se admira do preço dos tomates, das batatas, da cebola. Que horror! São essenciais para a comida. Como deixar de comprá-los?
Nesse instante ela observa um homem alto, mulato, franzino, vestido com um terno que já foi azul, agora é desbotado e fica bem folgado nele. Tem um ar triste e abatido. Deve ser um desempregado, ela pensa. Sua cesta tem poucos itens, e as sacolas parecem bem leves.
Em dado momento a senhora nota que o indivíduo fica trocando os produtos, devolvendo cebola, tomate e conservando só as batatas. Mais baratas, ela pensa. Mas como cozinhar sem cebola? Ela lembra que uma colega sua, para variar, às vezes usava farinha de trigo e achava bom. Mas a farinha também está cara para o pobre comprador.
Encontrando colegas e amigas pelos corredores, sua atenção foi desviada daquele personagem. Novidades trocadas entre elas, muitos sorrisos e abraços.
Quando finalmente chegou ao caixa, notou que o desconhecido estava na outra fila. Então, teve uma inspiração: comprou cebolas e tomates a mais, pagou-os e quando passou pelo homem deixou cair essa compra em sua sacola. Ele não notou e já ia saindo. Mas o empacotador interpretou a cena de modo diferente e foi atrás do coitado. Achando-se muito esperto, arrancou os produtos da sacola do mulato e com ar vitorioso, devolveu-os á presumida dona.
Esta nunca vai esquecer o olhar queixoso que aquele homem lhe dirigiu.




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