Cada vez que entro na cidade pela Rua Barão, lembro o incidente da
jornalista forasteira que veio a Caçapava para aproveitar um feriado. Saiu
daqui só criticando, desde a rua de entrada, com “casas velhas, faltando
pintura...” e mais outras particularidades desagradáveis, como falta de
restaurantes e hotéis. Sei que ela ficou na lista das pessoas “não gratas”, que
jamais deveriam voltar aqui.
Aconteceu também com o famoso Carpinejar – brilhante escritor, na minha
opinião – que chegou às duas da tarde numa churrascaria e desejava um churrasco
recém saído do espeto.
Pois é, mas esses programas de
última hora, principalmente aos feriados ou fins de semana, sem planejamento,
só podem dar no que deu.
Agora, neste feriadão de 1º de maio, soube de um casal que foi a Rivera
pensando em fazer algumas comprinhas e, claro, apreciar os afamados assados de
lá. Pretendiam passar a noite e, bem descansados, realizar os seus planos no
dia seguinte. Mas, qual! Não encontraram vaga nos hotéis, nem nas pousadas. Uma
multidão de brasileiros havia pensado o mesmo que eles. E chegara primeiro.
Tiveram que pernoitar em Rosário e faltou coragem de retornar para as compras.
Nossa turminha de aposentadas que sempre vai a restaurante aos domingos,
resolveu aproveitar a visita da filha de nossa amiga Leila, vinda do Rio de
Janeiro onde reside, para dar umas escapadas da cidade. E realizar um velho
sonho de conhecer a região da 4ª Colônia. A carioca foi a nossa motorista. Um
ás no volante. Também, acostumada a dirigir no Rio, na China, onde morou por
cinco anos, nos Estados Unidos e outros lugares, foi uma condutora perfeita.
Viagem tranquila, guiada por GPS.
No trajeto, íamos pensando na boa comida da colônia que nos aguardava;
nos afamados produtos de lá, cucas, queijos, salames e outras coisinhas
deliciosas, e a fome foi aumentando.
Fomos passando por várias cidades pequenas, mas tão limpinhas e de casas
bonitas, praças aconchegantes, flores e árvores por todos os cantos. Nenhum
cachorro vira-lata nas ruas. Procuramos um restaurante que parecia bem animado.
Entramos - e as mesas todas ocupadas – pedindo uma para quatro. A mocinha
perguntou se tínhamos reservado. Então, ficamos sabendo que as reservas teriam
de ser de uma semana atrás.
Seguimos adiante, e o mesmo acontecia. Turistas bem acomodados almoçando
enchiam todos os espaços. E nós... Sem reserva não dá.
Finalmente, depois de passar por mais duas ou três cidadezinhas, vimos na
vidraça de um Posto de Combustível, as palavras tão esperadas: “Restaurante
“Bifão”. Minha mana se animou: Um “à la minuta” seria muito bem-vindo. Sentadas
à mesa, suspiramos aliviadas. Ângela, nossa motorista – era o brotinho da turma
- foi-se entender com o dono. E ele logo retornou com os pratos, dois a dois.
Eram os tais PF - para nós, o “completo” - que quer dizer: “prato feito”.
Pensei que não ia dar conta, mas qual, a fome venceu. Verdade seja dita, estava
bem gostoso.
Foi um programa de índio, mas valeu a pena. As paisagens, aqueles montes
cobertos de mata virgem, as cidades sem poluição, nem vilas miseráveis, casas
bonitas e sem grades, gente educada, um ar puro oxigenando nossos pulmões!... E
aquela atendente do Quiosque de Informações Turísticas que telefonou para
diversas padarias pedindo que nos recebessem e pudéssemos trazer as gostosas
cucas. Que pessoa amável e competente!
Finalmente, um Café Colonial onde a gente se servia à vontade, só pagando
por quilo. Assim é mais justo. Pagar o café inteiro sem consumir nem a terça
parte não dá.
Concluindo, nosso passeio deixou gratas lembranças. Conhecemos essa parte
do Estado tão autêntica em sua maneira de ser, de viver e produzir. Que se auto-sustenta
e fica satisfeita com o que contribui para as tradições gaúchas de colonização
italiana. E o prazer da companhia de pessoas que a gente ama – a nossa turminha
de domingo enriquecida com a presença da Ângela, que aprendemos a querer bem.
Foi muito bom!
Anna Zoé Cavalheiro
Nosso livro estará na Feira do Livro com desconto.
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