Acordei de um sonho tão gostoso! Estava numa festa de inauguração de
grandes obras públicas, estradas, escolas, usinas eólicas, creches... Assisti
ao desatar das fitas simbólicas pelas autoridades principais. Todo o mundo
batia palmas, feliz. Meu coração quase explodia de entusiasmo vendo a retomada
do progresso pelas reconquistas que beneficiariam ao povo de nosso amado Brasil.
Já desperta, vi na TV imagens que também me abalaram. Não de regozijo,
pelo contrário, de medo. Autoridades inaugurando com discursos – quase pedindo
desculpas – mais uma penitenciária de alta segurança no Estado. Sem fitas para desatar. E ainda mostrando, ao
lado, um pavilhão em estado precário, que seria restaurado para produzir mais
vagas, prevendo o crescimento da bandidagem. Não me lembro se houve aplausos,
mas as fisionomias dos presentes eram de constrangimento
E fiquei pensando nos hospitais públicos fechando leitos, enfermos à
espera de tratamento que não vem; escolas em estado precário e ainda saqueadas
todos os dias; caminhoneiros atolados perdendo a carga perecível e até passando
fome e sede nas estradas da zona norte, no Pará. E aqui também, no caminho que
leva ao nosso único porto de mar, à espera de verba para a duplicação que
pouparia vidas... Que belo tempo em que se lançavam novos navios ao mar - com
brindes de champanhe - para levarem nossos produtos e trazerem o seu retorno em
divisas e poder econômico!
Crianças em situação de miséria extrema, obrigadas a trabalhar, prostituir-se
ou morrer de fome. Jovens desatendidos e sem perspectivas engajando-se nas
gangues e matando outros jovens, por um celular... E os corações das mães na
incerteza da volta do filho da escola ou da faculdade...
Quem é que não vê que o Brasil precisa é de educação? Que os “donos” de
nosso dinheiro deixem de barganhar por verbas que nunca são suficientes. Educação
é nosso maior investimento. Povo educado – não apenas com informação – é povo
que respeita as pessoas, o bem público e contribui para o bem comum. Que clama
por igualdade, liberdade e respeito ao ser humano.
Estamos no fundo do poço? Mas, como dizia meu avô, daí ninguém cai. Agora
é levantar e ir à luta. Temos o exemplo da Colômbia. Medelin era a capital das
drogas e das forças rebeldes. Um terror. Pois esse país progrediu vertiginosamente.
Hoje Medelin tornou-se uma cidade de primeiro mundo, onde a gente pode andar sem
susto. Ali reina o respeito e a cordialidade. Novas obras, restaurações de
outras, o reflorescimento das artes. A educação tem atingido os melhores
índices de resultados. O povo está em estado de graça. E de paz.
Temos todas as condições para chegar a esse topo. Novas forças começam a
surgir entre nós. Gente que pensa e age fazendo o bem. E reage contra as
injustiças sociais.
O Gigante – “deitado eternamente em berço esplêndido” – começa a
despertar.
Anna
Zoé Cavalheiro
Nosso livro continua à venda em nossas residências.
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