Depois que termina o mês de outubro, o melhor
é apertar o cinto, porque a corrida até o fim do ano ultrapassa a velocidade
permitida. É tratar de fazer um pré-balanço, verificar o que foi planejado e
não chegou a ser feito e pôr mãos à obra, num esforço concentrado para que o
último dia do ano tenha menos sensações de culpa..
Porque o saldo
quase sempre é negativo. Muito se projetou, pouco ou nada se cumpriu.
Mas a vida tem
surpresas. Às vezes a gente pensa que fez grandes coisas, pois nos custaram
sacrifícios, mas que ninguém lembra. Fica parecendo que nada realizamos para
marcar nossa trajetória. E de repente somos lembrados com carinho por alguém,
devido a um gesto bem simples, como oferecer uma carona ou o lugar numa fila de
espera que não anda, em banco, supermercado, repartições... Ou até por parar o
carro num cruzamento e acenar ao pedestre que passe.
As reações são
as mais diversas. Uns desconfiam – quem sabe queremos atropelá-los - e não
aceitam o convite. Outros nem olham a nossa cara e vão em frente. Há os que
agradecem, num cumprimento de cabeça. Mas aquela senhora sessentona de cabelos
brancos que encontrei numa esquina!... Como ficou feliz com a distinção! Entre
surpresa e divertida, ela sorriu e fez um gesto maroto levantando o polegar
como a dizer: “Valeu”.
Senti que uma
corrente de simpatia passou entre nós, como se tivéssemos conversado longas
horas desfiando mutuamente as histórias ingênuas de nosso dia a dia, que no
fundo deveriam parecer-se: cuidados com a família, doenças, aniversários,
carestia da vida, receitas culinárias e segredos de economia doméstica para
encompridar o salário até o fim do mês.
Imaginei sua
casinha asseada, os guardanapos de crochê feitos por suas mãos hábeis, à frente
da televisão, depois dos trabalhos do dia. A cozinha cheirando a pão quente. Se
ela fosse minha vizinha, por certo me traria uma prova, que eu iria procurar
retribuir com algum doce, ao devolver-lhe o prato.
São coisas boas
da vida que a gente não planeja, mas acontecem, graças a Deus. É só abrir os
olhos e o coração, este coração doce de gente moradora e criada na “província” que
não desaprendeu a arte de fazer amigos.
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