quinta-feira, 15 de novembro de 2012

SIMPLESMENTE VIVER...








Depois que termina o mês de outubro, o melhor é apertar o cinto, porque a corrida até o fim do ano ultrapassa a velocidade permitida. É tratar de fazer um pré-balanço, verificar o que foi planejado e não chegou a ser feito e pôr mãos à obra, num esforço concentrado para que o último dia do ano tenha menos sensações de culpa..
Porque o saldo quase sempre é negativo. Muito se projetou, pouco ou nada se cumpriu.
Mas a vida tem surpresas. Às vezes a gente pensa que fez grandes coisas, pois nos custaram sacrifícios, mas que ninguém lembra. Fica parecendo que nada realizamos para marcar nossa trajetória. E de repente somos lembrados com carinho por alguém, devido a um gesto bem simples, como oferecer uma carona ou o lugar numa fila de espera que não anda, em banco, supermercado, repartições... Ou até por parar o carro num cruzamento e acenar ao pedestre que passe.
As reações são as mais diversas. Uns desconfiam – quem sabe queremos atropelá-los - e não aceitam o convite. Outros nem olham a nossa cara e vão em frente. Há os que agradecem, num cumprimento de cabeça. Mas aquela senhora sessentona de cabelos brancos que encontrei numa esquina!... Como ficou feliz com a distinção! Entre surpresa e divertida, ela sorriu e fez um gesto maroto levantando o polegar como a dizer: “Valeu”.
Senti que uma corrente de simpatia passou entre nós, como se tivéssemos conversado longas horas desfiando mutuamente as histórias ingênuas de nosso dia a dia, que no fundo deveriam parecer-se: cuidados com a família, doenças, aniversários, carestia da vida, receitas culinárias e segredos de economia doméstica para encompridar o salário até o fim do mês.
Imaginei sua casinha asseada, os guardanapos de crochê feitos por suas mãos hábeis, à frente da televisão, depois dos trabalhos do dia. A cozinha cheirando a pão quente. Se ela fosse minha vizinha, por certo me traria uma prova, que eu iria procurar retribuir com algum doce, ao devolver-lhe o prato.
São coisas boas da vida que a gente não planeja, mas acontecem, graças a Deus. É só abrir os olhos e o coração, este coração doce de gente moradora e criada na “província” que não desaprendeu a arte de fazer amigos.

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