sábado, 11 de fevereiro de 2012

TRÊS DIAS DE ILUSÃO





Nos três dias de carnaval (que afinal são quatro), enquanto os jovens se divertem nas concentrações de seus blocos e nos salões, de um jeito não tão do agrado dos adultos, esses ficam recordando os carnavais de outros tempos, mais românticos, na sua opinião. Quando se gastava muito em confete e serpentina, e o lança perfume era usado para chamar a atenção da foliona que passava sambando, e então seguia agradavelmente perfumada e sorridente. Era assim que muito romance começava.
A grande festa do Samba e da Irreverência tinha seu início logo depois do Natal e do Ano Novo. Aí começava a empolgação pela escolha das fantasias, e os blocos se organizavam aos pouquinhos, testando sua aceitação nos bailes pré-carnavalescos, às quartas e sábados, geralmente.
Mas o folião que desejo lembrar só começava a aparecer a partir da primeira noite da festa. Chegava discreto e elegante, lançava olhares à direita e esquerda e, por fim, “flechava” com um olhar sedutor e mais um jato de lança perfume aquela que elegeria “sua rainha”.
Desde logo, revelava-se o par perfeito, alegre, atencioso, cada vez mais apaixonado.
Na segunda noite ele já estava à espera da moça na entrada do Clube. E o romance prosseguia com todos os encantamentos imagináveis.
No dia seguinte ele ia buscá-la em casa, onde se fazia encantador com os pais da menina, que logo ficavam cativados por sua aparência de moço fino, de boa família e de muitas posses. Predicados, aliás, que nunca foram desmentidos.
Na última noite da folia, já se comentava sobre o provável noivado do par, ouvido daqui e ali, a partir da empregada da família da eleita. O amor deles podia-se perceber mesmo de longe.
Chegava a Quarta feira de Cinzas, e a jovem acordava julgando ouvir sininhos a tocar, e a família já pensava em começar o enxoval. Mas o sol ia aquecendo, o meio dia chegava, a tarde ia findando, por fim a noite... E nada do moço! Depois de imaginar mil explicações, passada a semana sem notícias, a jovem e seus pais acabavam se convencendo de que fora tudo uma ilusão. O amor só existira no carnaval.
Apesar de residir em cidade vizinha, o galã continuou não sendo visto pelos conhecidos da moça pelos próximos anos. Ele continuava “cantando”, certamente, mas em outras freguesias.
Vários anos mais tarde, a jovem estando casada com outro e feliz, eis que o moço reaparecia no carnaval e conquistava outra mocinha. Não adiantava alguém lembrar-se dos antecedentes e tentar alertar a “eleita” das noites de folia – ela ficava deveras enfeitiçada.
Quantos anos ele aplicou o mesmo golpe do cupido, não sei precisar, nem quando sumiu de vez. Deve ter ficado velho, e nossas jovens de hoje não gostam de “coroas”.
A essas alturas ele pode estar recordando saudoso a magia dos carnavais do passado, quando um romance tão promissor tinha para ele a duração de três dias de sonho. E nada mais.

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