domingo, 5 de fevereiro de 2012

Passarinhos sem Rumo



Manhã clara de outono, bem como eu gosto. No trajeto para uma reunião às oito horas (tão cedo para minha vida de aposentada), percebo movimento naquele terreno até então esquecido. Tão plano que só precisou mesmo de uma boa limpeza no capim alto já transformado em macegas. O começo de uma nova construção, pensei.
Ao dobrar a esquina, o som de uma motosserra me dá arrepios, e sentimentos funestos roubam minha paz. Olho com especial ternura aquele plátano amigo de tantos verões. Sua sombra ia além do terreno, cobrindo a calçada, e era um oásis na nossa “clareira da mata” de sol escaldante.
Voltando ao meio dia para casa, por ali passei novamente, e daquela que fora uma árvore frondosa restava apenas um monte de lenha bem aparada.
Que fazer? As perdas são tantas nesta vida que tenho de suportar mais esta. Sem lágrimas, apenas suspiros.
De tarde procurei outro caminho para o centro, evitando aquela desolação. Mas à noitinha minha volta foi a mesma de sempre, e o que vi foi uma cena comovente: bandos de pássaros sobrevoando o local da árvore tombada, à procura dos ninhos e de seus filhotes. Voavam de um lado para o outro da rua, formando nuvens sombrias que encobriam os últimos raios do por do sol. Seu desespero era visível naqueles voos sem rumo, como quem procura um endereço perdido ou retorna a casa após um bombardeio - e só encontra escombros e mortes.
Aos poucos, cansados de tanto procurar, os pássaros pousavam nos fios de luz e ali ficavam tristonhos, parecendo aves de mau agouro estendendo faixas pretas de luto pela quadra toda.
A noite chegou, estrelas brilhavam no céu, mas para eles fugira a alegria e a esperança num novo amanhecer.

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